Felipe Resk
A poucos metros de dobrar a esquina de casa, em Itaquera, na zona leste de São Paulo, a universitária Janaína Mitiko, de 30 anos, foi surpreendida pela abordagem do ex-namorado, que desceu de repente de um carro estacionado na Rua Mapixi. Soldado da Polícia Militar, Márcio Lima, de 31 anos, empunhava uma pistola .40. “Deixa eu viver minha vida em paz”, foi a última frase que testemunhas ouviram Janaína dizer, antes de ser atingida por ao menos 14 disparos, a maior parte deles no rosto. Eram 22h30.
O namoro durou um ano e um mês, até Janaína decidir dar um fim à relação no Natal passado. Os dois tinham acabado de retornar de uma viagem para o Ceará, mas a estudante vinha sofrendo ameaças e agressões, segundo familiares. “Ele era possessivo, bebia muito. Ela não podia dar bom-dia para ninguém”, afirma Henrique Novaes, de 35 anos, cunhado da vítima. Em um dos episódios, o policial teria apontado uma arma para a cabeça dela no apartamento onde morava. “Ele queria obrigá-la a ficar com ele ”
Lima tentou reatar o namoro e ligava para familiares de Janaína, pedindo ajuda. Antes de assassiná-la, ele telefonou para Novaes e os dois passaram cerca de quatro horas conversando na noite desta quarta-feira, 11. “Pede para ela voltar comigo, senão eu vou fazer besteira. Me ajuda. Eu vou matar ela”, teria dito o PM “Se concentra nas competições”, aconselhou Novaes. O soldado é lutador de jiu-jitsu. “Fiquei segurando ele no celular, mas ele me enganou. Pelo horário da ligação, ele já estava esperando ela chegar”, diz.
Os peritos coletaram 14 cápsulas calibre .40 no local do crime. Segundo a Polícia Civil, o soldado trabalhava no setor de inteligência da PM e se apresentou na 1ª Companhia do 39.° Batalhão Metropolitano (BPM/M), onde foi preso em flagrante por homicídio doloso. Ele vai responder a três qualificadoras: motivo torpe, recurso que impossibilitou defesa da vítima e feminicídio.
Foram apreendidas duas pistolas com o suspeito. O soldado da PM preferiu ficar em silêncio durante interrogatório no 24.° Distrito Policial (Ponte Rasa). Ao fim, foi conduzido ao Presídio Militar Romão Gomes, na zona norte da capital paulista
O veículo usado no crime está registrado no nome de Janaína – um favor que ela havia feito ao ex-namorado, que pagava o carro. Na manhã desta quinta-feira, 12, familiares lavaram o sangue que estava na calçada. Em um saco plástico, recolheram um brinco e uma cápsula deflagrada que escaparam da perícia. Também guardaram quatro dentes de Janaína, ainda com aparelho odontológico preso.