Pernambuco
Polícia Rodoviária enche bolso ao forjar flagrante de bebida em turista sóbrio
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Se você está pensando em vir a Pernambuco nos próximos dias, junto com muita gente que gosta de passar o Carnaval em Recife e Olinda, tenha cuidado se sua visita incluir uma passagem nas paradisíacas praias do litoral sul do estado, como Porto de Galinhas, a mais badalada da região. É que por ali tornou-se um hábito, sem que as autoridades busquem solução, o assalto aos turistas, pasmem, por quem teoricamente teria o dever de protegê-los: os policiais militares.
Esta semana, com o registro de um novo caso, elevou-se para três, em pouco mais de quatro meses, o número de extorsões praticadas por policiais militares do Batalhão da Polícia Rodoviária Estadual (BPRv) contra turistas na rodovia que dá acesso às praias de Muro Alto e Porto de Galinhas, no município de Ipojuca. Desde outubro do ano passado esses casos vem ocorrendo no mesmo posto policial, sem que a Polícia Militar ou o Governo do Estado tenha tomado providências.
As vítimas desta semana foram um casal de turistas gaúchos, que teve seu carro foi interceptado quando passava pelo posto da Polícia Rodoviária Estadual. Na abordagem, os dois policiais de serviço forjaram um falso flagrante de consumo de bebida alcoólica pelo motorista, para justificar uma multa e apreensão do veículo. Tudo isso seria esquecido se o casal se dispusesse ao pagamento de uma propina de R$ 3 mil, em dinheiro vivo, e o casal, que passava férias pela primeira vez em Pernambuco, seria liberado.
De acordo com a coluna “Segurança”, do Jornal do Commercio, que teve acesso com exclusividade ao boletim de ocorrência registrado na Delegacia de Porto de Galinhas, a abordagem aconteceu no dia 7 de fevereiro. Segundo relato do motorista, Fabricio Martins, a dupla de PMs ordenou que o carro fosse parado e pediu que ele apresentasse a carteira de habilitação. Em seguida, mandou que somente ele entrasse no posto do BPRv para realizar o teste do bafômetro.
O exame teria apresentado um resultado positivo para consumo de álcool, o que chamou a atenção do turista. Ele relatou, na queixa, não ter consumido bebidas naquele dia. Apenas tomado café da manhã com a esposa. Um dos policiais, segundo o turista, teria pedido R$ 3 mil em espécie para liberá-lo com a carteira de habilitação. Fabrício disse que não tinha o valor, mas se ofereceu a pagar com um pix.
Os policiais não teriam aceitado. Em meio às “negociações”, um militar teria mandado o motorista ir até um posto de combustíveis próximo para sacar R$ 400, que seria dividido entre os dois PMs. Ainda determinou, segundo a vítima, que o dinheiro fosse entregue no posto do BPRv, onde não há câmeras. Depois, seria feito um “segundo teste do bafômetro” para que o resultado não indicasse o consumo de álcool, sendo o casal foi liberado após ter efetuado o pagamento.
Em entrevista à coluna, Fabrício contou que estava com a esposa passando sete dias na praia de Maracaípe, que fica junto a Porto de Galinhas. Mas que, após o episódio, ambos ficaram assustados e não conseguiram mais aproveitar os dias de descanso.
“A viagem se tornou um pesadelo. Decidimos fazer a denúncia na delegacia após sabermos por moradores que essas abordagens policiais eram muito comuns na área. Nos sentimos muito inseguros”, contou.
Segundo ele, os policiais estavam fardados, mas não exibiam a identificação.
“O posto também não tinha câmera e os vidros das janelas eram escuros. Minha mulher ficou do lado de fora e tentou observar a movimentação. Ficou muito preocupada. Foram cerca de 20 minutos”, disse.
O turista disse que não pretende voltar a Pernambuco após o episódio. “Nunca imaginei passar por isso. E pretendemos processar o Estado.”
O boletim de ocorrência foi registrado no dia seguinte à abordagem policial. Em nota, a Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS) informou que, por se tratar de um crime militar, “instaurou uma Investigação Preliminar (IP) para verificar os fatos ocorridos”.
Disse ainda que “não compactua com qualquer de desvio de conduta e reafirma seu compromisso com a segurança e o bem-estar da sociedade pernambucana”.
Mas não há provas desse “compromisso”. Em outubro do ano passado, outro casal de turistas, que seguiam da praia de Maragogi, em Alagoas, com destino a Porto de Galinhas, sofreu uma abordagem semelhante. Na ocasião, os PMs teriam cobrado dinheiro após o motorista confessar que havia consumido bebida alcoólica nas últimas horas.
Os celulares do casal descarregaram, e a transferência não foi feita. Os PMs passaram um número de CNPJ, dizendo ser a chave do pix, e determinaram que o pagamento fosse realizado até as 19h daquele dia, caso contrário o motorista seria multado. O casal foi embora do local e procurou a ajuda de um advogado. A quantia não foi repassada.
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