A pesquisadora da Diretoria de Geociências do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Maria Luíza Fonseca, disse que a atividade agropecuária ocupa considerável extensão de terra no Bioma Amazônia, mas não tem expressividade no valor da produção nacional. Segundo ela a atividade está em expansão ao longo da série histórica da pesquisa Contas de Ecossistemas: Extensão por Biomas (2000-2018). O levantamento foi divulgado nesta quinta, 24.
Entre 2016 e 2017, o setor agropecuário cresceu em volume de Produto Interno Bruto (PIB) cerca de 14% e, na Região Norte, esse crescimento foi negativo.
“Sabemos que a Região Norte e o Bioma Amazônia não têm limites conscientes, contudo é o limite do sistema de contas regionais que mais se aproxima dele. Os estados do Pará, de Rondônia e Mato Grosso são exceções desse quadro e têm variações positivas, disse Maria Luíza, lembrando que Mato Grosso é um estado limítrofe entre a Amazônia e o Cerrado e divide a sua extensão territorial entre os dois biomas”.
Conforme os dados da pesquisa do IBGE, o Bioma Cerrado, o segundo do Brasil em número de alterações decorrentes do avanço de usos antrópicos compondo a frente de expansão da fronteira agrícola, é considerado um dos maiores concentradores mundiais da biodiversidade, abrigando as maiores bacias hidrográficas da América do Sul. A maior conversão nesse bioma é a expansão contínua e acelerada da agricultura, com acréscimo de 102.603 km² tanto sobre as áreas naturais quanto para a conversão de áreas de manejo em área agrícola.
Maria Luíza afirmou que o Bioma Mata Atlântica é um dos mais ameaçados do planeta e onde se concentram, no Brasil, diversos projetos socioambientais. “O destaque nesse bioma é que ele é o único terrestre em que a classe predominante não é cobertura natural. Em 2018 apenas 12,6% do seu território eram cobertos por florestas”.
Na Caatinga, considerada área suscetível à desertificação, existem muitas espécies endêmicas que só ocorrem lá, sensíveis do ponto de vista ambiental. Nesse bioma, a característica de ocupação do território é de pequenos estabelecimentos rurais e sistemas agroflorestais. A área agrícola teve aumento de 74,9%, expandindo-se sobre áreas naturais, sendo apenas 2,5% convertidos em pastagem com manejo.
No Bioma Pampa predominam os campos e, em 2018, 37,4% eram de vegetação campestre, seguida pela classe de área agrícola (36,3%), além de 19,3% da área natural descoberta do Brasil.
O Bioma Pantanal, apesar de ser em expansão territorial o menor do Brasil, está entre as maiores extensões úmidas do planeta. Segundo a pesquisadora, a predominância investigada entre 2000 e 2018 nesse bioma, é uma conversão de vegetação campestre, ou seja, o pasto nativo, em que 59,9% das alterações correspondem em pastagem por manejo. “O Pantanal tem como atividade tradicional o pasto nativo, mas ele vem sendo substituído pela pastagem por manejo, por meio da substituição por forrageiras exóticas, ou seja, gramíneas que não são originais do Pantanal”, observou.
Maria Luíza informou ainda que a pesquisa não trata das causas das mudanças, mas avalia as conversões. “Por exemplo, no Pantanal a gente observou que houve alguma substituição do pasto nativo pelo pasto com manejo. Inclusive a atividade econômica predominante, a pecuária, é mantida, mas com outras formas e outras técnicas pecuaristas. Então, a gente identifica essa mudança”.
Para a pesquisadora, existe grande parte de benefícios gerados pela natureza, chamados de serviços ambientais ou serviços ecossistêmicos, que não são capturados pelos sistemas de contas nacionais, porque não constituem um processo econômico de produção. Contudo, os serviços alimentam diversas atividades de consumo de produção e estão em função da extensão da condição do ecossistema.
“Por fim, vão gerar benefícios que fazem parte do bem-estar social e individual. O desafio dessa metodologia é conseguir identificar, mapeando os ecossistemas e os serviços. Para isso, são sugeridas algumas etapas metodológicas, que são divididas em termos físicos e análises em termos econômicos”, observou.
Maria Luíza disse ainda que a primeira etapa para cumprimento dessa metodologia é analisar a extensão dos ecossistemas, ou seja, o estoque que o capital natural tem e, no segundo momento, a condição dele para, então, serem atribuídos os valores de uso ou de não uso que os serviços ecossistêmicos representam na contabilidade.
As Contas de Ecossistemas: Extensão por Biomas (2000-2018) integram a pesquisa Contas de Ecossistemas no Brasil e fazem parte de um projeto que segue as recomendações da ONU para a inclusão das variáveis ambientais nas Contas Nacionais. A publicação retrata a extensão das áreas naturais e antropizadas do Brasil nos seis biomas do território.