Sempre que pode, o poeta de porta de cadeia pergunta o que seria dos espertos se não existissem as bestas. Como não adiro a este jocoso termo, prefiro denominar os cândidos e ingênuos de incautos. São aqueles que acreditam em tudo que lhe dizem ou “vendem”. Tentam ser bons, mas negociam a alma com o Diabo quando a oferta é tentadora. O problema do sagaz e astuto é achar que pode fazer qualquer um de bobo, de otário.
A poesia ainda não escrita, mas já rascunhada, diz que o maior parvo é o sujeito que se acha esperto demais, o que faz o que bem entende, deixando seus fãs ou seguidores “presos” ou responsáveis pelos resultados imbecis de suas ações. Em primeira e última análise, é o pacóvio conhecido por malandro agulha.
Diz o ditado que essa característica está associada a uma pessoa malandra, que tira vantagem de tudo, sem pensar nas consequências e muitos menos nas pessoas que nela creem. Ainda bem que no Brasil não há ninguém com esse perfil malandreado. Será? Tem uns que adoram adjetivar e tem outros que amam endeusar. Como só acredito em um Deus, é desse que quero falar.
Tivemos um presidente eleito com o discurso da moralidade e da honestidade e com “disposição” para consertar os erros deixados pelos antecessores. Seus argumentos de campanha eram conter a roubalheira e devolver ao país a honra de ser uma nação do bem. Ficou muito aquém do discurso.
Dizia, principalmente, que seu opositor maior era o protótipo do capeta na terra e o mestre vivo de Ali Bá Bá. Foi pego na mentira antes mesmo que contivesse seus 40 golpistas. Deliberadamente se apropriou do célebre ditado que parece ter sido cunhado para seu número e medida: “Louco é o mentiroso que mente para si mesmo e acredita na própria mentira”.
Eleito, disse que seria o que nunca poderia ter sido. E não foi por pura falta de sabedoria. De nada sabia e de nada queria saber. Como ele mesmo dizia, era o zero zero da estultice incubada. Aliás, mentir era sua maior esperteza. Tanto isso é verdade que, desde a posse como mandatário, se convenceu pelos pensamentos que é honesto porque não tem vergonha de contar como verdade uma vergonhosa lorota.
Foram tantas que sua Inteligência Artificial decidiu se recolher antes que pudessem formatá-la como cérebro abestalhado, aparvalhado. A ordem dos adjetivos não altera a qualidade do cidadão, para o qual ingenuidade é realmente o sinônimo mais próximo da estupidez. A última do malandro agulha foi a terceira depois da reunião convocada para passar a boiada.
Na primeira, ele culpou o anjinho barroco general Heleno pela costura do golpe que não veio. Golpista convicto e inveterado, a segunda foi convocar uma manifestação em defesa do Estado Democrático de Direito. Tudo isso em uma semana em que seus devotados baba ovos ficaram perdidos enquanto fervia a frigideira da Polícia Federal.
Mais grave, a terceira farofada deve ter desagradado até o mais fiel de seus fundamentalistas. À PF, o rei da mentira disse que os R$ 800 mil enviados para os Estados Unidos em 27 de dezembro de 2022 serviriam para custear suas férias e dos familiares em Orlando, para onde seguiu no dia 30 do mesmo mês, ou seja, dias antes da frustrada tentativa de golpe.
Fugir com esse monte de dinheiro enquanto os bobalhões batizados de “patriotas” tomavam no lombo não é uma mentirinha qualquer, tampouco um motivo que não deve ser avaliado como golpista em potencial. A Polícia Federal quer saber – e vai saber – a origem desses recursos. Seriam provenientes da venda de jóias doadas por governos árabes ao governo do Brasil e macetadas por ele? É o que estão investigando.
Também derrapou na curva a ideia de criar um álibi para o 8 de janeiro, cujas invasões e depredações ele sabia desde que perdeu a eleição. Perdeu, mas ainda não se convenceu. O que disse, o que diz e o que dirá a seu rebanho pode ser um primor de sabedoria para os incautos. No entanto, é uma descabida ofensa à mínima inteligência dos que o avaliam como o pior e mais mentiroso presidente que o Brasil já teve. É pouco para o muito que ele aprontou contra a pátria amada.
Acho que, numa hipótese murista, será suficiente para, nas próximas eleições, alertar os eleitores duvidosos, os que se cansaram do título de vaca de presépio, que o mugido do gado é o prenúncio de que o preço que a humildade cobra não tem malandragem que pague. Em tempo, o “ladrão” está governando – e bem – para todos os brasileiros. Malandro é o cão que não ladra para morder o esperto.
*Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras