O excessivo número de estreias desta semana – 13! -, não tem contrapartida na qualidade. Mas tem para todos os gostos – suspense, violência, comédia, safadeza, até religiosidade. Dois filmes destacam-se pela subversão na abordagem das relações familiares – filha e pai gay em Os Golfinhos vão para Leste e filho e pai transgênero, que virou mulher, em Lola Pater.
A atriz Veronica Perrotta venceu Gramado pelo primeiro e Fanny Ardant é aquela coisa luminosa no segundo. Grande Fanny Ardant. Tem aparecido pouco, ultimamente, talvez porque anda dirigindo bastante. Lola Pater é uma celebração de suja arte como grande atriz. Barreiras – Barrage, Luxemburgo/2017, 112 min. Drama. Dir Laura Schroeder. Com Lolita Chammah, Themis Pauwels e Isabelle Huppert.
A grande Isabelle Huppert divide a cena com sua filha, Lolita Chammah. A história é sobre mulher que volta a Luxemburgo para tentar se reaproximar da filha. O filme foi indicado pelo minúsculo país, oficialmente, um grão-ducado, para tentar uma vaga no próximo Oscar. 12 anos.
Boneco de neve – The Snowman, Reino Unido-EUA-Suécia/2017, 119 min.Suspense. Dir. Tomas Alfredson. Com Michael Fassbender, Rebecca Ferguson e Charlotte Gainsbourg. Mulher desaparece e a única pista é um cachecol rosa enrolado num boneco de neve. Michael Fassbender investiga o caso, que parece coisa de serial killer. O diretor sueco Alfredson fez sensação com sua história de vampiros Deixa Ela Entrar. Dessa vez, a crítica caiu matando, mas ele se defende – os produtores filmaram cenas adicionais para tornar o filme mais assustador. 16 anos.
A Filosofia na Alcova Brasil/2016, 76 min. Drama. Dir. Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez. Com Henrique Mello, e Bel Friósi. A educação sexual da jovem Eugénie. O filme põe na tela o espetáculo teatral do grupo Satyros, baseado na obra do Marquês de Sade. O texto usa o sexo para contestar estruturas sociais e religiosas. O filme deve provocar polêmica porque oferece um verdadeiro festival de genitálias, de todos os tipos e tamanhos. Mas antes que alguém pense em querer proibir, olhe a censura. É para maiores, e vai quem quer. 18 anos.
Gabeira Brasil/2017, 75 min. Documentário. Dir. Moacyr Góes. Com Fernando Gabeira, Ferreira Gullar e Carlos Vereza. Fernando Gabeira fez sensação com sua sunga de crochê nas praias do Rio, no fim dos anos 1970. O documentário reconstitui sua trajetória desde o ativismo político na juventude. A par da personalidade do biografado, também soma a do diretor. O diretor de teatro Góes vem tentando o cinema com resultados irregulares, mas o seu Nelçson Rodrigues, Bonitinha mas Ordinária, mas era bem apreciável. Livre.
Os Golfinhos Vão Para o Leste – Las Toninas Van al Este, Uruguai-Argentina/2016, 83 min. Comédia. Dir. Gonzalo Delgado e Veronica Perrotta. Com Jorge Denevi, Veronica Perrotta e César Troncoso. Filha vem anunciar ao pai, um velho gay que sente o peso da idade, que está grávida. Ele, decididamente, não está pronto para ser avô. A codiretora Verónica Perrotta ganhou o Kikito de melhor atriz em Gramado e o filme possui certo encanto, com seu humor, e personagens transgressores. É curioso como o cinema uruguaio é centrado nessas figuras da terceira idade. Mas, aqui, o protagonismo desloca-se do velho gay, que já não é ‘certinho’, para a filha ‘louca’. O título… Possui um significado, mas é melhor descobrir vendo. 18 anos.
Lygia, Uma Escritora Brasileira Brasil/2017, 75 min. Documentário. Dir. Hélio Goldsztejn. Com Lygia Fagundes Telles, Jô Soares e Maria Adelaide Amaral. A versão estendida, para cinema, do documentário que passou na TV Cultura. Lygia Fagundes Telles, grande escritora, conta como foi vencer o preconceito. Era tão bonita – segue sendo – que o machismo da época da sua juventude considerava um desperdício que também escrevesse. Ora vejas só… Sob múltiplos aspectos, essa mulher fez história, e o filme lembra. 12 anos.
Lola Pater – Lola Pater, França/2017, 95 min. Drama. Dir. Nadir Moknèche. Com Fanny Ardant, Tewfik Jallab e Nadia Kaci. Órfão procura o pai e descobre que ele virou mulher. Fanny Ardant é gloriosa no papel. 14 anos.
Não Devore Meu Coração – Brasil/2017, 106 min. Drama. Dir. Felipe Bragança. Com Cauã Reymond, Eduardo Macedo e Adeli Gonzales. Depois de Reza a Lenda, Cauá Reymond monta de novo na motocicleta, mas a paisagem muda. Ao invés do Nordeste, a fronteira paraguaia. Guerra de gangues, e no meio a história de amor do garoto brasileiro, irmão de Cauã, pela menina paraguaia. Tradição, e modernidade. 14 anos.
Ninguém Está Olhando – Nadie Nos Mira, Argentina-Brasil/2017, 112 min. Drama. Dir. Julia Solomonoff. Com Guillermo Pfening, Elena Roger e Paola Baldion. A nova realidade do cinema do Cone Sul. Mais uma coprodução brasileiro/argentina, como Invisível, já em cartaz, ou Zama, que vai estrear em janeiro. Após romper com Martin, o ator Nico decide abandonar a carreira e começar do zero, em Nova York. Outra histórias sobre comportamentos transgressores (ou libertários). 14 anos.
Pai em Dose Dupla 2 – Daddy’s Home 2, Estados Unidos/2017, 96 min. Comédia. Dir. Sean Anders. Com Will Ferrell, Mark Wahlberg, Mel Gibson. Pai e padrasto dividem a criação das crianças com a mãe. Agora, os pais deles chegam para o Natal e a confusão está formada. Como se não bastassem Mark Wahlberg e Will Ferrell, o filme também tem Mel Gibson, e esse cara, sempre tão polêmico, consegue ser bom em tudo o que faz. Até como comediante? Vejamos. 12 anos.
Por Que Vivemos? Nazeikiru: Nennyo Shounin to Yozaki Enjou, Japão/2017, 86 min. Animação. Dir. Hideaki Oba. Com Katsuyuki Konishi, Ayumi Fujimura e Hideyuki Tanaka. Grande sucesso no Japão, o filme conta a história do budismo através de seguidores de um de seus segmentos, o Terra Pura. A animação, sobre imagens captadas em live action, é anime de ótima qualidade, e tem a ‘mensagem’. É o que os norte-americanos chamam de ‘feel good movie’. Você vai se sentir melhor depois, o que não é pouca coisa nesse mundo que anda tão louco e preconceituoso. 10 anos.
Quando o Galo Cantar Pela Terceira Vez Renegarás Tua Mãe – Brasil/2017, 70 min. Suspense. Dir. Aaron Salles Torres. Com Fernando Alves Pinto, Catarina Abdalla e Tião Ribas D’Avila. Suspense ou terror? Porteiro de prédio tem desejo por morador, a quem vive espiando. A mãe, de quem cuida, torna-se um fardo. Um filme sobre olhar(es). Pode ser interessante. 12 anos.
A Vilã Ak-Nyeo, Coreia do Sul/2017, 129 min. Ação. Dir. Byeong-gil Jeong. Com Ok-bin Kim e Ha-kyun Shin. O cinema sul-coreano é notoriamente atraído por gêneros. Treinada para ser assassina profissional, mulher usa suas hasbilidades para enfrentar o homem que matou seu pai e seu marido. O filme esteve em Cannes, o que pode criar a expectativa de uma obra sofisticada, mas é uma sangueira só. 16 anos.