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Petróleo não é mais nosso. Venda do pré-sal vai cobrir rombo de 1 tri na Petrobras

Hermano Leitão

Com séria dificuldade de caixa e endividamento histórico, a Petrobrás joga a toalha no investimento do pré-sal com o sinal verde do presidente da estatal, Aldemir Bendine, para a presidente Dilma fazer acordo com o Congresso e encaminhar a desobrigação de investir o mínimo de 30% na exploração de petróleo na camada do fundo do mar.

Essa desistência seria a notícia mais triste da petrolífera brasileira, mas o atoleiro da dívida impõe outras consequências ainda mais graves. De fato, além das perdas de R$ 6,5 bilhões já contabilizadas no balanço encruado de 2014 por conta dos desvios de corrupção interna na companhia, o balanço de 2015 terá de contabilizar não só o endividamento da dívida de R$ 510 bilhões, mas, também, a perda de R$10 bilhões com a Sete Brasil, que foi engolfada em corrupção na locação de sondas, e as necessárias provisões com os contratos de leasing operacional na ordem de R$ 480 bilhões.

Fez as contas? (R$ 510 bilhões + R$ 10 bilhões + R$ 480 bilhões = 1 trilhão de reais).

Assim, a tempestade perfeita na Petrobrás indica a continuidade do fluxo de caixa negativo diante do baixo preço do petróleo (US$ 33) no mercado internacional; a retração no refino em confronto com a baixa demanda de derivados; mais demandas judiciais em todo o mundo por causa das perdas nos portfólios de investidores; reflexos negativos da desvalorização do real; e mais reflexos dos novos desvios descobertos pela operação Lava Jato – a baixa no balanço de 2014 foi irrisória.

E para quem acha que o petróleo é nosso – por isso nem se importa em pagar a gasolina mais cara do planeta ou está no aguardo dos gordos dividendos de lucro da Petrobrás –, não se incomoda com a tempestade. Afinal das contas o presidente da petroleira é um contador, guarda livros, homem das partidas dobradas, expert em contabilidade criativa, pois.

Aldemir Bendini deve anunciar no início de março se procederá àquelas baixas no balanço ou continuar com as notas explicativas em relatórios apartados, a fim de cravar prejuízo ou lucro, em que pese já ter anunciado prejuízo no terceiro trimestre de 2015.

Parece um estranho dilema: baixar ou não baixar, eis a questão. No entanto, esse dilema não tem nada de surpreendente. Ele revela o ponto de corte na história política escrita agora.

Sim, o encontro de Aldemir Bendine com Dilma Rousseff, a Czarina da Energia Escura, no dia 24 de fevereiro de 2016, é um fato histórico relevante, um divisor de águas, em razão de suas consequências na economia e na política. Na verdade, todo esse processo de decisão nos destinos da Petrobrás teve como gatilho a prisão do marqueteiro João Santana, que implicou a campanha de reeleição de Dilma no mega escândalo de corrupção da petroleira. Houve financiamento de campanha com dinheiro desviado da Petrobrás.

A sucessão de fatos, então, matiza a importância do fato histórico. Sem força e fragilizada pelo escândalo da prisão, Dilma manobra no Congresso e faz acordo para aprovação do projeto de lei que acaba com a participação obrigatória da Petrobras na exploração dos campos do pré-sal. Em contrapartida, o PT anuncia contrariedade a essa decisão e o rompimento com a política econômica de Dilma.

De maneira formal, o PT lança seu “Plano Nacional de Emergência” e convoca uma “Conferência Nacional sobre Política Econômica”. Em seguida, Dilma não comparece ao aniversário de 36 anos do partido e, diretamente do Chile, declara que não governa só para o PT.

Trata-se de um estratagema político para acomodar interesses conflitantes. De um lado, Dilma se afasta do PT lulista para se salvar do impeachment. Do outro, o PT se afasta de Dilma para salvar Lula e contar com o apoio de sua “base social” – sindicatos.

Tudo será diferente. Inspirados por Bresser-Pereira, que foi ministro da Fazenda durante o governo de José Sarney, o PT discordará da condução da política econômica da presidente Dilma e proporá uma heterodoxia nos moldes do combate a doença da vaca Holandesa diagnosticada por Pereira.

Segundo Bresser, “a doença holandesa é quando um país aumenta muito suas exportações de matérias primas. Com isso, a economia é irrigada com dólares. Mais dólares na economia, mais valorizada a moeda local”, disse na palestra “Que País é esse?” aos petistas.

Assim, proporão o uso do fundo soberano para ser utilizado para cobrir o déficit fiscal, uma parte, e a outra para capitalização das estatais, sobretudo a Petrobrás, e usar as reservas internacionais para investir na transposição do Rio São Francisco, no término da Ferrovia Norte-Sul, na conclusão do Comperj, entre outros projetos que poderão retomar as alucinações de Guido Mantega, agora na pessoa de Nelson Barbosa, que, por enquanto, tem defendido o óleo de babosa como biodiesel capaz de suplantar a necessidade do petróleo no fundo do poço.

Se Dilma não aceitar o plano nacional de emergência, terá de encontrar uma saída de emergência honrosa. O requiem Lacrimosa de Mozart seria adequado como trilha sonora do anúncio da baixa trilionária na Petrobrás.

Judicandus homo réus. Dona eis requiem!

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