O general Antonio Hamilton Martins Mourão foi afastado neste sábado, 9, da chefia da Secretaria de Economia e Finanças do Exército. A decisão, ordenada pelo presidente Michel Temer, foi tomada 72 horas após o militar ter manifestado apoio à candidatura do deputado Jair Bolsonaro à Presidência da República. A destituição foi comunicada pelo comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, ao alto escalão da força.
Mourão fez uma palestra durante reunião promovida pelo grupo Ternuma (Terrorismo Nunca Mais), no Clube do Exército, em Brasília, na noite do último dia 7. Além do apoio expresso a Bolsonaro, o general disse que Temer conduz seu mandato aos trancos e barrancos. Na avaliação do general, o presidente estaria se balançando num balcão de negócios para manter o cargo.
Na palestra, Mourão, que recentemente pregou uma intervenção dos militares caso o Brasil não entrasse nos trilhos – o que motivou a primeira punição com a perda de comando da tropa – teceu elogios a Bolsonaro, dizendo que se trata de um político experiente e com condições de governar o País.
Ao falar aos membros do Ternuma, Mourão abordou o tema “Uma visão daquilo que nos cerca”. Ele enfatizou que manifestava uma opinião própria. Disse que irá para a reserva em 31 de março de 2018. Coincidência ou não, a data é a mesma do golpe militar de 1964. Também não descartou a possibilidade de disputar algum cargo eletivo futuramente. Além de apoiar Bolsonaro, disse acreditar que a Justiça vai barrar a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2018. Em setembro, o general apontou a possibilidade uma intervenção militar, não sendo repreendido pelos seus superiores na época.
Na palestra várias perguntas foram feitas pela platéia. Uma delas coube à advogada Dênia Magalhães, que queria saber como as Forças Armadas estão vendo a candidatura de Bolsonaro.
“Eu queria saber como o senhor encara a candidatura do Jair Bolsonaro a Presidente da República, sendo que ele é egresso do Exército, e se o senhor sabe como também o comando, o alto generalato das Forças Armadas, encara essa candidatura. Muito Obrigada”, disparou a doutora Dênia.
Mourão não mediu palavras para responder. Leia o que ele disse:
– Bem, o deputado Bolsonaro já é um político testado. Ele está na política, se não me engano, desde 1988, primeiro como vereador lá na cidade do Rio de Janeiro e a partir de 1990, ou 92, 90 né? – a partir de 90 na Câmara dos Deputados. Ou seja, é um político que tem 30 anos de estrada. Conhece a política. E é um homem que não tem telhado de vidro, vamos colocar assim, não esteve metido aí nessas falcatruas e nessas confusões. Agora, é uma realidade, já conversamos a esse respeito, ele tem uma posição muito boa nessas primeiras pesquisas que estão sendo feitas, ele terá que se cercar de uma equipe competente, atacar esses problemas todos que eu falei aqui, não pode fazer as coisas de orelhada, como a gente diz assim em termos, e, obviamente, nós, seus companheiros dentro das forças olhamos com muitos bons olhos a candidatura do deputado Bolsonaro.”
A advogada Dênia Magalhães, uma das assessoras de Bolsonaro no campo do direito eleitoral, admite que levou a pergunta no bolso. A ideia, resumiu, “era saber se há rejeição a Bolsonaro no âmbito das Forças Armadas, de que os generais não apoiariam o Capitão. E pelo visto, esse apoio é incondicional”, lembrou.
Erro de interpretação – Neste sábado, após ser informado da punição, Antônio Mourão disse que suas declarações são mal interpretadas e negou ter insinuado que o presidente Michel Temer praticou crimes. Ele classificou seu afastamento do cargo de secretário de Economia e Finanças como uma “movimentação normal”. Ele ainda negou que tenha ouvido repreensão do comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas.
“É uma movimentação normal dentro do Exército. Meu comandante não me falou nada (sobre a palestra). Eu não fiz comentário a respeito do presidente. Eu apenas retratei cenários que estão sendo colocados hoje. Não chamei o presidente de corrupto, de ladrão nem de incompetente”, afirmou.
O general sugeriu que suas falas são interpretadas de maneira exagerada. “Cada um interpreta da forma que melhor lhe provém. Há muito tempo qualquer coisa que eu falo é colocada como se fosse algo que vá derrubar o castelo de cartas no País”, disse.
Mourão explicou que, quando citou o “balcão de negócios para chegar ao fim do mandato”, estava se referindo à negociação política no Congresso, mas não às duas denúncias criminais contra o peemedebista no caso JBS, que os deputados barraram depois da liberação de emendas parlamentares e cargos.
Segundo o general, o balcão de negócios é citado na imprensa diariamente. “É uma negociação política. Isso é o balcão de negócios. Eu falei que ele tem tentando aprovar em termos de emenda, de novas legislações, que ele tem que negociar dentro do Congresso. E obviamente que essas negociações às vezes são feitas de forma, digamos assim, mais explícita, e outras buscando administrar o que ele tem condições de administrar.”