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Ouro sem o tolo

Pódio das minorias representou safanão na medíocre aristocracia

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo

Acabou o sonho nem tão dourado de Paris. Pensemos, portanto, no que fazer agora. Parafraseando o mestre da poesia contemporânea Raul Seixas, mas que sujeito chato sou eu, que quer sempre contribuir mais e mais para a melhoria do nosso belo quadro social. Eu devia estar alegre e satisfeito por viver em um país democrático, livre, alegre (em parte) e reconhecido pelas grandes potências. Devia. No entanto, confesso, abestalhado, que estou decepcionado porque, no cume calmo do meu olho que vê, ainda observo “patriotas”, quintais, varandas e automóveis embandeirados. Com a boca escancarada, cheia de dentes, eles parecem escondidos em uma sombra sonora à espera de um milagre ou de um disco voador capaz de levá-los de volta ao Jardim Zoológico dos trogloditas.

Mantendo todas as reverências a Raulzito, eu agora me pergunto: “E daí?” E daí que o tempo passou para os tolos que prometiam transformar chumbo em ouro. Ficou para trás a fase sombria e viciadamente marcada pelo ódio e pelo inconformismo criminoso dos poderosos que odeiam o pódio das minorias. Ficamos aquém do que imaginaram os solidários e além do que queriam os anormais da elite conservadora e estúpida. No entanto, não serão percalços aqui e ali que farão o Brasil voltar à época da insignificância internacional. Deixamos de ser pária do mundo. Com apoio de nações que também prezam pela alentada sonoridade da democracia, certamente o calo decorrente da Venezuela de Maduro será aparado com a necessária rapidez.

A atual harmonia entre governo e a maioria do povo brasileiro me faz lembrar sobre os sonhos e anseios patéticos daqueles travestidos de realeza e que, centrados somente na realização pessoal, almejavam a superioridade social, política e econômica a qualquer preço. Perderam o timing e a oportunidade de interagir e de buscar razões menos fúteis para a vida. Para os falsos e estultos alquimistas sobrou a linguagem da realidade. Nela o chumbo não vira ouro, mas o ouro em forma de medalha inquestionavelmente simboliza para o povão uma bofetada no inconformismo dos “patriotas” com aqueles que eles supõem desprovidos.

Podem não ser argentários. Entretanto, são infinitamente mais abastados espiritualmente do que os nobres. Por isso, o prazeroso choro ao alcançar o topo do pódio olímpico. Embora não tenhamos conseguido todos os palanques desejados nos Jogos de Paris, as 20 medalhas, notadamente as três de ouro, também soam como um safanão nas ofensas da elite medíocre e insensata. Tomara que os resultados, todos alcançados pela raia miúda, sirvam de compreensão a respeito dos valores de quem verdadeiramente trabalha pelo país. Sem margem de erro, afirmo que não são os fanáticos por políticos toscos, irracionais e desrespeitosos.

Quem sabe agora os infelizes aristocratas, em vez de se preocupar exclusivamente com o luxo dos carros, iates, relógios, pulseiras, garfos e velas, pensem um pouco mais no valor do respeito, dos abraços e dos sorrisos de quem os banca e os elege. Acabou a era dos trouxas sempre prontos para engolir o que lhe empurravam goela abaixo. Hoje, só os cegos pela ignorância acreditam que a extrema-direita realmente condena e deseja o extermínio de Nicolás Maduro. Esses são aqueles que dizem que o Brasil de Lula é comunista, mas não sabem e jamais procuraram saber o que significa o vocábulo que repetem como velhos macacos de auditório.

São os mesmos que não admitem ouvir que o Brasil de Bolsonaro não passou de um arremedo daquela ditadura que, por 21 anos, torturou e matou. É verdade que Jair não matou ninguém, mas, por sua conta e risco, deixou morrer. E mataria caso fosse reeleito. Mas que sujeito chato sou que olha no espelho e só vê patriotas usando “10% de sua cabeça animal”. Tentando não achar tudo isso um saco, torço para que o democrata presidente Luiz Inácio não gaste mais suas preces com defunto maldito. Manchar sua biografia com um ser desprezível e selvagem como o ditador da Venezuela é o mesmo que contribuir para a epifania de um mito inventado no trono de um apartamento de um dito cidadão respeitado. Se querem o ouro sem o tolo, é Rebeca Andrade para presidente, Beatriz Souza para vice e Ana Patrícia e Duda para presidentes da Câmara e do Senado.

*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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