Davi Moreira, Especial para Notibras
Resumir o conceito de teatro em apenas edifício onde se representam obras dramáticas, ou conjunto de peças, é não dizer que ele também é a história de muitas vidas, a história de quem escreve, a história de quem vê, a história de quem encena, a história de quem dirige, a história de quem multiplica a própria história.
Esse conjunto de histórias, em que o próprio teatro se resume, que transforma gerações, pode ser contada na história de uma vida ou na vida de uma histórica professora de Planaltina, mestra na arte de transformar a história de vida das crianças na cidade, com a sua dedicação, com o seu trabalho, e que hoje somam-se à sua, outras belas histórias, cujas páginas foram escritas com as gotas de suor do seu próprio esforço.
Não dizer que ela é uma referência de trabalho, de ensino de qualidade, de dedicação, de professora nota 10 é cometer injustiça com a vida dela, é ir contra a opinião dos atores e das atrizes que contracenam os espetáculos que encantam a nós, pobres mortais e meros admiradores, é ir contra a opinião dos pais, é ir contra a própria história de Planaltina e das escolas públicas da cidade.
Com 12 anos de história desde a sua fundação, a Cia de Teatro Língua de Trapo, dentro do Projeto de Altas Habilidades da Secretaria de Educação, do Centro de Ensino Fundamental 04 de Planaltina, se funde à história da própria criadora, a professora Isabel Cavalcante, e falar da criação é falar da criadora.
A fundação – Com pequenos grupos em 2005, cuja unificação em 2008 deu origem à Cia Língua de Trapo, o grupo de teatro completa 11 anos de história em Planaltina e muitas são as histórias que hoje se multiplicam pela cidade, de gente que aprendeu não só a encenar, como também a viver no teatro da vida.
Foram vários os espetáculos, apresentados pelos mais diferentes atores e atrizes da cidade, alunos de escolas públicas que passaram a viver a vida não como meros coadjuvantes, mas como protagonistas do próprio destino no palco da vida: Cadê o riso do Palhaço? A Aurora da Minha Vida, O Auto da Compadecida, Adivinha o Que Tinha no Baú da Carochinha? A Revolta dos Brinquedos, O Caminho das Águas, Deixa eu pintar o meu nariz!, O Fantástico Mistério de Feiurinha, Chapeuzinho Vermelho, O Segredo Bem Guardado, O Bem-Amado, Pluft, o Fantasminha, O Despertar, e outros, além do trabalho desenvolvido com a Arte de Contar Histórias e do Projeto Teatro Mudo Mudando o Mundo.
Aristóteles afirmou que a grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las. Eis, pois, alguém que as merece. A grandeza desse trabalho não podia ficar restrito a uma sala, a uma escola, ou a uma cidade.
Os muros da escola não foram suficientes para conter a expressão da arte no palco da própria escola, por isso engrossam a agenda de apresentações da Cia Língua de Trapo, palcos de lugares como o Parque Olhos D’água, Parque Ecológico de Águas Claras, Escola Normal de Brasília, Espaço Cultural Renato Russo, Estação Ecológica de Águas Emendadas, Salão Negro do Senado Federal, Hospital Sarah, Hospital da Criança, Feira do Livro, Pátio Brasil, Centro Cultural do Banco do Brasil, UnB, Teatro das Escolas Parque Norte e Sul, Povoado de Mato Seco (GO), Teatro Dulcina, Universidade Católica, Teatro Alterosa em Belo Horizonte, Auditório da Administração da Planaltina, Teatro Língua de Trapo e diversas escolas dentro e fora da cidade.
Registro dos anos – Em 2007, 2008 e 2010 a Cia foi selecionada para o Festival de Teatro na Escola, promovido pela Fundação Athos Bulcão. Em 2007 com o espetáculo A Aurora da Minha Vida, em 2008 com o espetáculo O Fantástico Mistério de Feiurinha e em 2010 com o espetáculo O Auto da Compadecida.
Em 2009, o espetáculo O Fantástico Mistério de Feiurinha foi selecionado para o Projeto Teatro na Mochila, também promovido pela Fundação Athos Bulcão, como um dos melhores espetáculos do Festival de 2008, sendo apresentado em quatro cidades satélites de Brasília.
Em 2010, a Cia participou de uma série sobre o Teatro na TV Escola, onde foi ao ar em três dos programas da série. A participação envolveu também a visita da Equipe do Programa Salto para o Futuro na sede da Cia, um passeio ao Teatro Nacional de Brasília com a equipe do programa e a participação da professora Isabel Cavalcante no Debate ao Vivo no Programa Salto para o Futuro, no Rio de Janeiro, com profissionais do teatro de outros estados do País.
Ainda no ano de 2010, a Cia teve também as suas experiências relatadas em um artigo escrito pela professora Isabel Cavalcante, para o livro lançado pela Fundação Athos Bulcão, em comemoração aos 10 Anos do Festival de Teatro na Escola.
Em 2012, a Cia abriu a 11ª Edição do Festival de Teatro na Escola da Fundação Athos Bulcão com o espetáculo O Auto da Compadecida, e foi selecionada pelo Programa Mais Cultura Microprojetos Bacias do São Francisco com o espetáculo O Caminho das Águas. Em 2013, a Cia foi um dos 15 grupos selecionados no país para o FETO – Festival Estudantil de Teatro, que acontece há 17 anos em Belo Horizonte, apresentando o espetáculo O Bem-Amado de Dias Gomes no Teatro Alterosa do SBT.
Em 2014, a Cia Língua de Trapo completou dez anos e comemorou realizando uma Mostra de Teatro, envolvendo também a participação de outros grupos de teatro da cidade. Na Mostra foram apresentados seis espetáculos diferentes, sendo quatro da Cia Língua de Trapo, atraindo um público de mais de 2 mil pessoas da comunidade escolar e local da cidade.
Em 2015, a Cia recebeu uma Moção de Louvor da Câmara Legislativa do Distrito Federal, proposta pelo deputado Wasny de Roure, pela celebração de seus 11 anos de atividades culturais.
De 2016 para cá, a Cia encontra-se com um espetáculo montado e dois espetáculos em processo de montagem. O Fantástico Mistério de Feiurinha acabou de sair de uma temporada de sete apresentações em Planaltina e está sendo organizada uma nova agenda de apresentações.
Se a vida é um espetáculo e o teatro o palco das representações, somos, pois, todos nós, atores que encenam a peça da própria existência escrevendo cada um o próximo ato. Não temos quem nos dirija, muito embora sejamos guiados, ora pelos nossos instintos, ora pelos nossos governantes, e seguimos com novas apresentações em cartaz, sempre fazendo de cada dia um novo espetáculo, esquecendo, às vezes, o Fantástico Mistério da nossa origem.