Saulo Araújo
O Lago Paranoá é um dos pontos turísticos mais democráticos da capital do País. Lugar de encontro de pessoas de todas as classes sociais, é, há muitos anos, a principal atração da cidade para praticantes de esportes náuticos, banhistas e pescadores. Com tanta gente no espelho d’água ao mesmo tempo, a segurança tornou-se elemento fundamental para o uso harmônico do reservatório artificial, missão de responsabilidade da Companhia Lacustre da Polícia Militar do Distrito Federal.
Fundada em 1990, a companhia tem relevante papel na proteção das águas do Paranoá e de outras localidades no DF que tenham recursos hídricos. O pelotão formado por 30 praças e oficiais atua na preservação e no combate a crimes, como a pesca predatória. A bordo de lanchas que alcançam até 100 quilômetros por hora, os militares patrulham as águas para coibir a prática. Para pescar em qualquer manancial público, é preciso ter uma autorização do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), conforme preconiza a Portaria nº 4, de 2009.
Em 5 de dezembro, acompanhamos uma ronda do grupamento. O pescador Ananias Alves Soares, de 53 anos, foi um dos abordados. Ciente das obrigações, apresentou de imediato aos militares a carteirinha do Ibama, documento que lhe permite pescar no lago. “O trabalho deles é muito importante, pois tem muito pescador clandestino aqui, o que acaba prejudicando quem é profissional e trabalha na legalidade”, disse.
Incorporado em agosto de 2016 ao Batalhão de Policiamento Turístico, a Companhia Lacustre da PMDF passou também a focar suas ações em locais que recebem grande concentração de turistas. Rondas na Ermida Dom Bosco, no Pier 21, na Prainha e na Ponte JK foram intensificadas. A atuação desses policiais já evitou brigas com consequências mais graves em lanchas; o grupamento também fez apreensão de armas de fogo e flagrante de uso e tráfico de drogas em embarcações.
Além disso, roubos ou furtos são coibidos nas margens do Paranoá. “Não temos somente o foco no crime ambiental. A intenção é proporcionar um ambiente seguro, saudável e limpo para todo cidadão que usa o lago”, ressaltou o subcomandante do Batalhão de Policiamento Turístico e comandante da Companhia Lacustre da PMDF, capitão Werner Miquelino.
A companhia trabalha em contato permanente com outras instituições. Caso os militares se deparem com algum condutor de embarcação aparentemente embriagado, a Marinha do Brasil é imediatamente acionada, pois é a força que é equipada com bafômetros. Já no caso de pesca predatória, o suspeito é levado à Delegacia do Meio Ambiente (Dema), da Polícia Civil.
As mansões e os clubes às margens do espelho d’água também contam com a proteção do grupamento. Normalmente são esses militares os primeiros a atuar em casos de delitos cometidos nesses locais. Até ocorrências que não competem diretamente à companhia são corriqueiramente atendidas, como a captura de animais em quintais de casas e o socorro a pessoas que ficam exaustas em pranchas de stand up paddle e não conseguem regressar ao píer.
O sargento Edmar Sá está na Companhia Lacustre desde a fundação, em 1990. Ele coleciona histórias de operações no lago. A mais marcante foi o naufrágio com o barco Imagination, em 22 de maio de 2011, que matou nove pessoas. O sargento conta que a tragédia poderia ter sido maior se não fosse a resposta rápida do pelotão. “Fomos a primeira equipe a chegar ao local e conseguimos resgatar cinco pessoas que estavam se afogando”, relembrou.
Com emoção, ele também se recorda de um amigo morto durante uma operação de rotina. “Durante um serviço, no início dos anos 2000, esse colega fez uma abordagem a um pescador ilegal, se desequilibrou, bateu a cabeça no motor da embarcação e morreu afogado. Foi uma fatalidade”. A maior lancha do grupamento foi batizada em homenagem ao cabo Rocha.
A Companhia Lacustre teve papel de destaque durante os Jogos Olímpicos de 2016. Em 3 de maio, dois atletas e um policial militar do Batalhão de Operações Especiais (Bope) tiveram a honra de conduzir a Tocha Olímpica pelo Lago Paranoá. Todos os envolvidos foram escoltados por embarcações do grupamento. Durante a permanência das seleções que jogaram em Brasília, os militares da companhia ficaram de prontidão nas proximidades do Hotel Royal Tulip, onde as delegações estavam hospedadas.
Agência Brasília