Pernambuco chora lágrimas de dor em dia de sol forte a morte de Vilaça

O Recife despertou nesta manhã banhado por um sol implacável, como se a própria cidade não quisesse dar espaço à tristeza. Mas foi em vão. As esquinas do velho centro, as ladeiras de Olinda e os casarios de Goiana e Nazaré da Mata sentiram o peso da ausência, e Pernambuco inteiro se banhou em lágrimas com a notícia: Marcos Vilaça, meu querido conterrâneo, partiu.

Homem de letras e gestos largos, de memória prodigiosa e afeto generoso, Vilaça foi desses raros seres que sintetizam uma terra. Era a própria voz de Pernambuco, sua alma erudita e popular, erguendo-se sobre os séculos como um farol. Acadêmico, professor, jurista, poeta de coração e cronista de vocação, carregava a cultura como quem carrega um estandarte, com orgulho e sem cansaço.

Não cabia em um só título, em uma só prateleira, em um único ofício. Foi presidente da Academia Brasileira de Letras, conselheiro da República, guardião da história, mestre de incontáveis discípulos. Mas, acima de tudo, foi um homem de conversa mansa e ideias afiadas, dessas que cortam o tempo e se inscrevem na eternidade.

Nesta manhã, o Recife ressoava vazio, como se os livros de sua biblioteca tivessem se fechado de luto. Os sinos dobraram surdos, sem que fosse preciso que alguém os puxasse. O mar de Olinda se fez opaco. As águas do Capibaribe seguiram seu curso, mas sem o mesmo brilho. O próprio sol, ainda que forte, parecia menos quente.

A dor de sua ausência é, paradoxalmente, a prova de sua presença. Marcos Vilaça partiu, mas sua voz permanece nos livros, nos discursos, nas lembranças de cada amigo, de cada aluno, de cada conterrâneo que, ao ouvi-lo, sentia Pernambuco inteiro falar. E enquanto houver alguém para contar sua história, Vilaça jamais será ausência. Será sempre palavra, será sempre memória, será sempre parte indissociável da alma do Brasil.

……………………………………

Marta Nobre é Editora Executiva de Notibras