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Polêmica do Pix provoca desafio de 1 mi de reais entre Haddad e Nikolas

Brasília, palco de tantos debates históricos, tem tudo para assistir agora um duelo diferente, com traços de modernidade e tempero cômico: tiroteio de palavras e, se for adiante, transferências instantâneas de dinheiro. Fernando Haddad, ministro da Fazenda, e Nikolas Ferreira, deputado federal bolsonarista e entusiasta das redes sociais, protagonizam o mais inusitado embate político da temporada. O cenário não é um salão nobre, nem o plenário da Câmara, muito menos a Esplanada dos Ministérios. É o universo virtual.

Tudo começou com uma acusação: Haddad insinuou que Nikolas, apoiado por Carluxo — o filho estrategista de Jair Bolsonaro —, teria orquestrado uma campanha contra as propostas tributárias do governo, notoriamente sobre uma suposta taxação do Pix. Nikolas, com seu jeito provocador, não deixou barato. “Quer provar, ministro? Pois que enfrente o desafio: se conseguir sustentar sua acusação, faço um Pix de 1 milhão de reais ao senhor. Mas, se falhar, espero o mesmo valor na minha conta!. Via Pix, é claro. E sem retenção de encargos”.

As redes sociais, naturalmente, explodiram. Hashtags, memes e enquetes dominaram o cenário digital, capaz de transformar a discussão em um espetáculo nacional. Uns questionam o procedimento das acusações de Haddad; outros ironizam a coragem do deputado em bater de frente com o homem responsável pelas finanças do governo, mas que, admite, fica difícil de tirar do vermelho.

Enquanto isso, os brasileiros, que já têm o Pix como parceiro inseparável na vida cotidiana, acompanham com olhos atentos. Afinal, o duelo não é apenas uma disputa de egos ou uma guerra de narrativas, mas também um lembrete irônico das mudanças que quase chegaram ao bolso do povo – povo no sentido daquele microempreendedor, já sufocado com tantas obrigações sociais.

Seja qual for o desfecho, há algo curioso nessa história: enquanto os protagonistas confrontam a ideia de transferências milionárias, o cidadão comum segue enviando “10 reais rapidinho” para pagar o almoço ou “50 centavos só pra testar o sistema”. E assim, o Brasil assiste, com humor ácido e olhos críticos, ao espetáculo de um duelo que, no fundo, só serve para acirrar ânimos.

Não se trata de ficção, mas a mais recente troca de farpas entre o ministro e o deputado trouxe à tona a criatividade do cenário político quando estão em cena dois antagonistas. É um duelo moderno, sem pistolas ou floretes, mas com cifras digitais e egos inflamados. De um lado, vemos um ex-prefeito de São Paulo, intelectual, com fama de ser ponderado, mas que sabe como contra-atacar. Do outro, um jovem e entusiasta deputado que domina como poucas nuances do jogo das redes sociais, onde ser viral é quase tão importante quanto ocupar um gabinete na Praça dos Três Poderes, que não um da Câmara.

Enquanto Haddad se apega à acusação das fake news, Nikolas se diverte com a audiência. O duelo extrapola o campo das palavras e invade a performance pública. Quem está certo? Quem está errado? Pouco importa. O espetáculo, embora não circense, tem ares de disputa acirrada entre um representante do lulismo e outro do bolsonarismo.

Nos bastidores de Brasília, a plateia se divide. Uns veem em Haddad um defensor da seriedade institucional; outros, em Nikolas, a ousadia de quem desafia o sistema. No entanto, há um ponto em comum: ambos sabem que a política, hoje, é tão pautada pela narrativa quanto pela ação.

No fim das contas, talvez nunca saibamos quem vencerá esse duelo de 1 milhão de reais. Mas uma coisa é certa: a política brasileira continua sendo um palco onde os personagens principais sabem que, mais do que vencer, o importante é não sair de cena.

Se desse imbróglio sair algum Pix, que ao menos venha acompanhado de uma mensagem. Algo do tipo: “Prova recebida com sucesso.”

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Marta Nobre é Editora Executiva de Notibras

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