Novo normal
Polarização política lembra a guerra diária entre o tráfico e a milícia

Polarização é a palavra da moda em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e em todas as cidades que respiram política 24 horas por dia. Técnica, pragmática e obviamente, o significado lógico do termo é a divisão da sociedade em polos, isto é, limitar a disputa entre dois grupos que se fecham em suas convicções e não se abrem para o diálogo com outras vertentes. Naturais dos extremos, esses grupos de políticos pouco preocupados com mudanças efetivas se alimentam de uma ou de outra direção para angariar apoio às suas ideias. Não há concorrência nos debates, tampouco sentimentos adversários.
O que há de concreto é uma necessidade visceral de um extremo avaliar o antagônico como inimigo perigoso e que precisa ser aniquilado. O pior é que as lideranças diplomadas e doutoradas na arte da enganação, carregam multidões para seus currais. Exatamente o que acontece hoje no Brasil de vários Brasis, cada um pior do que o outro e com idiossincrasias, posicionamentos, dificuldades e cobranças díspares. Embora tenha o mesmo peso em uma eleição, é uma cretinice achar que o voto dos eleitores do Sul e do Sudeste tem o mesmo reflexo do Nordeste no dia a dia dos parlamentares.
São pontos de vista conflitantes, mas, com a idiotice da polarização, as visões discordantes deixam de ter eco. Viram palavras absurdas e estranhas aos ouvidos dos polarizadores. Na minha humilde opinião de analista informal, isso não é política partidária destinada a melhorar a vida do povo. É uma guerra fratricida pelo espaço alheio. Aquele sujeito me incomoda e, por isso, deve morrer para que eu ocupe o lugar dele. Isso não é política. É a luta diária entre o tráfico e a milícia. Portanto, no atual cenário nacional, em lugar de algo salutar, polarização é uma coisa perniciosa, negativa, fora do contexto brasileiro.
Minha ideologia libertária e amplamente democrática me obriga a escolher o lado menos radical em um pleito polarizado. Foi o que fiz em 2018 e em 2022. Caso a divisão permaneça, é o que farei em 2026 e daí por diante. Assim como, respeitosamente, vejo vida além de Luiz Inácio e de Jair Bolsonaro, não imagino o Campeonato Carioca sendo disputado pela dupla Fla Flu, muito menos o Brasileirão polarizado entre Flamengo e Palmeiras. Viraria uma ação entre amigos que se acham inimigos, mas, no fim e ao cabo, têm de se engolir. Longe de querer pensar como bedel político, vejo o novo normal da política nacional como a desnecessidade da própria política, que, conforme os sábios, nasceu em decorrência das diferenças de opiniões entre as pessoas.
Obviamente que tudo isso é fruto das facções que fazem dos extremos o suposto rompimento com o centro. Suposto porque, enquanto os extremistas se matam, os centristas viram fiéis da balança e enriquecem às custas da sustentação dos governos extremados. E como enriquecem! Como no Brasil há bobo para tudo, a própria sociedade que se divide não percebe o imenso abismo existente entre ela, o sistema, os partidos políticos e o Congresso Nacional, que sempre converge quando as questões de interesse pessoal falam mais alto do que as preocupações da população. Querem prova maior do que a união em torno do projeto que anistia golpistas, corruptos e afins
Ou seja, os falsos atritos terminam em convescotes nababescos tão logo o governo à direita ou à esquerda é formado. Sem programas, propostas ou ideias, mas com enorme voracidade financeira, as 33 legendas registradas na Justiça Eleitoral orbitam em torno do governante que nós, os bobalhões, imaginamos somente ideológico. O Centrão de ontem, de hoje e de amanhã é o exemplo vivo de que os vendilhões não estão nem aí para quem matou ou morreu em nome de Lula ou de Bolsonaro. Acho improvável mudanças a médio e longo prazos no contexto que abomino. Todavia, peço a Deus que ilumine os eleitores do futuro antes que a polarização total nos leve definitivamente para o abismo.
