Não sei se foi amor à primeira vista. Todavia, até onde me consta, houve uma atração tão intensa entre aqueles dois desde o instante em que trocaram olhares. Ele a convidou para um sorvete, que ela desejou de abacaxi. Ele sorriu e disse que aquilo era um presságio, já que era também o seu sabor favorito. Mentiu, como depois ela acabou descobrindo que era de morango.
Após se lambuzarem de tanto sorvete de abacaxi, foram passear, quando ela parou diante de uma livraria. Parecia encantada. Ele, talvez para fazê-la ainda mais interessada, lhe disse que era escritor. Obviamente que ela não acreditou. Sorriu aquele sorriso que só os sarcásticos possuem, enquanto o puxou pelo braço para que continuassem o passeio. Algum tempo depois, surpresa, ela descobriu que ele não havia mentido.
Ela logo demonstrou que estava apaixonada. Ele, que também estava, parecia reticente, ainda mais porque era bem mais velho. De tanto insistir naquele relacionamento fadado ao fracasso pela barreira etária, ela, muito mais sábia, o convenceu de que haviam nascido um para o outro.
– Você tem consciência de que está fadada a ser viúva?
– E daí?
– E se eu morrer daqui um ano?
– Que delícia será passar um ano inteirinho ao seu lado!
Até onde sei, parece que os dois continuam se amando, já que irão completar 12 anos juntos no próximo mês. O tempo parece que os uniu ainda mais. Ela foi brindada com alguns anos, é verdade, mas ele também foi presenteado com um pouco de sapiência.