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Doidices do Cabelo Fino

Pedro e Maria, flagrados na rede, acabaram casando

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Pedro Cabelo Fino apareceu no nosso sítio aqui em Campina Grande no final dos anos 1950. Quis emprego, mas meus pais disseram que não poderiam contratá-lo. O homem pediu para ficar e papai lhe mostrou o galpão próximo ao galinheiro. Ele nem pestanejou e tratou logo de arrumar a rede.

Não sei exatamente por quantos anos ficou por ali, até que sumiu no mundo. Mas, durante o tempo que morou no sítio, conheceu a futura esposa, a Maria Doida, sobrinha quase filha de mamãe. Regulada em idade com Joana, minha irmã mais velha, Maria havia dividido o peito de mamãe com ela. Sem muito juízo, a nossa prima parecia se incomodar com tudo, até criava caso com as galinhas cacarejando antes de botar. Loucuras por conta de misturas entre parentes.

Ainda menina, não entendia aquelas coisas, mas, ao lado dos meus irmãos, morria de rir das vezes em que Pedro pegava um galho e imitava um caçador de passarinho. O homem cuspia sons de tiros, enquanto Maria Doida tapava os ouvidos e corria gritando pedindo socorro. Mamãe, cheia de autoridade, mandava Pedro parar com aquilo antes que a sobrinha tivesse um treco.

Foi numa manhã que mamãe flagrou Maria e Pedro adormecidos na rede. Não sei se ela disse alguma coisa, mas não demorou para que aqueles dois se casassem diante do padre. Foi uma cerimônia breve e, algum tempo depois, o casal ganhou o mundo e nunca mais soube notícias, até que, ontem, me chegou aos ouvidos algumas histórias.

Pedro Cabelo Fino e Maria Doida tiveram quatro filhos antes de se separarem. Ele acabou se embrenhando pelos lados de Marabá, onde, parece, foi morto por questão de disputa de terras. Disseram que pouco antes vivia com outra mulher, mas não souberam dizer se Pedro deixou mais algum herdeiro no mundo.

Quanto à Maria Doida, parece que tomou juízo. Colocou a cria na escola e se casou com um professor, com quem viveu até o último suspiro. Uma das filhas, a Augusta, virou doutora e trabalha em um hospital em Recife. Quanto aos outros, não souberam informar, mas disseram que estão todos bem. Que bom saber que mamãe, ao acolher aqueles dois, contribuiu para que isso pudesse acontecer, mesmo que o querido Pedro Cabelo Fino não tenha tido um final feliz.

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

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