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Pesquisa expõe 800 casos de assédio sexual no Banco Mundial

Foto: Philip Scott Andrews

Pesquisa realizada com funcionários do Banco Mundial, um dos pilares do sistema internacional de organismos multilaterais, mostrou que 1 de cada 4 mulheres que responderam à enquete afirma ter sofrido assédio sexual na instituição.

O resultado —com cerca de 800 pessoas relatando episódios— foi obtido entre 5.056 colaboradores do banco, onde trabalham 24 mil pessoas e que financia projetos de desenvolvimento em diversos países.

Realizada na esteira do movimento #MeToo, que provocou a explosão de denúncias de assédio sexual nos Estados Unidos, a pesquisa foi conduzida em março deste ano.

Boa parte dos casos relatados no levantamento ocorreu em escritórios da própria instituição, tanto no edifício principal em Washington quanto nos escritórios em outros países.

A grande maioria (82%) dos assédios foi praticada por funcionários do grupo, e uma minoria, por clientes (11%) ou prestadores de serviço (4%).

A prática foi relatada por mulheres com todos os tipos de contrato, mas a maior porcentagem está entre as respondentes que não quiseram identificar seu vínculo empregatício —o que, para os responsáveis pela pesquisa, indica serem funcionárias temporárias, que temem retaliação.

Homens que responderam à enquete também relataram casos de assédio, mas numa proporção menor: 4%. Por outro lado, 10% disseram ter testemunhado episódios que envolveram outras pessoas.

O levantamento foi elaborado pela Associação de Funcionários do Banco Mundial, mas teve o apoio da cúpula da instituição, que incentivou os colaboradores a responderem e divulgou seus resultados.

A enquete foi respondida espontaneamente pelos funcionários e não representa uma amostra proporcional da realidade da entidade. Parte deles afirmou, em comentários ao final da pesquisa, que considera a instituição um bom lugar para trabalhar, e 84% discordavam da afirmação de que seus superiores toleram assédio sexual.

Mas o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, disse em comunicado que ficou “desapontado” com o cenário que emergiu do levantamento.

“Serei claro: qualquer tipo de assédio sexual no Banco Mundial é completamente inaceitável”, escreveu. “Essa é uma prioridade crítica para todo o grupo. Precisamos, e iremos, resolver isso.”

Na pesquisa, 82% dos respondentes afirmaram que não denunciavam por temer retaliação, não confiar no sistema de denúncias ou não crer que isso mudaria as coisas.

Entre os que denunciaram, metade estava insatisfeita com o resultado, e quase um quinto afirmou ter sofrido retaliações —frequentemente mencionadas por funcionários temporários.

Cerca de 25% das vítimas de assédio afirmaram sentir medo e insegurança no trabalho após o episódio, e a mesma parcela considerou se demitir.

Houve quem comentasse, ao final da pesquisa, que o assédio sexual não era um problema real e que a instituição deveria centrar esforços em outros temas, como fazer as mulheres se vestirem de forma “apropriada”. Mas foi “uma minoria minúscula”, segundo os responsáveis pela enquete.

Em paralelo à pesquisa, o Banco Mundial reviu suas diretrizes para lidar com o problema. Uma auditoria externa está sendo conduzida no departamento que recebe denúncias de assédio, e estas passaram a ser priorizadas.

O código de conduta da instituição também foi atualizado, e um treinamento obrigatório foi criado para conscientizar colaboradores sobre o que caracteriza assédio sexual e de que forma ele pode ser prevenido e denunciado.

Neste ano, o número de casos de assédio relatados na instituição triplicou, de 11 para 33 —algo que o banco interpreta como resultado da maior receptividade às denúncias.

“É algo muito positivo”, disse Daniel Sellen, presidente da associação de funcionários. “Sem dúvida, a pesquisa e o diálogo institucional provocaram essa mudança.”

Em nota, a instituição afirmou que tem um robusto sistema para tratar do problema e que está comprometida a melhorá-lo. Nesta sexta (13), funcionários do banco se reúnem na sede, em Washington, para debater o problema.

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