Pensando cá com meus botões. Afinal, quem manda no País?
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emÉ importante, especialmente em situações críticas como a que vivemos no Brasil, atentar mais para os fatos que para ideologias. Não que teorias não possam ser úteis, mas, para gente honesta e consciente de seus interesses, elas só se validam se forem conformes à realidade.
Ao contrário, o sistema de poder concentrador – que objetiva, sobre tudo, acumular mais poder – emprega intelectuais para criar teorias, que mistificam os povos, e, mercê do controle sobre a mídia, as transforma em “verdades”, aos olhos da maioria.
Não importa se você é de direita ou esquerda: se é brasileiro, está sendo brutalmente saqueado, salvo as infames exceções dos agentes e colaboradores da oligarquia financeira internacional.
Tampouco importa se você é militar ou civil ou, ainda, se é adepto da intervenção do Estado, ou se acredita numa quimérica livre iniciativa, praticamente inexistente onde se admitem e subsidiam cartéis.
Enrolados por doutrinas e por distorções dos fatos, os brasileiros brigam por causa de opiniões e teorias, como o império angloamericano mundial gosta, pois sempre investiu em dividir suas vítimas com antagonismos ideológicos e querelas religiosas, étnicas e outras.
É como uma cidade cujos residentes se digladiam, enquanto suas casas são ocupadas por assaltantes armados. E quanto mais se distraem nisso, mais aumenta o saqueio.
O colossal esbulho cresce e alcança novas áreas, sob um sistema político caracterizado pela corrupção sistêmica e no qual, em todas as instâncias, se verificam manifestações de acordo, ainda que implícito, com a dominação exercida pelos cartéis transnacionais e por grupos financeiros concentradores.
Demonstra ser tal sistema imprestável, não haver nele partido político algum, de expressão, que se oponha a esse estado de coisas.
O que a massa de trabalhadores, empresários, gerentes, técnicos, funcionários civis e militares não percebe – porque lhe é cuidadosamente ocultado – é que os políticos, como o gato da fábula milenar de Esopo, tiram as castanhas do fogo para a raposa, os cartéis financeiros e econômicos transnacionais.
Grande quantidade de gente indigna-se contra alguns políticos e executivos, colocados na Petrobrás, receptores de propinas de grandes empreiteiras, e reclama a privatização da estatal e/ou penas letais para essas empreiteiras.
Ressalvado que esses delitos envolvem quantias de menor monta, comparadas aos prejuízos que a corrupção sistêmica causa ao País, e mesmo a outros casos de corrupção derivada, a indignação é compreensível.
Porém, esse tipo de resposta aos escândalos da Operação Lava Jato denota visão obscurecida pela cobertura do assunto na grande mídia, sempre vinculada aos interesses antinacionais.
Há verdadeira campanha midiática em cima dessa Operação, enquanto se oculta a corrupção sistêmica e as praticadas por empresas transnacionais, grandes bancos e políticos afinados com esses concentradores.
O trabalho da grande mídia é alimentado pelo tratamento dado ao inquérito pelo juiz que o preside, abusando da delação premiada, fazendo vazamentos à mídia e mantendo presos, indevida e prolongadamente, executivos das empreiteiras, postura com a qual colaboram membros do Ministério Público.
Em vez de haver investigação isenta e eficaz, vê-se desrespeito a direitos constitucionais dos acusados, o que é o oposto da propalada sede de justiça e pode frustrar, mais adiante, a punição dos responsáveis.
O resultado é que: a) as atividades da Petrobrás e as da engenharia nacional privada são prejudicadas; b) são reforçados, na opinião pública, falsos conceitos, de há muito inculcados, de que estatais são inconvenientes e as empresas privadas nacionais são intrinsecamente corruptas, enquanto essa não seria a regra entre as estrangeiras.
Estando a maioria dos parlamentares alinhada com os financiadores de suas eleições, e a chefe do Executivo pouco resistente a pressões dos concentradores, fica claro o assalto transnacional às fabulosas reservas de petróleo descobertas pela Petrobrás, tramado em projeto-de-lei do senador J. Serra.
Esse desempenhou, no governo de FHC, papel destacado nas privatizações, quando a União entregou setores inteiros e fabulosas estatais, gastando, para isso, dinheiro público em montante muito superior às receitas dos leilões.
O jornalista Motta Araujo observou, em artigo recente, no Jornal GGN, a inexistência atual, no Brasil, de um centro de poder político, como na antiga tradição presidencialista do País.
De fato, espaços de poder, antes do presidente, vêm sendo ocupados pelo Legislativo e pelo Judiciário, e parte do Ministério Público e da Polícia Federal agem em aguda dissintonia com o Executivo.
Os países que caminharam na direção de se tornar potências, o fizeram havendo harmonia entre os poderes e preponderância de uma só autoridade, fosse o presidente nos EUA, fosse o primeiro-ministro nos regimes parlamentaristas ou, ainda, o chefe do partido único, sob os regimes centralizados da Rússia e da China, respectivamente na primeira e segunda metades do século 20.
E mais letal que o esfacelamento do poder no âmbito interno, por si só suficiente para inviabilizar o desenvolvimento, é ser o poder real exercido de fora do Brasil.
Essa situação decorre das intervenções do império dirigido pela oligarquia financeira angloamericana, através de golpes de Estado –coordenados pelos serviços secretos dos EUA, do Reino Unido e de potências coadjuvantes – e mediante corrupção e cooptação de muitos nos setores público e privado, ademais de investimentos constantes para controlar os meios de comunicação social, desinformar, arrasar a cultura e abaixar os valores éticos e a qualidade da educação.
A estratégia da dominação teve por ponto de partida o controle dos meios de produção e financeiros. O primeiro e decisivo impulso foi dado, de 1954 a 1960, quando os governos egressos do golpe de agosto de 1954 e o da eleição de JK do final de 1955 proporcionaram às empresas multinacionais (transnacionais) colossais favorecimentos para assenhorear-se dos mercados no País, desde a Instrução 113 e seguintes da SUMOC, em janeiro de 1955.
Esse processo nunca mais foi estancado, e foi acelerado durante a maioria dos mandatos, pois a regra ficou sendo adotar políticas do agrado das transnacionais, que se haviam tornado a classe dominante.
Os EUA e seus parceiros impuseram, quando quiseram, golpes de Estado, em que a intervenção militar direta funcionou como ameaça, ou recurso em caso de o resultado não ser obtido sem ela.
A subida ao poder de líderes nacionalistas e dotados de atratividade eleitoral, foi impedida através de medidas discricionárias, nos 20 anos de governos militares, e novamente sob a democracia de fachada instituída em 1988, mediante inúmeras jogadas e fraudes políticas e mediáticas em prejuízo de Brizola e Arraes e, mais tarde, do Dr. Enéas.
Não é possível ignorar a ilegitimidade das “escolhas” de Collor e FHC para presidir a República, a não ser sob a ótica bitolada dos que não percebem as colossais manipulações e abusos de poder nem os esquemas de corrupção praticados com esse fim.
Tampouco se pode entender a política dos governos encabeçados por Lula e Dilma, sem ter notícia dos acordos e conchavos destes com os mentores imperiais de seus predecessores.
Resumindo, os membros do Judiciário e do MP deslumbrados com os holofotes da mídia corrupta que agem com desenvoltura e até contra a lei, só o fazem por estarem agradando as transnacionais e a oligarquia local a elas vinculada.
Ademais, o Executivo enfraqueceu-se e perdeu apoio popular e a confiança de entidades que o apoiavam, em consequência das concessões às oligarquias mundial e local.
Desde Getúlio Vargas, faltou aos presidentes focados na realidade do País, decisão para convocar o povo às ruas e mobilizar lideranças do Exército, a fim de ganhar condições de ocupar o poder real.
Carecem, por outro lado, de base as ilusões cultivadas a respeito de líderes como Ulysses Guimarães e Tancredo Neves.
Neves derrotou Maluf, nas eleições indiretas de 1985, porque a oligarquia financeira o preferia. Tanto é assim, que sua vitória se deveu à defecção no PDS para criar a Frente Liberal, liderada por Marco Maciel, tradicional articulador em favor das oligarquias.
Haja vista o ministério legado por Tancredo: Educação: o próprio Maciel; Comunicações: Antônio Carlos Magalhães (ACM), mantendo o feudo deste, associado a Roberto Marinho; Itamaraty: Olavo Setúbal banqueiro do Itaú; no principal, Fazenda: Francisco Dornelles, defensor de políticas privatizantes e pró-capital estrangeiro.
Adriano Benayon