Mais suscetível a “mudanças climáticas” e a tempestades partidárias e, principalmente, com a obrigação de atender a públicos diversos, a política de comunicação de um governo deve ser pautada, antes de qualquer pressuposto, pela democratização de seus recursos com a mídia nacional, independentemente desta ou daquela empresa ter mais ou menos peso na população. O objetivo a ser alcançado, que é estabelecer e fortalecer a imagem governamental e conquistar confiança popular para a governança, depende de como a instituição chamada governo brasileiro chega à sociedade. Uma identidade sólida e uma imagem positiva perante o público-alvo não se conquista com divisões mercadológicas, tampouco com interferências e benefícios diferenciados para regiões e segmentos diferentes.
A máxima a ser seguida é a de que o Brasil é de todos e para todos. Após quatro anos de exclusividade das benesses publicitárias e de uma comunicação sem transparência e ostensivamente dirigida àqueles que melhor se posicionassem a favor do ódio e do arbítrio, chegamos à administração de Luiz Inácio Lula da Silva, cuja proposta visa fundamentalmente à prestação de contas, ao estímulo para o engajamento do povo nas políticas adotadas e ao reconhecimento das ações promovidas nos campos político, econômico e social. Do latim communicare, comunicação significa explicitamente tornar comum, compartilhar, trocar opiniões e mensagens, associar e conferenciar, unificada e alinhadamente, sobre informações normalmente recebidas de forma invertida.
Em síntese, é falar, ouvir e ser ouvido sem meias palavras, sem conteúdos difusos e, sobretudo, sem personalizar contatos. É o que têm feito, em parte, o presidente Lula, seus ministros, dirigentes de empresas, colaboradores e assessores. Decidido a recuperar interna e externamente a nação adormecida por conta do abandono da maioria de seus mais de 200 milhões de habitantes, Lula está verdadeiramente disposto não só a devolver o Brasil aos trilhos do desenvolvimento, mas também a mostrar ao povo que não foi eleito para governar somente para apaniguados ou simpatizantes de suas causas. A principal diferença entre este e aquele que deixou a Presidência pela porta dos fundos é que a atual política de comunicação não é pessoal. Ela é coletiva, do governo, consequentemente do povo brasileiro.
Colocar um profissional da área para comandar a comunicação oficial e transformar a estatal do setor, dirigida pelo jornalista Hélio Doyle, em empresa de Estado e não de governo, foram os primeiros passos de Lula no sentido de divulgar sem segredos e sem segundas intenções todas as ações incluídas no programa de governo. Já efetivados pelo ministro Paulo Pimenta, o segundo e o terceiro passos consistem na inclusão de pautas positivas nas redes sociais e na viabilidade de entrevistas do presidente para um pool de rádios sempre que ele visitar um determinado estado. A ideia é não deixar ninguém sem respostas.
A iniciativa de falar para todos não significa “fulanizar” um governo meritoriamente popular, mas provar à sociedade que as narrativas oficiais não podem ser alimentadas sistematicamente por sentimentos eleitorais. Ainda não sabemos se Paulo Pimenta consegue cobrar escanteio e cabecear para o gol. No entanto, como cabeça de área, ele está no caminho certo. Além de defender uma comunicação distante do ambiente eleitoral, ele tem consciência de que Lula é o presidente de todos os brasileiros, inclusive dos intolerantes, dos violentos e dos aficionados pelo terrorismo.
Considerando que a coisa mais importante na comunicação é ouvir o que não está sendo dito, que a interlocução é uma das sustentações da evolução humana e que 60% de todos os problemas administrativos resultam da ineficiência dela, convém lembrar uma máxima de Peter Drucker, para quem uma conversação eficaz e assertiva é aquela em que se diz o que precisa ser dito, nem mais e nem menos. Apenas o necessário. Por enquanto, Lula e Paulo Pimenta sabem exatamente onde estão pisando. Sabem também que, mais do que pensar como homens sábios, devem e precisam se comunicar na língua do povo. Mas sem centralizar as tabelinhas.
Armando Cardoso, jornalista, ex-Ascom das Cortes Superiores, membro do Conselho Editorial de Notibras