Quando ligou para a redação, em setembro de 2015, Phil Collins quis, ele mesmo, realizar a chamada, de Miami para São Paulo, diferentemente de outros nomões da música, que optam por conexões realizadas por agentes de gravadora ou assessores de imprensa. Assim, com cinco minutos de atraso, Mr. Collins estava do outro lado da linha. E garantia estar feliz c0m a aposentadoria, anunciada desde 2011, vivia numa casa espaçosa de 1,1 mil m² e recuperava-se de uma lesão nas costas que lhe impede de tocar bateria para sempre – instrumento com o qual iniciou a carreira, na banda Genesis, ainda nos anos 1960.
Na época, há dois anos, Collins se preparava para relançar os discos Face Value (1981) e Both Sides (1993), ambos da fase de hitmaker radiofônico bastante debochada pela crítica por ser “pop demais”, com a ideia de se conectar com uma geração nova, que passou a conhecê-lo pelos elogios vindos de artistas como Beyoncé, Alicia Keys, Kanye West e Pharrell Williams. As reedições traziam o rosto envelhecido do artista nascido em Londres, aos 65 anos – hoje, ele tem 67 – no lugar dos rostos jovens do músico aos 30 e poucos anos.
O site oficial dele trazia o verso “take a look on me now” (algo como “veja como eu estou agora”), da música Against All the Odds, um dos seus maiores sucessos e com a qual ganhou o Grammy de melhor performance pop em 1985. Hoje, o lema de Phil Collins seria outro, sacado da mesma música: “Contra todas as probabilidades”, como diz o título da entretecida canção de desamor e desespero. Contra qualquer probabilidade, o sujeito cuja fortuna ultrapassava os £ 115 milhões e havia vendido mais de 100 milhões de discos ao redor do mundo, alguém que abusou do álcool próximo do até então fim da carreira e viu seu nome estampando notícias fofoqueiras sobre suas inclinações ao suicídio, está de volta.
Improvável, mesmo. Mas o retorno não se dá sem o humor inglês divertido de Collins, o mesmo que, em 2004, disse que se pendurasse o microfone e deixasse os palcos, sua falta não seria sentida, agora segue em uma turnê mundial, com o delicioso título de Not Dead Yet, ou “ainda não estou morto” – leia com ironia, por favor.
Collins chega ao Brasil na quinta-feira, 22, pela primeira vez sem integrar o Genesis. Em fevereiro, sua turnê percorre o Rio (dia 22, no Maracanã), tem duas noites em São Paulo (24 e 25, no Allianz Parque) e Porto Alegre (27, no Beira-Rio). Ele sabe que não é o mesmo. Agora, o sujeito que ganhou o primeiro kit de bateria aos 5 anos se senta na frente do palco. E, quando anda, o faz com o auxílio de uma bengala. A dificuldade vem do deslocamento de uma vértebra do pescoço, durante a última turnê com o Genesis, em uma reunião que durou dois anos, entre 2006 e 2007. A cirurgia que fez, na época, foi considerada bem-sucedida, mas Collins conta que não é capaz de segurar uma baqueta com a mesma firmeza de outrora – tocar piano também é um problema.
Não parecia haver motivo para que Collins saísse da sua toca ensolarada e luxuosa com vista para o skyline de Miami, na Flórida, cidade para qual se mudou a fim de ficar mais próximo dos filhos mais novos, Nicholas e Matthew, frutos do último casamento dele, com Orianne Cevey, matrimônio que chegou ao fim em 2008. Os dois guris, aliás, vêm ao Brasil. Nic, o mais velho, aos 17, toca bateria como o pai e integra a banda.
Parte da obrigação jornalística, ainda em 2015, era o questionar Collins sobre a possibilidade de um retorno, por mais improvável que parecesse à época. E a resposta veio: “Por muito tempo, eu mantive essa história em um livro fechado. E, agora, estou abrindo. Quem sabe, se a resposta for boa com esses relançamentos, eu posso pensar em abrir o livro de novo”.