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Pesadelo da picanha

Pobres temem que governo Lula 3 só vá pra frente com topada do presidente

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr

Dois anos após trocar uma expectativa de caos pela esperança de recuperação e de mudança, o povo brasileiro está de volta à encruzilhada. A dúvida é voltarmos, em parte, ao que era antes ou ficarmos, no todo, onde estamos. Em parte ou no todo quer dizer que, caso vença, a direita da moda é mais comedida, isto é, muito menos radical. Quanto à esquerda, a impressão é que tudo continuará como dantes. Pelo andar da carruagem, qualquer que seja a decisão haverá arrependimento. Ou seja, recuamos à época em que só tínhamos duas opções: correr do bicho ou ficar e ser comido por ele. O fenômeno inflacionário enfrentado atualmente pelos brasileiros não é isolado.

Os Estados Unidos, a Europa e toda a América sofrem do mesmo mal. O problema é o discurso. É dizer que não estamos doentes ou que padecemos somente de uma gripezinha. Não é verdade. E aí que o eleitor para e certamente pensa sobre a possibilidade de ter perdido a oportunidade de se agarrar à tese de que mais vale um seio na mão do que dois no sutiã. O governo mudou, mas o pobre está cada vez mais pobre. Tanto que a picanha, o frango farto e as excursões à Disney se foram com as últimas enxurradas. Tudo bem que os que estão abaixo da linha da pobreza evoluíram. Com um mínimo de sacrifício, eles já conseguem esmolar via PIX, Facebook e Instagram.

Entretanto, a história não muda. O pão dos pobres continua caindo com a manteiga para baixo. No atual contexto do arroz, feijão e do pé de porco com preços de lombo canadense, ficou ainda pior. Hoje, quando um trabalhador anuncia que sobrou um dinheiro no fim do mês é porque ele esqueceu de pagar alguma conta. Como diz o velho enunciado da cartilha dos ricos, pobres são como pneu: quanto mais trabalham, mais lisos ficam. O lado bom é que, por absoluta falta de perspectiva e de apoio do governo, sobra ao pobre a obrigação de ser criativo.

É por isso que, em casa de gente humilde, é tudo na base da reencarnação: morre uma toalha, nasce um pano de chão; morre uma calça brim coringa, nasce um short; morre um extrato de tomate, nasce um copo; morre um pote de margarina, nasce um tupperware. Para os intelectuais, o ruim de ser pobre é ficar com raiva e não poder quebrar nada. O mais difícil é a certeza de que pouca coisa mudou entre um governo de direita e outro de esquerda. Às vezes, o povo incluído nesse segmento tem dificuldade até para entender os verdadeiros objetivos desses dois lados da moeda ideológica.

Os da direita se dizem democratas, mas quase se apossaram à força do comando político do país. Já a turma da esquerda prega o combate ao conservadorismo durante as campanhas eleitorais, mas flerta com o retrocesso tão logo se acomoda no poder. É o jogo de palavras perfeito para provar que os pobres não foram feitos para a política, mas sim para sustentar o poder dos políticos. Há dois anos, os pobres e remediados morriam de medo de uma nova ditadura. Dois anos depois, os mesmos pobres e remediados louvam a democracia, mas morrem de medo de não terem o que comer. Em um país de base agrícola, a comida tem de sobra. O que falta é dinheiro para acompanhar os preços proibitivos dos alimentos.

Picanha virou pesadelo de uma noite mal dormida por conta do pé de galinha sem tempero. O que fazer? Nada, além de esperar por dias melhores. Tomara que esses dias melhores sejam pelo menos amenos com os atuais. Pobre algum tem alguma relação consensual com a crise. Pelo contrário. Com toda certeza, os que temem que pelo fantasma da inflação são os que nada têm. Curiosamente, são os mesmos que torcem pela recuperação dos poderes políticos e administrativos de Lula da Silva. Para eles, o pavor maior é que o Lula 3 empobreça de vez e, a exemplo de qualquer pobre comum, só vá para frente no dia em o presidente der uma topada.

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*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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