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De volta ao pó

Pesquisas provam desabamento do castelo de areia do mito

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior - Foto Reprodução das Redes Sociais

Está escrito na Bíblia que do pó viemos ao pó voltaremos. Impossível fugir disso. O que nós, mortais, gostamos de pedir é um pouquinho mais de tempo por aqui. Como diz o livro sagrado, depende do merecimento. Portanto, vida longa somente para os reis predestinados ou com algum propósito. Faz parte da vida física a punição para os falsos profetas, principalmente para os que usam o poder em benefício próprio. Um dia a casa cai. Erguido sobre os escombros de um governo que se perdeu pelo caminho, o castelo de areia do Jair desmoronou sozinho. Não houve necessidade de esforço extra de ninguém com um mínimo de força. Foram tantas as tormentas e ameaças, tantos os desatinos e as mágoas que o que era insosso e sem nexo acabou como o paraíso prometido pelas lideranças fundamentalistas: nada vezes nada.

Na verdade, a personagem em questão lembra a figura de Mefisto, criação de Stan Lee e John Busdema. Considerado Senhor do Ódio, ele corrompe e manipula almas aparentemente puras, mas termina derrotado pelos heróis do bem. Ainda não temos certeza absoluta de quem é essa figura “salvadora”. O que sabemos está na matemática das pesquisas. Na primeira consulta após a filiação do ex-juiz Sérgio Moro ao Podemos, o ex-presidente Luiz Inácio continua liderando com folga as intenções de voto na corrida para o Palácio do Planalto em 2022. São 48%, contra 21% de Jair Messias e 6% de Moro. Conforme os dados, o atual mandatário perdeu mais da metade dos eleitores de 2018.

E o encolhimento foi maior nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Isso quer dizer que pode melar o sonho dourado de vários políticos alinhados. Desde a divulgação do último levantamento, diversas sumidades da Praça dos Três Poderes e da Esplanada dos Ministérios estão com as barbas de molho, a começar pelo próprio presidente, que, caso não se movimente rumo a outra função, corre o risco de ficar sem mandato, consequentemente sem imunidade. Na mesma situação estão os ministros João Roma (Turismo), Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) e Flávia Arruda (Secretaria de Governo), candidatíssimos aos governos da Bahia, de São Paulo e do Distrito Federal, e o deputado Major Vitor Hugo (PSL), postulante ao governo de Goiás.

Embora políticos com cacifes ainda por brotar, eles têm consciência de que podem ficar fora do processo caso o barco presidencial afunde antes de chegar ao cais. Parece piada, mas as conversas informais entre eleitores revelam uma similaridade grotesca entre um goleiro e Jair Messias. Diz a lenda que onde o guarda-metas pisa nunca mais nasce grama. O mesmo ocorre com os votos do mito. Eles derretem sempre que há uma movimentação pública do presidente. A única diferença é que o arqueiro utiliza o número 1 às costas, enquanto o chefe do Executivo federal foi eleito com o numeral 17. Tenho recebido algumas análises comparando o governo Bolsonaro a uma montanha russa. Discordo da tese, na medida em que a montanha russa tem duas partes distintas: uma que sobe e outra que desce.

Em se tratando da administração do mito, o que sobe são os preços e a inflação. O prestígio e a credibilidade estão próximos do sapato. O resto é a compulsão pela mentira e pelo desvirtuamento dos fatos. Por isso, a eloquência dos números, E, pelo visto, assim será até o último dia de governo. Improvável que o líder deixe de falar preferencialmente para seus devotados seguidores. Isso poderia representar a perda da outra metade dos votos que ainda lhe restam. Tudo bem que boa parte das modernidades políticas apresentadas como salvadoras da pátria seja tão velhas como o país. Pelo menos não pregam aquele idioma torto do golpe. Podem não ser tão originais, mas certamente serão muito mais novidade do que a curiosidade gerada pelo mito em 2018. Aliás, de originalidade apenas as fake news. E elas não assustam mais ninguém.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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