O mundo mudou, o tempo passou e as pessoas não são mais as mesmas. Hoje, os milionários pastores evangélicos só pensam em empobrecer o rebanho, os padres preferem os microfones das TVs aos os altares e os políticos derrotados tentam golpear a República para esconder o medo dos vencedores. Já se foi o tempo em que as moças de vida difícil ganhavam dinheiro dando duro. Faz algumas décadas, seguindo o exemplo de parlamentares de uma determinada família, elas faturam horrores somente com a raspadinha. Na ordem do dia, faturar é a palavra da moda. E pouco importa se o faturamento ordinário e extraordinário seja sempre em nome de Deus.
Mesmo à espreita, o Diabo só leva os desaforos, os descarregos e a fama de mau. É o caso do colossal e diabólico Kid Bengala, ídolo de todo homem minimalista. Nunca o vi de perto. Todavia, sei que se trata de um dos cidadãos brasileiros que mais faturam com a abertura do negócio das outras. Curiosa e maldosamente, ele é sempre comparado com uma dessas freiras que pedem donativos nos bairros de periferia. Como? Ao mesmo tempo, Kid atrai para si a maldade e a inveja quando um gaiato resolve perguntar a um desavisado qual a semelhança entre ele (Kid Bengala) e uma serva do Senhor. Embora sem palavreado chulo, a resposta remete a pensamentos bastante primitivos.
Como o horário e o espaço ainda permitem, repito a resposta: a semelhança entre Kid Bengala e uma freira é que, com uma mão só, não se pega mais do que um terço. Besteira pior ainda está para ser inventada. Voltando ao que interessa, que é a facilidade de faturar com o abundante suor do próximo, lembro a advertência do mestre Aparício Torelly, o Barão de Itararé, a batalha que não houve. Segundo o Barão, peru de fora não dá peruada. Concordo integralmente. Entretanto, o silêncio obrigatório não impede a ser humano algum de incorporar espíritos do passado para concluir que o mundo mudou, mas continua o mesmo.
A diferença é que hoje ninguém repara mais os malfeitos dos outros. Reparar, repara. O bom é que, como estão todos no mesmo barco, faltam argumentos contra a vida alheia. É aí que o pau quebra. Dos 20 homens mais endinheirados do Brasil de maioria paupérrima, pelo menos cinco são “donos” de igrejas neopentecostais. Quem ousa criticá-los é tachado de comunistas. Mais uma besteira, porque, apesar de repetido à exaustão pelos “patriotas”, comunista é um termo tão fora de moda que insistir com ele lembra um outro vocábulo sem graça e demodê: cafonice.
Mas o que falar dos pastores evangélicos se boa parte dos padres faz igual por muito menos dinheiro. Ou não! Sorrindo, chorando, orando, contando ou mentindo, todos vivem nos palcos e nos auditórios de TVs profanando a sagrada boa fé do povo brasileiro. Não me considero um autor de máximas, mas o mínimo que percebo como marechal, almirante e brigadeiro do ar-condicionado é que, por trás da ladainha de uns e de outras, resta a argumentação pastoral e sacerdotal de espantar os males da vida. Sei disso porque, havendo culto e missa, lá estarei na primeira fila.
Para evitar botar no saco o que não tenho, fujo antes da passagem da sacolinha do dízimo. Há quem acredite que reza forte levanta qualquer tipo de morto. Como eu também mudei, atualmente só acredito nas histórias de Adão. Valendo-se da ausência de testemunhas, o camarada Adão se antecipou à serpente, faturou Eva, seu fruto proibido e ainda comeu a maçã de sobremesa. Era tudo que eu queria. Digo que mudei, que estou melhor, mais sensato, cordato e cada vez mais viril. O problema é que não parei de mentir. Pelo menos os cultos e as missas me mostraram que quem não tem chifre não entra no céu. E não entra por uma razão muito simplória: Deus não consegue laçá-los.
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*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras