Moda eterna
Pastilhas clássicas ganham espaço no ambiente
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emNem udo o que é velho é esquecido. Pequenos azulejos que o digam. Versáteis, modernos, elegantes e instagramáveis são características da mais nova tendência da decoração: pastilhas. Não, o material em si não é novidade. Pelo contrário. Sua criação pode ser relacionada com os mosaicos, utilizados na Grécia Antiga. No entanto, a personalização do material, com novas padronagens e utilização em diferentes superfícies, como mesas e penteadeiras, vem ganhando cada vez mais espaço na decoração. Especialmente nas redes sociais.
No Instagram, YouTube, Pinterest e TikTok, a hashtag Tiled furniture, móveis de pastilha, em tradução livre, traz vídeos, tutoriais e fotos inspiradoras de mesas, bancos e vasos com o revestimento. Além de cidadãos comuns que experimentam a peça em mais uma tentativa do Faça Você Mesmo, tão típico da quarentena, profissionais passaram a aumentar o engajamento das vendas com a tendência. Talvez uma das mais conhecidas seja a marca dinamarquesa Ikon København, que produz móveis pastilhados desde 2016.
“Estamos maravilhadas e orgulhosas com a tendência que nosso design começou. As mesas e cubos permitem várias formas de utilizá-los, em um sentido funcional. Eles também se destacam e chamam a atenção, mas ao mesmo tempo se misturam e se sincronizam com qualquer estilo”, diz Amalie Thorgaard, que junto com a irmã Sarah, comanda a empresa europeia.
O sucesso vem muito das redes sociais da dupla, que já conta com 43 mil seguidores. “A recepção pelos nossos móveis fora da Dinamarca foi surpreendentemente grande. Trabalhamos principalmente no Instagram (@ikonkbh) e é incrível como você pode alcançar todos os cantos do mundo; isso teria sido muito mais difícil e provavelmente muito mais caro antes do surgimento da rede social”, conta ela que importa suas peças inclusive para o Brasil.
Representações de móveis pastilhados datam de 1966, com a mesa Quaderna da empresa italiana Superstudio, projetada pelos arquitetos Cristiano Toraldo di Francia e Adolfo Natalini. Porém, a relíquia, durante a quarentena, virou novidade, especialmente entre os mais jovens: desde usuários comuns até blogueiros de design e arquitetura.
A explicação para isso pode vir de várias formas. Claro que o incentivo de montar objetos do zero e publicar nas redes tem peso, porém, a busca por itens personalizados é ainda maior. “O que mais chama a atenção e que as pessoas se surpreendem é que eu faço o objeto da cor que o cliente quiser – tanto as pastilhas quanto o rejunte. E isso dá um infinito de combinações, o que casa com o fato das pessoas estarem usando mais cor dentro de casa”, diz a designer de produtos Clara Lemos.
Em seu Estúdio Pituca, Clara decidiu entrar na onda. “Eu tinha visto as imagens no Pinterest e decidi fazer um móvel para mim mesma. Como eu gostei bastante do resultado, decidi publicar no Instagram. Eu não esperava que tivesse tanto interesse, mas acabou dando super certo. Hoje, minha agenda está lotada de pedidos”, conta.
Uma mesa de cabeceira com pastilhas suaves (brancas ou pretas) e o quarto ganha ares clássicos e minimalistas. Aposte em cores brilhantes, como verde ou rosa, e a aparência fica divertida e jovial. Nas redes, é possível conferir a variedade de maneiras de adicionar o objeto ao ambiente. Segundo os comentários e legendas dos vídeos, a ideia é reciclar algum móvel já usado e economizar dinheiro na compra das peças de design, as quais têm os preços na faixa dos R$ 8 mil.
“O que eu mais vejo o pessoal fazer são os cubos. Ele é mais simples, principalmente porque não envolve muito peso. Mas os maiores, como escrivaninha e penteadeira, se a pessoa não entender muito de móvel e estrutura é difícil de fazer de uma forma durável”, alerta Clara. Para ela, pela variedade e baixo preço dos materiais no exterior, as pessoas são mais incentivadas a experimentar. “Apesar de ser uma trend mundial, aqui no Brasil eu nunca vi ninguém fazendo. Por isso mesmo tem pessoas de outros estados que vêm pedir pra eu fazer”, diz ela que tem produtos que variam entre R$ 200 a R$ 600.
As pastilhas ganharam espaço na decoração brasileira a partir da década de 30, acompanhando a tendência moderna que se iniciou em 1922. Porém no início seu destino era único: pisos de banheiro. Anos mais tarde o formato hexagonal começa a ser usado. “A característica principal da pastilha é que ela é fechada igual a um vidro, então ela tem 0% de absorção. Jamais vai entrar água pelos poros dela. Por isso ela é indicada para áreas molhadas, como banheiro e cozinha”, explica Cristina Ricciardi Brisighello, diretora da empresa Cerâmica Atlas. “Geralmente a gente chama de pastilha um revestimento menor do que 5x5cm. Os 10×10, 10×20, a gente já chama de azulejo”, completa.