Rafael Italiani
A Polícia Civil prendeu 17 membros do Primeiro Comando da Capital (PCC) que se preparavam para ouvir, julgar e executar Carlos da Silva, de 60 anos, que supostamente teria estuprado uma adolescente em uma comunidade dominada pela quadrilha. O “juiz” do tribunal do crime que iria determinar a sentença e também aplicar a pena máxima com tiros de pistola calibre 380 contra o “réu” é Gláucio Dias da Silva, de 40 anos, conhecido como Magnata e é apontado como o chefe do tráfico de drogas na zona oeste da capital. Um matador de PM também foi detido.
De acordo com o delegado Alberto Pereira Matheus Junior, divisionário do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc), o bando foi detido em flagrante nesta quarta-feira, 2, dentro uma casa de alto padrão na cidade de Cotia, na Grande São Paulo. Nenhum tiro foi disparado.
Entre os criminosos estava Everton de Oliveira Brito Paiva, de 29 anos, o Barney, acusado de executar em janeiro deste ano o policial militar Edvanderson Neves, em Carapicuíba, também na Região Metropolitana.
No imóvel, a polícia apreendeu uma metralhadora, R$ 16 mil em notas de dinheiro, sete carros, dezenas de celulares, maconha e o saco onde Silva seria embalado depois de morto. Após o julgamento, o bando faria um churrasco de confraternização.
Magnata ocupa o cargo de “final” no organograma do PCC, cargo de confiança dado aos que gerenciam os pontos de venda de droga e comandam outros crimes. “Esse indivíduo é o responsável pela coordenação de todo o crime praticado pela organização criminosa na região oeste, pela arrecadação, venda da droga e também, entre aspas, pela manutenção da suposta ordem que é aplicada aos membros que acabam cometendo algum deslize, que fira os conceitos que eles têm como corretos”, explicou o divisionário do Denarc.
Ele disse que a família da suposta vítima de estupro seria levada até o local para fazer o reconhecimento do homem que estava sendo julgado. “É bizarro. Mas estavam esperando a família e a vítima para formalizar o reconhecimento.” O policial acredita que o caso que os criminosos iriam julgar não foi registrado em nenhuma delegacia de polícia. “Quando esses casos chegam ao crime organizado é porque não houve registro policial”, afirmou. Ainda segundo ele, os criminosos preferem resolver entre eles os casos policiais para evitar a presença do Estado dentro de comunidades dominadas pelo PCC.
Mesmo desbaratando parte do crime organizado na capital, Matheus Junior acredita que em pouco tempo o cargo de Magnata será ocupado em breve por outro integrante da facção.
Perfil do ‘juiz’ – O Magnata usa roupas de grife, tem tatuagens, visual de surfista e é conhecido por ser “implacável” e “extremamente violento”. Namorador, o membro do alto escalão do PCC é suspeito de ter assassinado uma ex-mulher no aniversário dela e uma outra companheira no Dia dos Namorados.
De “juiz” a acusado da Justiça, agora Magnata pode se tornar réu também no tribunal dos criminosos. Nas investigações feitas pelo Denarc, consta que ele tinha um relacionamento com a mulher de um preso que também é integrante do PCC. No mundo do crime, a sentença é a mesma que seria dada ao suposto estuprador: a morte
Início – A operação que impediu um tribunal do crime é desdobramento de uma outra ação do Denarc, realizada em setembro deste ano, quando 11 integrantes do PCC foram detidos em um chácara de alto padrão na cidade de Mairinque, no interior do Estado. Esses membros, no entanto, pertenciam ao alto escalão em cargos conhecidos como “Estado Maior” ou “Estado Final”. Eles eram os responsáveis em passar as planilhas de contabilidade para os líderes presos, entre eles Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola.