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Planetário vira inferno com funcionárias sendo escravas do sexo

Assédio sexual, abuso de autoridade e um tratamento hostil às mulheres dentro do ambiente de trabalho. Com essas características, é natural que remetamos esse cenário às senzalas. Mas não se iluda. Essa história é real e ocorre há alguns quilômetros do Palácio do Planalto, comandado justamente por uma mulher.

No lugar onde se aprende sobre o mapeamento do céu, é nos cantinhos escuros ou às portas fechadas que mulheres conhecem o inferno. Tudo se passa no Planetário, um órgão ligado a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Governo do Distrito Federal, onde funcionárias terceirizadas convivem com o lado mais impuro e antiprofissional de seus chefes, e dependendo do ponto de vista, capatazes.

Muitas delas foram vítimas de abusos morais e sexuais. Penaram nas mãos de João Bosco (administrador do Planetário) e Nelson Paschoal (encarregado), que se revezavam para cometer as atrocidades com suas subalternas. As informações a seguir foram relatadas pelas vítimas, sob a condição de anonimato.

Apesar de estranhas, as convocações para conversas faziam parte da rotina das trabalhadoras. E nessas reuniões, normalmente acuadas, elas eram questionadas sobre a vida amorosa. E sem nenhum limite ético, pressionadas a aceitarem convites para sair. Até da mão boba, foram vítimas.

Os abusos não se limitaram ao ambiente de trabalho. Por diversas vezes, Bosco ligava para as funcionárias. No clímax de sua insensatez, chegou a telefonar para uma ex-servidora do Planetário à meia noite. Às vezes, quando ouvia uma voz masculina – normalmente do marido da presumida vítima  – , desligava o telefone.

Para uma das vítimas, os assédios deixaram marcas muito mais profundas. De tantas ligações, o marido desconfiou. O casamento sofreu uma turbulência. E para a mulher desse caso, a situação se agravou quando Bosco a chamou e a trancou numa sala. Desde então, passados os exames médicos, o diagnóstico não poderia ser outro: Síndrome do Pânico.

Dos abusos sexuais às consequências. Por não cederem às investidas dos chefes, as mulheres eram sentenciadas. Advertências e suspensões se restringiam ao grupo não conivente. Quem aceitava, era livre.

Certa vez, o encarregado Nelson chamou uma das funcionárias para conversar. A pauta, no entanto, não era nada profissional. Ele a convidou para jantar. E sem se limitar à moralidade, disse: “Quem sabe não voltamos com os cabelos molhados”.

Segundo os relatos, o que ocorria chegou a instâncias com grau de autoridade maior. O ex-secretário de Ciência e Tecnologia, Glauco Rojas, sabia de tudo. E ele recebeu uma carta que foi protocolada em seu gabinete. Entretanto, do momento em que soube, até agora, nada foi feito. Aliás, Bosco e Nelson fazem parte do grupo político de Rojas.

Na quinta-feira, 15, um grupo de quatro ex-funcionárias quebrou o silêncio e venceu o medo. Elas foram à Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) registrar queixa. A próxima audiência foi marca para o dia 21. Na DEAM, elas também foram orientadas a irem à Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Brasília. A partir de agora, querem usar todas as armas disponíveis e impedir que no Planetário apareçam mais vítimas, como se o local fosse um bordel onde as mulheres são obrigadas a ver estrelas por chefes travestidos de capetas.

Elton Santos

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