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Maçaranbuda

Plantio errado leva mito e seguidores aos bancos dos réus

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior8 - Foto de Arquivo/Marcelo Camargo

Entre as numerosas teorias da vida, poucas se aplicam tão bem ao atual cenário político do que uma explorada pelo grupo musical Racionais MC’s em um de seus raps. No caos vivido nesses últimos dias pela seita bolsonarista, nada como um dia atrás do outro poderia ser sinônimo de o plantio de hoje será a colheita de amanhã. Depois de quatro anos perdidos na preparação de um terreno que era fértil, de usar datas patrióticas (7 de Setembro) como tentativas frustradas de irrigação de seus emburrecidos semeadores e de confundir alhos com bugalhos após a cultura da paz começar a florescer, a safra do ódio não vingou. Antes do surgimento de novas pragas verde oliva, os canteiros foram atacados por gafanhotos, tanajuras, lagartas e vassouras de bruxas dispostos a varrer de uma vez o roçado do conservadorismo de encruzilhada.

O Brasil de nossos dias é a prova contextualizada de que não existe castigo, tampouco recompensa. O que existe são consequências. Vale repetir que o plantio é livre, mas a colheita é obrigatória e abundante conforme os princípios do plantador. No caso em questão, com certeza ela se tornará eloquente e tenebrosamente abundante para aqueles que, no dia 8 de janeiro, atacaram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e a sede do Supremo Tribunal Federal. Eles, seus financiadores e provavelmente seus mentores começam a ser julgados pelo plenário virtual do STF desta terça (18) a 24 deste mês. Assim como o caos que eles criaram, esses dias de julgamento serão sombrios e determinantes para o futuro como cidadão dos primeiros 100 acusados do estorvo que criaram.

No dia 8 de janeiro e nos dias subsequentes, 1.390 “pessoas” com instintos pra lá de animalescos foram presas e denunciadas. Dessas, 239 acabaram apontadas como executores e 1.150 como incitadores. Os 100 que abrirão a porta do inferno fazem parte do grupo de radicais que vandalizaram as sedes da Câmara e do Senado. Da mesma forma que não tiveram respeito pelo país que, criminosamente, chamam de pátria e apreço pelos brasileiros que, hipocritamente, chamam de irmãos, os fanáticos seguidores do mito escanteado graças à própria imbecilidade não devem esperar condescendência ou clemência dos homens de toga. Estão colhendo o que semearam. Aguardem, pois uma famosa cena carioca dos anos 80 se repetirá: o chumbo da insanidade explodirá no colo de quem o espalhou.

Antes de sentarem no pau duro do banco dos réus, todos já foram condenados à morte cidadã pela sociedade de bem, nela incluída muitos dos que, desafortunamente, um dia apoiaram os desatinos de um presidente que se dizia messias. A depender da manifestação da Procuradoria-Geral da República (PGR), a cana será dura e impiedosa. Ainda que travestidos de patriotas, os bandidos do 8 de janeiro são acusados, na linguagem judicial, de crimes como associação criminosa armada; tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de direito; dano qualificado, com emprego de violência e uso de material inflamável; e deterioração do patrimônio tombado. No linguajar mais popularesco e menos poético, eles são réus por novamente tentarem retirar do povo um de seus maiores bens: a liberdade.

Mais uma vez recorro à metáfora do plantio e da colheita para lembrar que o sentido figurado se aplicará justamente àqueles que, em breve, perderão o que queriam que perdêssemos. Ainda é cedo para afirmar que o julgamento do STF deve representar o início do fim dos golpistas de 8 de janeiro. Também faltam elementos para assegurar que a extrema-direita sob o comando claudicante tenente Bolsonaro deverá submergir. Cedo ou tarde, o fato é que eles (os golpistas) jamais imaginaram viver o que estão vivendo. Sob o comando do messias, acreditaram que chegariam fácil ao nobre, lúdico e afrodisíaco paraíso da tirania, onde poucos mandam e todos obedecem. Isto a Globo mostrava – e mostra – todos os dias, mas o fanatismo sempre os impediu de alcançar o didatismo da informação.

Deram com os burros n’água. “Corrigindo” uma frase de Nelson Rodrigues, “não há ninguém mais bobo do que um” direitista sincero. “Ele não sabe nada. Apenas aceita o que meia dúzia de imbecis lhe dão para dizer”. Portanto, esqueceram que, entre o plantar e o colher, existem o regar e o esperar. Se apressaram e apodreceram tudo. No fim e ao cabo, plantaram armas e quase colheram corpos no chão. O Supremo Tribunal Federal provavelmente os condenará, mas o julgamento final será de Deus. Por hora, trabalhemos para evitar situações semelhantes no futuro. Aproveitemos o tempo que nos é dado para copiar a máxima do filósofo grego Pitágoras: “Eduquem as crianças para que não seja necessário punir os adultos”

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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