A partir de sexta-feira, policiais militares vão ocupar mais quatro comunidades do Complexo da Maré, em substituição às tropas do Exército que, desde abril do ano passado, atuam no conjunto de favelas. Desta vez, as localidades atendidas serão Parque União, Nova Holanda, Rubens Vaz e Nova Maré. Há três semanas, 50 homens do Batalhão de Choque assumiram o patrulhamento das comunidades Roquete Pinto e Praia de Ramos, na primeira etapa do processo de transição das forças de segurança para a instalação de UPPs no Complexo.
A cúpula da PM vai se reunir durante este domingo para finalizar o plano da operação. A ideia é que, inicialmente, policiais do Comando de Operações Especiais (COE), que compõem os esquadrões de elite da corporação, ocupem a região, enquanto a turma de novos militares que vai preencher os quadros das UPPs desses locais não se forma. A PM ainda não divulgou o efetivo dos batalhões de Operações Especiais (Bope), de Choque, e de Ações com Cães (BAC) que irá para a Maré.
Os empreendedores locais foram os primeiros a saber da novidade: temendo prejuízos com novas ordens a partir da troca, a organização do Forró do Parque União cancelou um show da Banda Calypso, que aconteceria domingo que vem. “O Exército nos informou que só poderia autorizar eventos até o dia 30 de abril. Depois disso, o comando será da Polícia Militar”, afirma Anderson Gomes, um dos organizadores da festa, que acontece há mais de 20 anos em uma praça próximo à Avenida Brasil. Segundo ele, a banda de forró receberia um cachê de R$ 50 mil, valor que ele julga alto demais para correr o risco de pagar sem a confirmação do evento.
Juntas, as quatro comunidades que vão receber os PMs abrigam mais de 40 mil moradores, que viviam subjugadas por quadrilhas do Comando Vermelho antes da Força de Pacificação do Exército ocupar o território. No entanto, a venda de drogas no reduto da facção criminosa se mantém praticamente intocada, já que o chefão da quadrilha continua solto e controlando, com mãos de ferro, seu séquito de 150 comparsas. A liberdade dele não é por falta de mandados: desde 2006, há pelo menos cinco pedidos de prisão pendentes na conta de Jorge Luiz de Moura Barbosa, o Alvarenga, escorregadio traficante que pode se gabar de ser o único integrante da cúpula da facção que nunca esteve atrás das grades.
Polícia estima que bando tenha mais de 100 fuzis
O traficante Alvarenga construiu seu ‘império do crime’ alimentando o vício das drogas em viciados, principalmente em crack, um dos entorpecentes mais vendidos pela sua quadrilha. Tanto que era nas entradas do Parque União, na Avenida Brasil, que se concentrava uma multidão de usuários, que pagavam pelo produto, mas não tinham permissão do criminoso para entrar na favela. Segundo informações de moradores, Alvarenga achava que a aparência maltrapilha dos ‘zumbis’ que consumiam crack espantaria a freguesia que procurava a comunidade para comprar outras drogas.
Antes da entrada das forças de segurança na Maré, as comunidades dominadas por Alvarenga eram as maiores distribuidoras de drogas da facção. O faturamento semanal do criminoso somente com a venda do crack girava em torno de R$ 700 mil. No total, a quadrilha lucrava cerca de R$ 5 milhões por mês com as drogas.
Protegido por um bando fortemente armado — estima-se que a quadrilha tenha mais de 100 fuzis —, Alvarenga entra e sai do Parque União e da Nova Holanda quando quer. Segundo fontes da polícia, ele possui outros endereços fora da favela que servem como esconderijo, além de viajar com frequência para os Estados Unidos, onde gosta de arriscar o que ganha em apostas nos cassinos.
Sexta-feira, por exemplo, o traficante planejou uma megafesta na comunidade pelo seu aniversário. Nascido no dia de São Jorge, todos os anos o traficante promove um evento com comemoração dupla. Há informações de que para divertir os moradores e os comparsas, o criminoso teria contratado um conhecido grupo de pagode