Casos Boulos e Rosário
Pesquisas de profundidade influenciam na escolha dos candidatos
Publicado
emCada voto representa um conjunto de valores, sentimentos e percepções que precisam ser bem compreendidos pelos partidos. É nesse contexto que as pesquisas qualitativas de profundidade se tornam essenciais, revelando o que realmente ressoa no eleitorado, além do que números e estatísticas conseguem captar.
Guilherme Boulos é um exemplo que ilustra bem essa necessidade. Embora tenha ampliado suas pautas e suavizado o discurso, ele ainda carrega fortemente a imagem do “invasor” e do líder dos movimentos de ocupação. Para muitos eleitores, essa imagem remete a insegurança, o que cria resistência em parte da população.
Esse fenômeno é explicado pela teoria da Consistência Cognitiva de Léon Festinger, segundo a qual as pessoas tendem a manter suas crenças e atitudes estáveis ao longo do tempo, evitando o desconforto causado pela mudança de uma opinião firmemente estabelecida. No caso de Boulos, essa teoria ajuda a entender por que, mesmo com uma abordagem mais moderada, ele ainda enfrenta dificuldades para quebrar as percepções iniciais.
Já Maria do Rosário, com sua postura firme e discurso inabalável, atrai um grupo específico de eleitores, mas acaba afastando aqueles que buscam um perfil mais conciliador. Esse fenômeno é um exemplo da Ancoragem, descrita por Kahneman e Tversky, segundo a qual as primeiras impressões moldam as percepções posteriores. No caso dela, as posições mais polarizadas solidificam uma imagem que dificilmente será alterada aos olhos de quem a vê como inflexível.
Outro ponto essencial é o ajuste de tom nas campanhas, já que a retórica radical que deu força em 2018 começa a ceder lugar a discursos mais moderados. Um exemplo disso é o ex-presidente Bolsonaro, que mantém sua essência, mas adapta seu tom para refletir um público em transformação. Esse ajuste é natural para lideranças de diferentes posições e reflete o constante movimento do sentimento social. Com as pesquisas qualitativas de profundidade, os partidos conseguem captar essas nuances, permitindo que evitem insistir em imagens que já não dialogam mais com o eleitor.
Assim, a escolha de candidatos majoritários exige uma leitura cuidadosa da percepção popular. Ao ignorar isso, os partidos correm o risco de se desconectar de sua base, insistindo em figuras que já perderam conexão com o público. As pesquisas qualitativas ajudam a compreender o que realmente importa para o eleitorado, promovendo um diálogo genuíno e aumentando as chances de engajamento nas campanhas.
Referências Bibliográficas
Festinger, L. (1957). A Theory of Cognitive Dissonance. Stanford University Press.
Tversky, A., & Kahneman, D. (1974). “Judgment under Uncertainty: Heuristics and Biases.” Science, 185(4157), 1124–1131.