Marta Nobre, Edição
O cerco ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está se fechando. Nesta sexta, 26, ele, a ex-primeira-dama Marisa Letícia e mais três pessoas foram indiciados pela Polícia Federal.
A acusação é corrupção ativa, passiva e lavagem de dinheiro por suspeita de irregularidades na aquisição e reforma de um apartamento tríplex do Edifício Solaris, em Guarujá, litoral de São Paulo, e no depósito de bens do ex-presidente.
No inquérito de Lula e Marisa foi possível identificar os dois como beneficiários de vantagens ilícitas, por parte da empreiteira OAS, em valores que alcançam R$ 2,4 milhões referentes a obras de reformado tríplex, bem como no custeio de armazenamento de bens do casal.
Os outros três denunciados pela PF são José Adelmario Pinheiro Filho (conhecido como Léo Pinheiro), ex-presidente da OAS, o arquiteto Paulo Gordilho, e o presidente do Instituto Lula Paulo Okamotto.
Veja os crimes que cada um será investigado
Lula – corrupção passiva, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro;
Marisa Letícia– corrupção passiva e lavagem de dinheiro;
Léo Pinheiro – corrupção ativa, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro;
Paulo Gordilho – corrupção ativa e lavagem de dinheiro;
Paulo Okamotto – corrupção passiva, falsidade ideológica e lavagem de capitais.
A apuração do inquérito teve como ponto central reforma realizada no tríplex, construído pela Bancoop (Cooperativa Habitacional do Sindicato dos Bancários), que teve como presidente o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto – preso desde abril de 2015. O imóvel foi adquirido pela OAS e recebeu benfeitorias da empreiteira, acusada de corrupção na Petrobras. Segundo a investigação, o ex-presidente seria o verdadeiro dono do imóvel. A defesa do petista nega e diz que a família tinha uma cota-parte em outra unidade do empreendimento e desistiu de comprar o tríplex sob suspeita.
É o primeiro indiciamento formal contra Lula nas apurações da Lava Jato em Curitiba. A conclusão do inquérito da PF, com o indiciamento dos investigados, antecede o passo de denúncia criminal a ser apresentada pelo Ministério Público Federal ao juiz federal Sérgio Moro, que conduz os processos do caso em primeira instância. Os procuradores pediram 90 dias para oferecer denúncia no caso.
Lula foi alvo de condução coercitiva no dia 4 de março, quando foi deflagrada a 24ª fase da Lava Jato, batizada de Operação Aletheia. Na ocasião, ele negou conhecer o engenheiro da OAS Paulo Gordilho, que teria participado da reforma da cozinha do tríplex e de outra propriedade que investigadores atribuem a Lula, o sítio de Atibaia (SP). Nesta quinta-feira, 25, foi divulgada uma foto em que Gordilho aparece ao lado do petista.
Investigações – Outro inquérito, em fase final, investiga compra e reformas no sítio Santa Bárbara, em Atibaia, interior de São Paulo. O imóvel, segundo a Lava Jato, pertence a Lula e recebeu obras da OAS e da Odebrecht. Um terceiro inquérito da PF vasculha pagamentos e doações à LILS Palestras e Eventos e ao Instituto Lula.
A PF suspeita que a LILS e o Instituto receberam valores de empreiteiras contratadas durante os dois mandatos de Lula (2003/2010).
Investigadores da força-tarefa em Curitiba reuniram elementos para apontar a participação de Lula no esquema de cartel e corrupção que vigorou de 2004 a 2014, na Petrobras e que teria se espalhado em outras áreas do governo, como contratos do setor de energia, concessões de aeroportos e rodovias. Com base em uma sistemática de corrupção, empreiteiras, em conluio com agentes públicos e políticos da base, PT, PMDB e PP, em especial, teriam desviado de 1% a 3% em contratos das estatais. Um rombo de pelo menos R$ 6,2 bilhões, só na Petrobras.
Lula teria recebido “benesses” das empreiteiras do cartel, como Odebrecht, OAS e outras. Executivos dos dois grupos empresariais negociam desde o início do ano acordos de delação premiada com o Ministério Público Federal.