Caos nas ruas do Recife
PM leva bola entre as pernas e permite violência de torcidas
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emMesmo de longe, aqui em Aracaju, ainda causa sentimento de desprezo e angústia a violência que resultou do confronto entre as torcidas do Santa Cruz e do Sport, na manhã do último sábado. Os comentários são de que as cenas de guerra civil poderiam ter sido evitadas se a Polícia Militar de Pernambuco tivesse feito o seu dever de casa. No dia anterior à batalha entre torcidas, a Secretaria de Defesa Social havia recebido um relatório da Inteligência da Polícia Civil do estado, alertando para a possibilidade do confronto. Além disso, a torcida organizada do Santa Cruz informou por ofício ao comando da PMPE, com 24 horas de antecedência, que naquela manhã sairia desfilando pelas ruas em direção ao estádio do Arruda, onde a partida entre os dois times seria realizada, à tarde.
Em vez de assumir a sua responsabilidade, a Secretaria de Defesa Social e a própria governadora Raquel Lyra transferiram para os clubes o ônus do confronto, que teve um saldo de 17 feridos, um em estado grave que continua internado na Hospital da Restauração e cerca de 20 torcedores presos. Entre esses está um torcedor do Sport que já havia participado, no ano passado, do ataque à delegação do Fortaleza, que depois de enfrentar o rubro-negro da Ilha do Retiro teve seu ônibus destruído por apedrejamento, numa ação que deixou feridos e traumatizados jogadores do clube cearense.
Um decreto de Raquel Lyra publicado em edição extra do Diário Oficial do estado, no domingo, , proibiu Santa Cruz e Sport de receberem torcida em seus próximos cinco jogos, punição que resultará em grandes prejuízos financeiros para os dois clubes. Dirigentes desses clubes reagiram ao decreto, afirmando que o confronto das torcidas era uma questão de segurança pública, uma vez que não ocorreu nas dependências de nenhum deles nem durante a realização do jogo. A punição também atinge os torcedores que vão pacificamente aos estádios assistir aos jogos dos seus times.
Embora o secretário de Defesa Social, Alessandro Carvalho, que responde pela segurança pública no estado, tenha afirmado que os fatos que ocorreram “fugiram do padrão esperado”, a verdade é que não ele não pode alegar surpresa ou desconhecimento do que estava para acontecer na manhã de sábado. Um dia antes, um relatório produzido pela Delegacia de Repressão à Intolerância Esportiva alertou a Secretaria sobre confrontos combinados pelas redes sociais pelas duas torcidas organizadas.
O documento documento desce a detalhes, como o mapeamento dos pontos considerados mais críticos pela Polícia Civil e as imagens reproduzidas em redes sociais com a “convocação” para os atos de violência no sábado. O relatório destaca que as torcidas Explosão Coral (antiga Inferno Coral) e Jovem do Leão (antiga Jovem do Sport) estavam usando as redes para “disseminar o ódio e a rivalidade entre os envolvidos”. E que o monitoramento, também com ajuda de informantes, apontou que as organizadas estavam marcando “pistas”, ou seja, brigas de rua entre os integrantes das torcidas rivais, e que veículos de apoio – carros e motos – seriam usados pelos torcedores para guardar materiais como barrotes e artefatos explosivos.
Embora dispondo de todas essas informações com uma antecedência de 24 horas, a Secretaria de Defesa divulgou uma nota onde afirma que “apesar de todo o planejamento e da tentativa de antecipar possíveis crises, os fatos fugiram do padrão esperado, exigindo uma resposta rápida e firme das forças de segurança. O efetivo atuou para evitar mortes e minimizar danos às pessoas e ao patrimônio, dispersando os grupos envolvidos e controlando os confrontos da maneira mais ágil possível”. A despeito de tudo o que aconteceu, Alessandro Carvalho negou erros no esquema de segurança: “Não houve falha no policiamento”, frisou.