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Pedro Henrique adota órfão que vira amizade eterna

O cãozinho, acuado no canto, temia que aquela fosse mais uma mão que rosnasse. No entanto, daquela vez, o filhote encontrou o amor, que lhe acariciou a pelagem emaranhada. Alívio, que o fez abanar a cauda pela primeira vez desde que sua mãe lhe passava a língua para limpar seu corpo miúdo. Todavia, o desespero tomou conta daquele bebê quando viu sua mamãe encontrar as hostis rodas de um automóvel sem coração.

— Tira a mão desse cachorro, Pedro Henrique!

— Tadinho dele, mamãe.

— Que tadinho o quê! Aposto que tem até sarna!

O menino, olhos tristonhos que nem os do cãozinho, ainda tentou um último argumento, mas sem sucesso. A mulher parecia irredutível, até que, não se sabe o que a fez mudar de ideia.

— Pegue logo esse pulguento, antes que eu me arrependa.

E lá foi a criança pegar no colo aquele monte de pelos. Mal entrou no carro, Pedro Henrique percebeu que estava diante de uma tarefa muito importante. Qual nome daria para o seu novo companheiro? Tupã? Simba? Que tal Aladin? Não, esse era o nome do cachorro da dona Lúcia, a vizinha. Entretido que estava, tomou um susto quando sua mãe gritou.

— Ai!

— O que foi, mamãe?

— Acho que entrou um cisco no meu olho.

— Cisco?

— É, cisco, um troço, um treco, uma coisa.

Pedro Henrique gostou tanto daquela palavra, mesmo não entendendo direito seu significado, que batizou, ali mesmo, o seu amigo. Pois é, ficou Cisco. Aliás, Cisco Henrique Almeida de Pádua.

Nasceu uma amizade tão grande entre aqueles dois, que a mãe percebeu que havia tomado a decisão acertada. Ela achava graça do filho tentando ensinar o cachorro o que havia aprendido na escola. De tão atento que o bicho ficava, a mulher chegava a imaginar que ele estava entendendo.

Cisco, até onde se tem notícias, não aprendeu a fazer contas nem conjugar verbos. No entanto, ao longo dos anos que se seguiram, se tornou parte daquela família. Tanto é que, agora perto de completar 10 anos, gosta de se deitar na confortável almofada na sala, enquanto aguarda seu irmão humano voltar da faculdade para aprontarem algumas travessuras.

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

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