O neozelandês Philip John Smith, fugiu do seu país na semana passada, desembarcou em São Paulo e, menos de 24 horas depois, foi preso no Rio de Janeiro numa operação que contou com agentes da Interpol e da Polícia Federal. A mesma presteza, porém, não se vê no caso do Petrolão. Ninguém sabe por onde anda Fernando Baiano Soares. E João Vaccari, sabe-se lá com que costas largas, continua imprimindo extratos de contas bancárias sem ser perturbado.
Os três têm em comum acusações pesadas. Pedófilo-assassino, Philip era tido por foragido na Nova Zelândia. Corrupto, Baiano teve a prisão decretada e também anda sabe Deus por onde. E Vaccari, tesoureiro do PT, pode ser encontrado nos corredores do Congresso Nacional. Portanto, se for o caso de prender, não há desculpa.
Baiano e Vaccari foram operadores dos dois principais partidos que dão sustentação parlamentar ao governo brasileiro. Juntos, teriam recebido ao menos R$ 200 milhões em propinas na Petrobras para viabilizar contratos com empreiteiras. E a maior parte desse dinheiro foi parar nas mãos do PT de Dilma Rousseff e do PMDB de Michel Temer.
Detalhes sobre o pagamento de suborno, que seria uma pré-condição para obter obras na companhia petrolífera, foram revelados aos investigadores da Operação Lava Jato pelos executivos Júlio Camargo e Augusto Ribeiro, da Toyo Setal, em troca de eventual redução de pena. Nos depoimentos, eles revelam os valores e as empresas usadas para o repasse do dinheiro aos dois investigados.
O relato do delator deu base à sétima fase da Lava Jato, batizada de “Juízo Final”, deflagrada na sexta-feira 14, quando a cúpula das maiores empreiteiras do País e o ex-diretor de Serviços e Engenharia da Petrobras Renato Duque, indicado pelo PT, foram presos.
Os fornecedores da Petrobras pagavam aos supostos operadores até 3% de propina para conseguir contratos superfaturados, mediante fraude a licitações. Parte desses recursos seria repassada aos partidos da base aliada do governo.
Fernando Baiano recebeu ao menos US$ 40 milhões (R$ 104 milhões) para viabilizar o fornecimento de sondas de perfuração. A negociação foi feita com a Diretoria Internacional da Petrobras, sob o comando do ex-diretor Nestor Cerveró. O lobista teria influência na área. Outros R$ 95 milhões teriam sido pagos a Duque e um de seus subordinados na estatal, o então gerente Pedro Barusco, para que “arranjassem” contratos para construtoras em ao menos cinco grandes obras.
Segundo as investigações, as propinas eram pagas pelas empresas Treviso, Auguri e Piemonte, de Júlio Camargo, contratadas pelas empreiteiras como intermediárias junto à Petrobras. Parte da comissão recebida por elas era transferida a Duque e Soares, conforme os depoimentos feitos na delação.
À força-tarefa encarregada das investigações, Camargo disse que o grosso dos pagamentos a Duque foi feito no exterior, em contas indicadas por ele. Uma delas estava em nome da offshore Drenos, mantida no Banco Cramer, na Suíça. Segundo o executivo, também foi pago suborno em espécie, no Brasil, por meio de empresas controladas pelo doleiro Alberto Youssef, responsável por lavar dinheiro do esquema.na estatal, envolvendo o engenheiro, “são decorrentes de falsas delações premiadas e, até o momento, sem nenhuma prova”.
As provas estão na boca de todo o povo brasileiro. Mas em Baiano e Vaccari, ninguém coloca algemas. Crime por crime, são tão bandidos quanto Philip. A diferença é que o neozelandês não priva da intimidade de Dilma e Temer.