A pouco mais de uma semana do segundo turno presidencial e após um buzilhão de eleições com consultas populares, o imperador do Congresso Arthur Lira (PP-AL) decidiu desengavetar projetos que criminalizam os institutos de pesquisas de intenção de votos. Por que motivo exatamente agora que o mito de barro, parceiro de primeiro grau do ex-todo poderoso das Alagoas, não consegue decolar? Os números apurados nas consultas de intenção de votos estão incomodando? Os culpados pela dianteira de Luiz Inácio não são os institutos, mas o próprio Jair Messias, que erra até quando está dormindo. Acima de qualquer razoabilidade, a proposta do deputado Ricardo Barros (PP-PR), um dos principais parças do deputado alagoano, é, no mínimo, estapafúrdia. Com a intenção de punir quem publicar, nos 15 dias que antecedem as eleições, pesquisas eleitorais com dados divergentes dos resultados das urnas, o projeto mostra o temor dos governistas com uma eventual vitória de Lula, consequentemente com a divisão de poder.
Eles agora reinam de forma absolutista. E reinarão ainda mais caso Bolsonaro permaneça à frente do palco que eles mesmos adornaram, iluminaram e pintaram com as cores do ódio, do rancor e da indivisibilidade. O detalhe da punição com pena de até dez anos estar atrelado à margem de erro declarada não tira o despropósito do projeto. É um desatino pra lá de bizarro, esquisito e estrambólico querer penalizar um ser humano (ou vários) incapaz de prever o futuro. Não é o que tentam os pesquisadores. As pesquisas são estatísticas e, assim como as previsões meteorológicas, são suscetíveis a falhas. Do mesmo jeito que São Pedro nem sempre está de bom humor, os consultados, por razões que eles próprios desconhecem, podem perfeitamente dizer que votam no Macaco Tião, mas preferem o Rinoceronte Cacareco ou o Bode Ioiô.
Para quem não se lembra, em 1959 Cacareco inaugurou o conceito de voto de protesto, justamente aquele que não é alcançado pelas pesquisas. Rinoceronte “emprestado” pelo zoológico do Rio de Janeiro ao de São Paulo, Cacareco caiu na simpatia dos paulistanos e acabou eleito “vereador” com 100 mil votos, mais do que todos os candidatos do partido mais votado para a Câmara Municipal de São Paulo. Em 1988 foi a vez dos cariocas. Lançado candidato à Prefeitura do Rio pela turma da revista humorística Casseta Popular, com apoio do então deputado Fernando Gabeira, o Macaco Tião tornou-se celebridade na cidade. Ele recebeu 400 mil votos, conquistando a terceira colocação no resultado final. Tal performance levou o animal ao Guinness World Records como o chimpanzé a receber mais votos no mundo. Mais uma vez as pesquisas tomaram bola nas costas. E ninguém pensou em punir os institutos. erraram feio. O resumo da ópera é que, para os que não sabem perder, o mais fácil é atingir os objetivos de modo escuso. Nesses últimos três anos e 10 meses, só ganharam. Por isso, esqueceram que perder faz parte do jogo.
Se alguém tem de ser punido pelos números desfavoráveis são as cabeças pensantes do governo Bolsonaro (as eminências pardas), que não previram a tempo a possibilidade de retorno de Lula da Silva ao cenário político. Agora, a Inês está morta. Não deram bola para o Macaco Tião e correm o risco de retorno imediato à jaula. Os dados desta quarta-feira (19) indicam 49% para Lula e 45% para Bolsonaro. A diferença parece pequena, mas não é. Aguardemos as urnas. Por enquanto, criminalizar pesquisas é pura fantasia. É jogar para os seguidores do bolsonarismo, apavorados com o iminente risco da derrota. Resumindo ainda mais, as fantasias do eleitorado que mente por vergonha de assumir publicamente um voto que pode mudar ou não o país acabam sendo tabuladas como lorotas. Como não conseguem varrer para debaixo do tapete as cacas do governo, o caminho mais curto para evitar que as porcarias vazem e atinjam o candidato da mesmice é censurar as pesquisas. Elas incomodam porque são o demonstrativo de que o governante é bom só até a página 2.
A proposta de Ricardo Barros e as similares confirmam claramente os pendores autoritários dos que se acham donos eternos do poder. Não importa de onde venham, as últimas pesquisas de intenção de votos são cristalinas. Os números são a prova cabal de que a maioria dos 156 milhões de eleitores quer mudança, quer mudar o poder de mãos. Como ainda não foi votado, nada impede que os deputados que fecham com a tirania defendida por Jair Messias também queiram prender os brasileiros que optarem por Luiz Inácio no dia 30 de outubro. Curiosamente, são os mesmos cidadãos que colocam Deus acima de tudo e de todos. Não o vejo, mas imagino Deus ruborizado de vergonha com as asneiras que dizem e produzem em seu santo nome. Mais do que tentar punir estatísticos, os devotos do mito deveriam sugerir auto consultas psiquiátricas. Talvez estes profissionais sejam o caminho para eles aprenderem que aquele que não sabe perder jamais será um vencedor.