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Paulistanos se dão as mãos para preservar o pouco do verde dos seus bairros

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Felipe Resk e Paula Felix

Conhecida por suas paisagens tomadas por concreto e pelo cenário tipicamente urbano, a cidade de São Paulo também tem suas ilhas de verde. Elas são defendidas por moradores que se interessam por projetos de preservação e organizam mutirões de limpeza, cursos e atividades de aproximação com a comunidade. Os espaços estão distribuídos em diferentes pontos da capital e mobilizam dezenas de pessoas, cada um.

No Sumarezinho, zona oeste, a Praça das Corujas recebe atenção especial dos defensores do verde. O local, que é público, tem uma horta cuidada pelos moradores da região. “A gente promove ações de plantio, cursos de capacitação para a comunidade e para equipes da Prefeitura. Também ficamos atentos às políticas públicas sobre arborização e agricultura urbana”, diz a ambientalista Claudia Visoni, de 50 anos, que também é conselheira do Meio Ambiente da região de Pinheiros. “Os defensores do verde estão se articulando em coletivos independentes e estamos conseguindo somar forças.”

Entre as principais disputas “verdes” hoje está a transformação em Parque Augusta da área que fica entre as Ruas Augusta, Caio Prado e Marquês de Paranaguá. A Justiça convocou reunião de conciliação nesta segunda-feira entre ativistas, Prefeitura e construtoras. A presidente da Sociedade dos Amigos e Moradores de Cerqueira César, Célia Marcondes, relata que foi a primeira a fazer um abaixo-assinado sobre o local, em 2001. “Sempre vi aquela área como um parque. Falta só ser doada. É o último respiro de uma região onde impera o cimento.”

O artista plástico Daniel Caballero, de 44 anos, estudando a paisagem original de São Paulo, redescobriu um tipo de vegetação que antes era comum na região, mas que foi sendo destruída. Caballero resolveu começar em 2015 o “Cerrado Infinito”, iniciativa para criar um “mini-Cerrado” na Praça da Nascente, na Pompeia, zona oeste da capital. Hoje, ele produz mudas em casa e também faz incursões em terrenos baldios atrás de plantas para compor uma trilha que aumenta a cada sábado, dia dos mutirões. Cerca de 50 pessoas já participaram dos encontros, entre elas botânicos e biólogos.

O advogado Danilo Bifone formou um grupo de pessoas interessadas e coletou informações sobre a forma correta de plantar e as espécies apropriadas para o meio urbano. Formou-se o “Muda Mooca”, que promove um evento por mês: plantios coletivos, salvamento de árvores, palestras e cursos. “Já deve estar beirando umas 20 mil árvores plantadas”, afirma Bifone. Para o advogado, ver alguém cortando árvore é “frustrante”. Só no Serviço de Atendimento ao Cidadão da Prefeitura, ele já fez mais de 30 reclamações.

O sonho do presidente e fundador do Movimento Ousadia Popular, Quintino José Viana, de 71 anos, é ver a inauguração do Parque Municipal da Brasilândia, na zona norte da capital. Por enquanto, a área de mais de 300 mil metros quadrados está ocupada por cerca de 1.500 famílias que vivem de forma irregular no local. “Começamos essa luta no ano 2000. Essa área verde tem 21 minas d’água e queremos salvá-las. A região precisa de um parque e São Paulo não tem muitas áreas assim.”

A Prefeitura informou que “a ocupação irregular da área impede a imissão na posse do terreno”, mas que um plano de atendimento para remoção das famílias já foi estruturado. Viana conta que sua relação com a preservação da natureza teve início quando ele tinha 7 anos. “Eu morava na roça, perdi meu pai muito cedo e comecei a trabalhar. Senti que precisava cuidar das florestas e das águas. Eu não desisto do verde.”

estadao

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