A Petrobras sempre foi um osso entalado na garganta dos capitais estrangeiros que desejam se locupletar, explorando as riquezas brasileiras. E não é de hoje, nem mesmo de ontem. Apenas acabou o pouco pudor existente na sociedade, com o domínio da banca, do capital financeiro apátrida, que inclui o das drogas, dos contrabandos e outros crimes, no poder nacional e, mesmo, no poder do mundo ocidental, o Atlântico Norte, a partir de 1990.
Os exemplos estão por toda parte. Na crítica situação da energia na Alemanha, com os apagões constantes e o processo de desindustrialização. Nas manifestações crescentes e por toda França, desde o surgimento dos coletes amarelos (gilets jaunes), em novembro de 2018, e que toma as ruas de Lille a Nîmes, do norte ao sul, contra o desemprego, a ausência do Estado no transporte, na saúde, e na educação. Também as crises que fazem desabar as economias no Reino Unido, nos Países Baixos, na Bélgica, o que se dirá então nos mais pobres Portugal, Espanha e Grécia!
Antes mesmo de existir, a Petrobras já era combatida. Recordemos apenas dois fatos. Primeiro, a campanha do “Petróleo É Nosso”, iniciada no Clube Militar, na gestão do General Horta Barbosa, 1936 a 1937, e, o segundo, a manifestação na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), em abril de 1948, com a presença, na mesa diretora do evento, dos generais Raimundo Sampaio, Leitão de Carvalho e Horta Barbosa, que terminou em pancadaria, provocada pela Polícia Especial de Gaspar Dutra, defensivamente revidada pela Polícia do Exército.
Do lado oposto, à época, estavam a Standard Oil Company, de John D. Rockefeller, e seus serviçais e asseclas no Brasil. Hoje é todo o sistema das finanças apátridas que nos dirige.
Com a denominada “redemocratização” e todos os governos que se seguiram, de Fernando Collor a Jair Bolsonaro, a Petrobras foi sempre prejudicada e forçada a se desviar de sua maior e mais importante missão: levar a energia e todos os derivados de petróleo a qualquer ponto do território brasileiro ao menor preço possível.
Uma farsa, construída pelos capitais financeiros desde o início do século XX, quando foram derrotados na I Grande Guerra (28 de julho de 1914 – 11 de novembro de 1918) e, ampliada enormemente, com a presença de Organizações Não Governamentais (ONGs), após a nova derrota, na II Grande Guerra (1 de setembro de 1939 – 2 de setembro de 1945), foi da imputação aos combustíveis fósseis, em especial ao petróleo, de responsáveis pelas emissões de gases do efeito estufa, das alterações climáticas e de fenômenos geológicos e atmosféricos globais, nefastos à vida e à sobrevivência humana.
Com isso passou-se a desenvolver um sistema gerador de energia, verdadeiro retrocesso na evolução ocorrida na segunda metade do século XX, que o gênio brasileiro Darcy Ribeiro denominou de sociedade termonuclear: a energia limpa, não poluente, a “energia verde”, onde são ocultados todos os males e inventadas inexistentes vantagens.
Energia verde
Mesmo para um profissional que precisa se resguardar, para manter seus clientes como conhecedor das sutilezas da geração de energia, como Adriano Pires, presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), em entrevista ao InvestNews, declara a respeito de associação entre a Weg S.A. (empresa catarinense, das maiores fabricantes de equipamentos elétricos do mundo) e a Petrobras: “O negócio parece ser muito bom para Weg e não tão bom para Petrobrás. Porque o core business da Petrobrás a gente sabe muito bem que é explorar óleo, petróleo e gás natural”.
O “negócio” foi divulgado pela Petrobras com a seguinte nota: “Este projeto representa um marco importante para a Petrobras, pois aumentará seu conhecimento em tecnologia de energia eólica, além de contribuir para impulsionar a transição energética no Brasil, em parceria com uma empresa que se destaca em inovação pelo desenvolvimento de soluções em eficiência energética, energias renováveis e mobilidade elétrica. A WEG prevê que a produção em série deste equipamento será realizada a partir de 2025.
A Petrobras investirá, aproximadamente, R$ 130 milhões no projeto, que já está em andamento pela WEG. O acordo abrange o desenvolvimento de tecnologias para a produção dos componentes do aerogerador, adequados às condições eólicas brasileiras, bem como a construção e testes de um protótipo, com contrapartidas técnicas e comerciais para a Petrobras. O aporte da Petrobras será feito em 25 meses contados da assinatura do acordo.
Além de seu papel na expansão da energia eólica onshore nacional, o desenvolvimento desse aerogerador de 7 MW trará impacto positivo para o futuro da energia eólica offshore no Brasil. À medida que um fornecedor nacional acumula experiência e conhecimento na produção de aerogeradores de alta capacidade em terra, pavimenta o caminho para o desenvolvimento de aerogeradores de maior porte, que poderão ser utilizados nos projetos de geração offshore. A Petrobras, por sua vez, adquirirá conhecimentos sobre a especificação, otimização e instalação de aerogeradores de grande porte. Nessa jornada, a transição para a energia eólica offshore oferece oportunidades para explorar o vasto potencial eólico no litoral do país”.
Muito se poderia dizer sobre a geração de energia eólica, principalmente em face dos insucessos da Bélgica e do Reino Unido, nas instalações no Canal da Mancha, exponenciados pelo fato de aqui ser em mar aberto, na porção do mar territorial brasileiro no Oceano Atlântico.
Em primeiro lugar por se tratar de energia intermitente. O recente apagão ocorrido em agosto de 2023, em várias partes do território brasileiro, entre poucos outros motivos, foi devido à participação, relativamente elevada, de energias intermitentes, como a eólica e a solar, no conjunto das energias produzidas para o sistema nacional. Quanto mais o Brasil depender de energias intermitentes, mais insegura será a garantia de energia nas residências, nos hospitais, na iluminação pública, nos sistemas de segurança e onde houver uma geladeira ou um ferro para passar roupa.
Outra questão é o custo. Nenhuma energia é mais barata do que a gerada pelas quedas d’água e pelo barril de petróleo. Basta observar como os Estados Unidos se tornou o país mais rico do mundo; com a descoberta do petróleo, em 1859, na Pensilvânia, e por fazer do petróleo sua principal fonte de energia (por ser a mais barata), mesmo quando começou a importá-la nos anos 1920.
E porque a falácia dessa solução oculta os danos ambientais, que também foram responsáveis pela redução da energia eólica na produção do Reino Unido e da Bélgica. Dano observado tanto na pesca, quanto no desaparecimento dos pássaros, que frequentavam os mangues e terrenos alagadiços nas ilhas e costas da Grã-Bretanha, e nas áreas marinhas da Bélgica e da Holanda.
E a Petrobras pretende gastar muito mais do que os US$ 26 milhões do comunicado, que poderiam, com muito melhor resultado, ampliar a produção de petróleo na Bacia de Santos.
Este artigo não trataria de mais assuntos se ficasse demonstrando a verdadeira História da Carochinha que é a transição energética.
O Brasil se desindustrializou neste século XXI. Não está nos Produtos Internos Brutos (PIBs) pois eles medem especulações cambiais, movimentações financeiras, concentrações de renda como se aumentassem a riqueza nacional. Esta situação é vista no desemprego, nos ubers, nos trabalhadores que para sobreviver aceitaram a farsa de empreendedores individuais (MEI).
Indicador verdadeiramente adequado para medir um país, como vive sua sociedade, é a energia per capita. E a nossa é 10% daquela medida em 2021, em Cingapura, metade da espanhola, um terço da apurada na Estônia, o que dizer então das estadunidenses, belgas, suecas, neozelandesas.
E o projeto da transição energética é do vento e do sol, no lugar do petróleo, pois a energia nuclear já foi enterrada. A Nuclebras foi extinta em 30 de outubro de 1989. O valoroso almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, cuja biografia está intimamente relacionada ao programa nuclear brasileiro, foi preso pela Lava Jato. E nada se diz, todos se calam.
A transição energética pretendida pelos que governam o Brasil de hoje nos levará à fogueira, ao banho de sol, à roda d’água, ao moinho de vento.
Na excelente publicação mensal do Movimento de Solidariedade Ibero-americana, volume XXX, nº 3, agosto de 2023, encontramos o artigo de Geraldo Luís Lino, (Cúpula de Belém: choque de realidade no radicalismo “verde”), de onde transcrevo: “É digno de nota que os jornalistas do “Estadão”, Folha de S.Paulo e outros meios viajaram a Belém com patrocínio do Instituto Clima e Sociedade (ICS), uma das mais ativas ONGs brasileiras engajadas na indústria do alarmismo climático. A sua presidente, Ana Toni, é atualmente secretária de Mudança do Clima, do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, e um dos seus principais financiadores é a Open Society Foundations do megaespeculador George Soros, que também financia o projeto Planeta em Transe do UOL/Folha de S.Paulo”.
O que seria a verdadeira transição energética não seria a volta ao passado, mas a criação do futuro.
Da revista Exame, em 15/04/2023: “No início de dezembro de 2022, cientistas americanos do Laboratório Nacional Lawrence Livermore (LLNL), na Califórnia, conseguiram realizar o primeiro experimento na história em que uma reação de fusão nuclear foi capaz de produzir mais energia do que a empregada. Desse modo, evidencia-se nessa pesquisa que existe a possibilidade de um futuro que utilize fontes de energia limpas e renováveis, para o progresso rumo ao desenvolvimento sustentável”.
“A energia nuclear que se obtém atualmente é gerada através da fissão nuclear. Processo que consiste na quebra dos núcleos de átomos, obtendo como resultado a liberação de alta quantidade de energia. Apesar de a fissão nuclear ser um fenômeno natural, foi realizada artificialmente, pela primeira vez, em 1938 pelos cientistas Otto Hahn, Lise Meitner e Fritz Strassmann, no qual perceberam que o bombardeamento do urânio com nêutrons, produziam átomos mais leves. Assim, 85 anos depois seu principal combustível é o isótopo do elemento, o urânio-235”.
No campo da fissão nuclear está em desenvolvimento a construção de reatores modulares que poderiam dotar o Brasil de uma energia mais perene e segura do que as fazendas eólicas e solares. Além de menos agressoras ao meio ambiente. O que está fazendo a Petrobras e o governo Lula neste sentido?
“A energia produzida pela fusão nuclear é limpa e segura, pois não produz gases de efeito estufa ou resíduos radioativos de longa duração. Ademais, os materiais necessários para a fusão nuclear são abundantes e amplamente disponíveis. Dessa forma, o desenvolvimento da tecnologia de fusão nuclear com sucesso significará um passo à frente na luta contra a crise climática e a transição para economia de energia limpa”.
Empresas de petróleo, como a italiana ENI (Ente Nazionale Idrocarburi), a norueguesa Equinor (anteriormente Statoil e StatoilHydro) e a estadunidense Chevron (antiga Standard Oil California, ou Socal), estão investindo na fusão nuclear. Por que a Petrobras está ausente?
Está em andamento um Reator Experimental Termonuclear Internacional (Iter, na sigla em inglês), que é o maior, mais complexo e, com custo superior a US$ 20 bilhões. O consórcio de 35 países que financia o Iter e constrói seus componentes representa mais da metade da população mundial e 85% do PIB global. Os EUA, a Rússia, a China e a União Europeia são todos membros. O que impede o Brasil de participar?
Fica o Brasil gastando com protegidos de megaespeculadores, com finanças apátridas de traficantes de drogas, com a imprensa cujos jornalistas viajam patrocinados por quem jamais terão uma linha crítica, sem soberania e colocando em risco a cidadania brasileira.
Não tem suporte na política para colocar a Petrobrás no caminho de soluções adequadas às questões de interesse nacional? Não pode reestatizar as unidades indispensáveis para que a Petrobrás cobre o valor correto e compatível com a economia brasileira para energia e para os derivados que fabrica? Não reinaugura a Nuclebras para prosseguir no programa nuclear brasileiro e participar das pesquisas internacionais? Então o que está fazendo aí, presidente Lula da Silva?
*Ex-membro do Corpo Permanente da Escola Superior de Guerra, preside a Associação dos Engenheiros da Petrobras