1
Pensou nele após comprar o aquário. Às cinco da tarde pegaria o ônibus; em dez minutos estaria em casa. Não sabia que iria encontrá-lo nem perdê-lo subitamente:
– Agora deu para criar peixinhos?
– Não. Apenas uma forma de passar o tempo.
– E o teu trabalho? Ele era o mais importante, não?
– Sempre será… Mas a gente não vive só para o trabalho.
– As crianças já sabem?
– Foram elas que pediram como presente de natal.
– Mas elas sempre detestaram esses lances…
– Já não detestam mais.
– Você tinha horror a peixes e a aquários…
– Errado: tinha horror a pescarias.
– Não entendi!
– Tipo assim: não suportava ver o peixe fisgado, preso ao anzol, se debatendo.
– Ah! Entendi! Você transferia a situação, não? Naquelas horas você era o peixe, fisgada, aprisionada, revirando os olhos. Admita pelo menos uma vez na vida!
– Chega! Não vamos recomeçar.
(Estranha essa mulher. Detestava peixes e agora compra um aquário para os meus filhos?)
– Ué? Onde, diabos, você se meteu?
2
Lembrou-se dela após pegar as pranchas de surf. Às cinco da tarde dirigiria o carro; dez minutos após estaria em casa. Não sabia que iria encontrá-la nem perdê-la subitamente:
– Agora deu para esportes radicais?
– Apenas uma jeito de manter a forma.
– Mas você nunca se preocupou com isso…
– Agora me preocupo.
– As crianças já sabem?
– Elas me indicaram a melhor prancha.
– Se eu me recordo, elas odiavam esportes e mar.
– Passaram a gostar.
– Você tinha horror por praia.
– Errado: tinha horror a tuas amizades de praia.
– Não entendi!
– Explico: não suportava aquele pessoal fumando maconha o tempo todo e se dizendo amantes da natureza, moderninhos, enquanto você apenas me ignorava.
– Ah! Saquei. Você queria ser um daqueles garotões sarados e loucos para entrar numas, potente e…
– Chega! Não vamos recomeçar.
(Estranho esse homem. Detestava praia e agora compra pranchas de surf para os meus filhos!)
– Ué? Onde, diabos, você se meteu?
3
Perderam-se um do outro logo após se encontrarem.