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Patriotas invisíveis levam o Brasil ao top-5 esportivo

A diferença entre o Brasil de uns e o Brasil de outros não se limita ao que chamamos subjetiva e perfunctoriamente de patriotismo. Aliado à falta de boas intenções e de práticas solidárias, o que verdadeiramente falta para que o Brasil seja de todos são valores convergentes, dedicação à Pátria, inclusão social, esperança mútua, respeito pelo país e pela pluralidade de seu povo e, acima de tudo, união em torno de conceitos políticos menos personalistas, mais coletivos e nada mercantilistas. A política e o esporte são hoje o que há de mais óbvio em relação ao divisionismo nacional.

Além da impositiva, espetaculosa, cabulosa e estulta polarização entre postulantes presidenciais, o desporto brasileiro é uma das caveiras de burro deliberadamente fincadas de Norte a Sul do país. Tudo bem que, junto do Carnaval, das mulatas, do café, das frutas cítricas e da soja, o futebol já foi nosso principal produto de exportação. No entanto, faz décadas não é mais. Ao que parece, pelo menos a médio prazo, dificilmente voltará a ser. Rendo agradecidos e merecidos louvores aos nossos 20 medalhistas das Olimpíadas de Paris. Sem patrocínios mínimos, a maioria é vencedora exclusivamente por seus méritos.

E o que dizer dos desportistas portadores de necessidades especiais? Também com apoios restritos, eles provaram que muitos serão chamados e poucos escolhidos. Por isso, são top-5 interna e externamente. O maior êxito do Brasil no esporte mundial foi conquistado justamente por aqueles aos quais dedicamos muito menos atenção, carinho e respeito do que eles exigem e merecem. Literalmente os escanteamos, mas, nem sempre hipocritamente, nos vangloriamos da brasilidade ao sermos informados de que voluntariosos homens e mulheres sem visão, pernas, braços e controle emocional conquistaram 89 medalhas nos Jogos Paralímpicos de Paris, entre elas 25 de ouro.

Nada que nossos patriotas invisíveis não tivessem previsto. Como guerreiros em uma arena apinhada de leões, atletas de 19 dos 27 estados brasileiros esqueceram temporariamente suas limitações e foram à luta com um único objetivo: contribuir para recuperar o desgaste da imagem esportiva, política, econômica e social do Brasil no exterior. Paramentados com cabeleiras de fogo, brincos de dentes de coruja e chuteiras cor de rosa, lilás e azul calcinha, nossos jogadores de futebol não conseguem mais cumprimentar uma bola oficial. No entanto, como enriquecem rápido, são craques na arte de esquecer onde aprenderam o que sabem.

Por razões que não se explicam, os atuais pernas de pau metidos a fenômenos esquecem da Pátria com a mesma rapidez e do mesmo modo que raramente se lembram dos vizinhos que o ajudaram a crescer. O fato é que perderam o interesse pelo Brasil. Que atire a primeira pedra quem jurar que estou errado. Por essa e outras, o resultado paralímpico despertou em mim ego mumificado e um sentimento adormecido havia alguns bons pares de anos. Salvaguardadas as gritantes e insolúveis idiossincrasias do país, as 89 medalhas me remeteram a um ditado bem antigo, mas atualíssimo.

Temos plena condição de confirmar a tese do mensageiro português Pero Vaz de Caminha que, em carta enviada em 1500 ao rei Dom Manuel de Portugal, afirmou que “Nesta terra, em se plantando, tudo dá”. E dará sempre, desde que acabemos com a desmedida palhaçada da divisão escrotal entre esquerda, direita, e extrema-direita e, principalmente, com a confusão mental que, a cada eleição, nos leva a transformar simples adversários em inimigos mortais. Assim também é no esporte, segmento em que 89 medalhas de ouro, prata e bronze valem menos do que o grito de independência dado por aqueles que só pensam no Brasil como quintal para suas exclusivas brincadeiras patrióticas. O resto que se exploda.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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