Marcelo Lima
Adquirido na planta, no bairro da Vila Olímpia, na zona sul de São Paulo, pouco, ou quase nada, do que se vê hoje neste apartamento de 35 m² remete a seu desenho original. A não ser seu principal trunfo, apontado por seu proprietário como um dos fatores que mais o motivaram a comprar o imóvel: um generoso pé-direito de quase seis metros.
“Percebi, desde a primeira visita, que poderíamos utilizar esta condição a nosso favor. Já que a intenção do meu cliente era dispor de ambientes mais amplos e integrados, mais adequados a seu estilo de vida, por que não fazer o apartamento crescer na vertical?”, indaga a arquiteta Marina Breves, autora dos projetos de reforma e de interiores.
Um ideia que, em apenas três meses, acabou tomando forma e dotando o imóvel não só de um segundo pavimento, mas também de uma área suplementar de nada menos do que 15 m². “A reforma transformou um apartamento de 35 m² em um duplex de 50 m². Isso, mantendo parte do pé-direito livre e preservando a sensação de amplitude”, diz Marina.
Além, complementa ela, de dotar os interiores de um visual mais dinâmico e atual, na medida das expectativas de seu morador: um jovem empresário da área de entretenimento, que adora receber e conviver de maneira descontraída, mas não abre mão de conforto. Necessidades que, no entender da arquiteta, só poderiam ser plenamente supridas pela construção de um mezanino. “Com condições de comportar a área íntima da casa, incluindo uma suíte completa e um closet, uma vez que o andar térreo deveria ficar reservado à parte social: sala, cozinha integrada e lavabo.
Tomada a decisão, Marina optou por estruturar um segundo piso com vigas de aço para otimizar a construção e reduzir custos. Uma vez concluídas as obras, porém, tanto ela como seu cliente gostaram tanto do resultado que resolveram deixar a estrutura aparente. “Foi o começo de tudo”, conta ela.
O mesmo aconteceu com outra das atuais atrações da casa: a escada de acesso ao mezanino, que traz degraus de madeira, sustentados por cabos de aço. “Interessante perceber como o que foi a solução de um problema acabou ganhando destaque. E, inclusive, inspirando a decoração”, diz.
Tanto quanto as características estruturais e construtivas do apartamento, o estilo de vida de seu cliente, jovem e despojado, também acabou orientando as opções estéticas do projeto. Materiais mais rústicos, como o porcelanato amadeirado empregado no piso, ou as placas cerâmicas que revestem a parede com pé-direito duplo, além dos conduítes, disjuntores e tomadas elétricas, empregados todos aparentes, que acabaram dotando os interiores de um visual eminentemente industrial.
“Na decoração, meu maior desafio foi fugir do óbvio. Não se trata de moda. Achei que o estilo industrial tinha mesmo a ver com o projeto, ainda mais que os materiais empregados eram compatíveis com o orçamento estipulado pelo meu cliente. Mas, ainda assim, optei por uma abordagem mais suave”, assume Marina, que, para evitar excessos, procurou inserir nos ambientes materiais mais suaves e agradáveis ao toque, como o couro e a lã.
“Me agrada a ideia de trabalhar com matérias-primas quase em estado bruto, mas sempre dentro de uma perspectiva mais balanceada, menos agressiva, mais equilibrada”, comenta a arquiteta, citando como exemplo a construção da escada de acesso, onde a forte presença do aço, da base à sustentação, foi devidamente suavizada pela combinação com a madeira.
Ou ainda o uso ostensivo do cinza e do preto, cores dominantes na decoração. “Uma vez que um grande painel de vidro separa a sala da varanda, iluminação natural nunca foi um problema por lá, o que me permitiu trabalhar com tonalidades mais rebaixadas”, comenta ela.
“Ainda hoje as pessoas se surpreendem com a luminosidade intensa do apartamento, mesmo frente ao emprego de tons mais escuros, como o cinza-chumbo, se esquecendo de que elas foram devidamente balanceadas pela cor terra das paredes, pelo verde dos móveis, pela luz natural. De fato, este apartamento prova que tudo pode ser usado na decoração. É só uma questão de equilíbrio”, conclui.