Depois de meses tentando encontrar o rato que sonhou ter escondido na urna eletrônica, o presidente da República parece que finalmente deu de cara com os bigodes e presas afiados dos gatos do Supremo Tribunal Federal, especialmente do Tribunal Superior Eleitoral, instituição para a qual são dirigidas os maiores e mais absurdos factóides e as mil e uma mentiras que jamais serão recebidas como verdades. Propositadamente de inspiração nazista, o besteirol contra o sistema brasileiro de votação está bem próximo do fim. Cortina de fumaça sem conteúdo algum, a farsa de fraude nas urnas eletrônicas virou memes no Brasil e no mundo, desmascarou lendas que intencionalmente dirigidas à imbecilização do povo e transformou em zumbi um mandatário que um dia acreditou que realmente fosse um mito.
Coisas de quem não se vê como verdadeiramente é. As estrogonóficas e hamburguerianas ameaças já não assustam sequer os ácaros do Palácio do Planalto e da maioria dos prédios da Praça dos Três Poderes e da Esplanada dos Ministérios. Pelo contrário. Elas acabaram por unir magistrados, parlamentares de diferentes correntes, analistas de nuances variadas e técnicos sérios e dispostos a provar que não há uma única fantasiosa prova capaz de macular as eleições nacionais. O fato é que, nunca na história deste país, o povo assistiu reações tão ferozes, embora veladas, como as desses dois últimos dias.
Nas reuniões do STF, do TSE e do Congresso, notadamente nos gabinetes independentes ou da oposição, os adjetivos são contundentes e nada simpáticos. Não sabemos se como resposta ou necessidade de enquadrar aquele que foi sem nunca ter sido, no mesmo dia dos elos criados para desfazer malfeitos o ministro Alexandre de Moraes anunciou uma decisão cabeluda. Do alto de sua reluzente alopecia, determinou que a Polícia Federal retome as investigações sobre a suposta interferência de Bolsonaro na instituição. Os ricochetes do Judiciário tiveram atos ainda mais sintomáticos. Após a última live presidencial, o ministro Gilmar Mendes, ex-presidente do TSE, definiu como “conversa fiada” a pressão pelo voto impresso.
No português jurídico, a fala de Gilmar remete à tese de que a live e um saco de bolas furadas são a mesma coisa. Enquanto isso, os mesmos 11 partidos que já fecharam questão contra a chamada auditagem do voto protocolaram no sábado (31) um requerimento cobrando da Corregedoria-Geral do tribunal esclarecimentos sobre as acusações de Jair Bolsonaro contra as urnas eleitorais. Artisticamente, o presidente continua ignorando informações abalizadas de ministros, técnicos e hackers honestos, além de apelos de parlamentares alinhados com o governo, e insiste com os ataques. Politicamente, porém, está cada vez mais isolado do mundo pensante.
Teve todas as chances de se render ao óbvio, mas tem preferido pensar exclusivamente com o lado direito do fígado e a agir somente com as armas. Não consegue sequer ouvir os conselhos do novo guru do Planalto. Refiro-me ao presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), para quem o sistema eleitoral é confiável e as eleições de 2022 serão limpas e transparentes. Ou seja, queira ou não o presidente, haverá eleições. E, nesses tempos olímpicos, só disputarão medalhas os humildes, os bons e os preparados. Os demais não figurarão nem na repescagem. Pior é que alguns terão de voltar para casa com a certeza de que tiveram oportunidade, mas não aprenderam nada. Em competições coletivas ou individuais, vencem os que não cometem erros ou os que erram menos. Não sobram medalhas para aqueles que erram sempre. Na olímpiada política, o pódio não é para qualquer um.