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PEC da Anistia criará no Brasil o banditismo parlamentar sagrado

País do golpismo escancarado, da fuzarca política, das milícias como cogestoras de governos estaduais e do narcotráfico como comandante em chefe da vida dos moradores de comunidades, o Brasil está a um passo de se tornar a nação da patifaria constitucional e apartidária. Faz pouco mais de uma semana, deputados do Centrão, com apoio de petistas de ocasião, aprovaram uma PEC que, caso aprovada também pelo Senado, transformará o banditismo parlamentar em algo quase sagrado. Só não será porque o cidadão de bem, aquele que se enoja ao ouvir o termo política, não tolera mais a corrupção nua, crua e comandada por aqueles que deveriam combatê-la: os partidos políticos.

Corporativa, criminosa, imoral e racista, além de trágica para a imagem do Brasil, a denominada PEC da Anistia é um balaio de gatos, assinada por uma ninhada de ratazanas de pelo menos dez partidos. Embora desastrosa para a credibilidade das legendas, a aprovação da proposta na Câmara mereceu gritinhos histéricos, abraços duvidosos e certamente churrasquinhos de picanha na casa de um dos próceres da emporcalhada mistura política da Casa. É o inferno pegajoso e fedido infestado de cidadãos e cidadãos fantasiados de santos chifrudos. Tudo à custa do sofrido povo brasileiro.

Esculhambação pública com quem os elegeu, e absoluta falta de seriedade com o dinheiro do Erário, além de sacanagem explícita com a paridade étnico-racial, a escandalosa PEC atinge de morte o bom senso e a lisura do Congresso, ao mesmo tempo em que reduz o negro a filigranas nas futuras disputas eleitorais. São os falsos bedéis do Parlamento nacional. São os mesmos que, durante as campanhas, juram patriotismo, fingem trabalhar contra a corrupção e prometem se tingir de preto para combater o racismo. Só não informam a marca da tinta, tampouco a madeira usada para produzir a cara de pau com a qual se apresentam após a eleição.

O que a Câmara aprovou não é um indulto ou uma absolvição qualquer. É a ação de um grupo criminosamente corporativo, cuja intenção nada republicana é perdoar desvios criminosos de partidos políticos que se utilizam do dinheiro público para bancar interesses pessoais e, agora, para financiar infrações penais e eleitorais. Coisas de milícias quase vitalícias, bem-remuneradas e capazes de furar os olhos de quem tenta impedi-los de mais essa insanidade contra a sociedade brasileira.

Ainda que os deputados não aceitem adjetivações sobre a PEC da Anistia, semanticamente trata-se de mais uma falcatrua formalizada com aval parlamentar que, passando pelo Senado, provavelmente será barrada pelo Supremo Tribunal Federal, que nunca viu a proposição com bons olhos. Como excelências de botons na lapela não costumam ser recolhidas ao xilindró, torço para que o Poder Judiciário pelo menos consiga amenizar a sede desse povo pelo dinheiro que não lhes pertence. Não tenho bola de cristal, mas aceitar a tese corporativa como constitucional é, no mínimo, validar uma nova ameaça a direitos e garantias fundamentais do cidadão.

Por conta dessa e de outras iniciativas recentes das duas casas do Congresso Nacional, estou decidido a colaborar com a campanha de salvação do planeta, particularmente do Brasil. Por isso, após algumas lições práticas, em 2026 trabalharei ao lado dos grupos que já separam o lixo orgânico do inorgânico e do Legislativo. Fiz isso em 2022 com o Executivo. Não posso fazer com o Judiciário por uma razão ainda enraizada no poder: eles não são eleitos pelo voto popular. O fato é que pensarei um pouquinho mais antes de votar. Quem sabe eu mudo de ideia sobre a máxima de que nem todo político é corrupto, mas todo corrupto é político. Talvez quando a onda de indignação do povo afogar todos os corruptos. Embora cético, acho que esse dia está bem próximo.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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