Relações humanas
Pode até não ter amor, mas respeito é preciso
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emAs relações humanas são pontes que nos unem e nos edificam. Mas também nos separam e nos distanciam. É mesmo um paradoxo. Sem dúvidas, as nossas relações são o centro de muitas das nossas maiores felicidades. E, ao mesmo tempo, dos nossos maiores desafios e conflitos. Não que a gente planeje mas, às vezes, simplesmente não conseguimos escapar disso.
Por que é tão difícil nos entendermos? Porque somos diferentes, muitos dirão. Mas quem foi que disse que precisamos ser iguais? Aliás, crescemos com as diferenças. É legítimo até ter sentimentos diferentes, afinal, “sentimentos não têm moralidade. Simplesmente acontecem. O que tem moralidade são os comportamentos e as ações que dependem da nossa vontade”.
A frase entre aspas está no livro Para de Chatear a Tua Irmã e Deixa o Teu Irmão em Paz (editora Manuscrito, 2018), o último da portuguesa fundadora da Escola da Parentalidade e Educação Positivas Magda Gomes Dias e autora de dois best sellers (Crianças Felizes, 2015, e Berra-me Baixo, 2016). É um conceito que ela traz do professor americano e israelense Tal Ben-Shahar, especialista em felicidade e criador do curso mais popular da história da Universidade de Harvard.
Poderia ser apenas um livro sobre a relação entre irmãos. Mas, com um olhar atento, você percebe que é sobre amor, aceitação e respeito em qualquer relação. Porque, no fundo, todas as relações têm disputas. Mas isso não nos dá o direito de faltar com o respeito. Nem entre irmãos, nem fora da família. Respeito é a base de tudo.
Há quem se perca, no entanto. Ou até já se perdeu. Sem perceber, talvez?!
Estamos vivendo tempos de muito desrespeito e, pior, de intolerância. Não dá para negar. Nas famílias, nas ruas, nas redes e, acredite, até em fóruns internacionais as manifestações estão por aí. Vide as notícias dos últimos dias com embaixadora brasileira batendo boca com ex-deputado em Genebra, na Suíça, e policial federal questionando palestrante antes do momento oportuno em reunião da ONU em Viena, na Áustria. Estamos passando atestado de desrespeito mundo à fora e tem gente que aplaude.
As relações parecem que estão por um fio. Qual é o caminho para mudança, então? Há especialistas incríveis falando sobre isso, em diferentes âmbitos. Magda, certificada em Inteligência Emocional, Educação Positiva e coaching, apresenta a saída para as famílias: a solução para criar harmonia passa por identificar as raízes do problema, as necessidades de cada pessoa envolvida e cabe aos adultos ajudar as crianças a comunicar e a resolver as divergências.
Não é que esse caminho que funciona entre irmãos pode ser estendido pra nossa vida?!
A verdade é que, muitas vezes, não somos capazes de encaminhar a solução para as divergências porque nos faltam recursos pessoais que nos permitam seguir adiante. Cada um, no entanto, tem de assumir a responsabilidade que cabe a si para desembaraçar os problemas. Por outro lado, tem muita gente que deseja e está trabalhando pra se transformar e ser melhor. Eu faço parte desse grupo.
E, se tudo o que mexe com famílias e com crianças mexe com o futuro, então, talvez, a gente possa voltar a se animar. Temos uma geração de pais e mães que está em movimento para imprimir, dentro de casa, aquilo que querem pra si na vida. Se a gente quer ser ouvido e respeitado nas nossas diferenças – sejam elas quais forem – e quer ser acolhido, a gente precisa fazer isso, desde já, com os nossos filhos. Quem aprende em casa é capaz de semear com mais facilidade.
“Educar é uma das tarefas mais sérias que existem”, destaca Magda no último livro. Se você quer se impor a qualquer custo, isso não é educação. Educação passa por respeito. Aceitação. E amor. É uma trinca capaz de edificar pontes incríveis e transformadoras. Enquanto isso não for realidade pra todos, é só lembrar: a gente não precisa se amar. Mas precisa se respeitar.
*Gravei uma entrevista com a Magda, que está no Brasil para uma formação em Parentalidade e Educação Positivas. Ela dá dicas sobre como a gente pode criar harmonia familiar e conta da trajetória que a transformou numa referência em Portugal e no Brasil. Se não der pra assistir agora, vale a pena ver depois.