Para não restar dúvida, esta história aconteceu na segunda metade de 2022, quando aquele país, cujo nome significa vermelho como brasa, afundava em verde e amarelo. E não foi por falta de tentativas daquele povo, guiado que nem gado, que se pendurava em caminhão, orava para pneu, dizia que vacina era coisa de comunista e, pasmem, acreditava que o nosso lindo planeta, a velha e boa Terra, era plana.
Juca não era desses que dão o braço a torcer, ainda mais diante da mulher, Solange. Que ele havia feito besteira ao votar no genocida, até ele sabia. No entanto, apesar de já não mais acreditar ser possível a tão propagada promessa de campanha de que todos os brasileiros de bem teriam uma arma, Juca não conseguia admitir para a esposa a burrada feita nas eleições.
Entediado que estava, Juca se levantou e, já perto da porta, foi questionado por Solange:
– Vai aonde?
– Dar uma volta.
– Vou com você. Preciso comprar algumas coisas pra casa.
Já no mercado, Juca ia empurrando o carrinho. Tentava acompanhar a mulher, que estava muito mais habituada com aquilo. Na verdade, ele nem se lembrava da última vez que havia feito compras.
– Juca, pega dois leites ali.
E lá foi o homem buscar os tais leites quando, de repente, se deparou com o preço. Arregalou os olhos e, pela primeira vez, teceu uma crítica à situação econômica do país:
– Tenho que comprar uma vaca e deixar em casa, pois do jeito que está o preço do leite, Deus me livre.