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Paris veste Prada para reverenciar atletas olímpicas

A abertura das Olimpíadas de Paris ocorre somente nesta sexta-feira (26). Meio apagados pelas histórias recentes de racismo, o futebol da Argentina estreou e perdeu na quarta (24) para os marroquinos. O pontapé inicial da festa, no entanto, será dado nesta quinta (25) pela seleção de futebol feminino do Brasil, que joga em Bordeaux contra a Nigéria. Para desespero dos machistas e misóginos travestidos de “patriotas”, já estou imaginando as manchetes dos jornais e revistas nacionais de sexta-feira: Futebol das meninas do Brasil pintou e bordou na França. Triste para a rapaziada do fracassado escrete canarinho e ainda mais triste para os que se esquecem que a inteira aparência da mulher é de tal beleza que não nos deixa possibilidades para admirar as partes isoladas.

Como não se classificaram, os homens assistirão aos jogos pela TV, ajeitando as madeixas, as tatuagens, as pulseiras e as sapatilhas de salto alto. Representando 55% da delegação brasileira em Paris, as mulheres silenciosamente estão assumindo o comando do nosso esporte. Semanticamente, é o diabo vestindo Prada para engolir os falsos e frescos deuses da força. Ironia do destino, mas, como diriam os poetas de borracharia, assim como em uma milimétrica disputa olímpica, o coração feminino, como muitos instrumentos, depende de quem o toca. Não à toa, as atletas de saia, colan e batom surgem olimpicamente recheadas de poderes exatamente quando a maior democracia do mundo lança mão de uma mulher para devolver ao limbo um bilionário fanfarrão que adora desafios pornôs.

Criticado pela fragilidade física, Joe Biden mexeu no fundo da maleta azul do Partido Democrata e de lá tirou Kamala para derrotar o mala do Donald. Enfim, a Olimpíada de Paris e a Kamala Harris dos Estados Unidos são os fatos novos que certamente ajudarão a conspirar a favor da capitulação e da emasculação definitiva do homem sem H e que normalmente pensa com a cabeça inferior. Vida curta para os misóginos bobalhões que desonram as calças. Mandachuva da família, meu avô Aristarco Pederneira também pousou espiritualmente na capital francesa. Cacifado pelos jogos da vida, foi ele quem apagou as luzes de Paris para dar o primeiro toque de luva na saúva da viúva. Foi aí que ele descobriu a força da mulher, uma das mais lindas criações de Deus.

Também descobriu o sabor de uva no manjar dos deuses, na divindade egípcia, no porta jóias, no bibelô de uma mulher. Sabem do que estou falando? Claro que não, mentes poluídas! Não é nada do que estão imaginando. Imagina eu falar da menina das meninas! Deixemos as partes pudendas de lado. Me refiro àquilo que qualquer representante do sexo oposto cuida como se fosse algo imaculado. Hermenêutica e interpretativamente, falo da alma, do coração e do corpo feminino, que, simbolicamente, são tão prazerosos como a imagem santificada da casamata. E tem alguma coisa mais sensível, mais bela, mais sedutora e mais linda de se tocar do que a pele de uma mulher? Mesmo suada, a das desportistas tem o mesmo sabor.

Depende de como a vemos. Se olharmos para as moças como um ser divino, perfeito, de comando e, principalmente, sem erotismo barato, certamente que não. Basta que consultemos especialistas em genitálias para entendermos que a pele também produz sensações acima da média. Também não à toa, ela é o maior órgão do corpo humano, pois tem função de regulação e de imunidade, além de funcionar como protetora contra agentes externos e como controle de temperatura. E assim caminha a humanidade. E assim são as mulheres, assim são nossas atletas olímpicas. Elas são pele, alma, coração, poesia, sensibilidade e, quando querem, fêmeas.

Lembremos das sábias palavras de Carlos Drummond de Andrade, de modo a percebermos dia e noite “que os homens se distinguem pelo que fazem; as mulheres pelo que levam os homens a fazer”. É a voz da razão. Quem sabe aprendemos a impedir que o vizinho valorize nossas mulheres antes de nós. Com relação ao manjar dos deuses e a divindade egípcia, valho-me da contemporaneidade de Millôr Fernandes: “Anatomia é uma coisa que os homens também têm, mas que, nas mulheres, fica muito melhor”. E como fica. Apesar dos predicados, a mulher brasileira ainda sofre todas as formas de violência. Resta aos homens que se comportam como cães a última invenção chinesa: a guilhotina de bilaus. Meninas do Brasil varonil, vistam a amarelinha e deem show no futebol, no vôlei, na ginástica, no handebol, no tênis, no atletismo, na vela e onde mais estiverem. Paris é de vocês. Mostrem ao mundo que vocês existem para que as amemos e não para que as compreendamos.

*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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