Uma das brincadeiras infantis mais antigas e mais famosas do Brasil, o pega-pega ou pique-pega está de volta. A diferença é que agora são os marmanjos sem ter o que fazer que querem se fingir de pegadores. Não sei se o termo é exatamente esse. Se for, os desequilibrados da direita são os pegadores e o “peguete” é o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Convencidos não se sabe por quem de que é oposição, a turma da bala, da bola e da bulica, associada aos crentes idólatras, reza e atira para todos os lados, mas até agora o máximo que conseguiram foi acertar o próprio pé. Na testa de Xandão, nem arranhão. Não pegaram sequer a vareta do magistrado que não arrega.
Bola da vez, Alexandre de Moraes está perdendo o resto dos cabelos de tanto medo dos pegadores ceguetas. Ele não diz, mas certamente acha o que todo o Brasil tem certeza: atirar para todos os lados é típico de quem não sabe o que quer. Do alto de minha sabedoria pai d’égua, diria que, quem atira para todo lado, uma hora atira em si mesmo. Metidos a oposição, deputados acostumados a tribunas evangélicas (apenas isso) acreditam no poder de Jesus e de Silas Malafaia para minar a força de Xandão, consequentemente as ações contra os sombrios e fantasmagóricos espectros bolsonaristas.
Para azar do gado, a robustez do touro estrelado do STF não está nos cabelos. São os mesmos pobres coitados que discursam, protestam e se manifestam em círculo. Não saem do lugar, mas parte da brava tertúlia derrotada está convicta de que, “pela primeira vez”, há uma “real possibilidade” de o impeachment de Moraes acontecer. A parte politicamente antropofágica por emoção pensa diferente. Oposição à oposição, esse grupelho considera que Alexandre de Moraes nunca esteve tão fragilizado desde que assumiu o comando do enfrentamento jurídico ao bolsonarismo.
No entanto, como ainda prezam pelo futuro de seus mandatos, a maioria dos baluartes da bondade esquizofrênica do clã do Jair avalia o período como o inferno astral de Xandão. Por isso, tentam tirar as calças pela cabeça, de modo a aproveitar o que chamam de oportunidade para enfraquecer o ministro. Apesar da fissura quase menstrual contra o careca que atingiu o mito por trás, eles não consideram a hipótese de um impeachment como algo palpável. E realmente não é. Muito mais do que uma ultrapassada brincadeira de criança, o pega-pega dos bolsonaristas esquenta e esfria na mesma proporção que o morto vivo ou estátua se encaminha para a queimada final.
O torpedeiro da batalha naval fez água e inundou a amarelinha. No cabo de guerra entre Xandão e os maledetos até o jogo da velha tem medo da pontuação da adedonha. Cabeças da campanha pela forca de Alexandre de Moraes, o senador Magno Malta, os deputados Eduardo Bolsonaro, Bia Kicis, Julia Zanata, Gustavo Gayer e Nikolas Ferreira, apoiados pelo mercador da fé Silas Malafaia, gravaram um vídeo convocando os fiéis apoiadores do absurdo e do ódio para uma panfletagem no dia 7 de setembro, na Avenida Paulista. A ordem para o teatrinho de marionetes é brincar de seguir o mestre. Qual deles? Provavelmente o que espalhou a bozofobia pelos quatro cantos do país. Eu fui infectado.
Como na parlenda Uni duni tê, salame minguê, um sorvete colorê, nenhum dos infelizes migués do conservadorismo de botequim sabe para que servirá a manifestação do próximo domingo. O que sabem é que foram convocados para, em nome de Jesus, mais uma vez encher o saco do povo feliz com palavreados vazios e desconexos. Eis o mistério da cruza entre o anjo e o demônio. Prefiro a história da gata que nasceu pobre, mas livre e longe do reconhecimento dos felinos. Para quem viveu a transição da opressão para a liberdade, nada melhor do que, na possibilidade de uma nova dança das cadeiras, passar o anel, vender as joias, esquecer o jogo da faca, deixar a batata quente nas mãos do saci em forma de mito e seguir o que o mestre mandou para evitar que o Brasil volte a ser um país de faz de conta.
*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras