Nesse dia o Santana havia acordado de mau humor, como se ele não levantasse assim sempre. Mas deixemos de lado essa implicância com esse policial exemplar e vamos direto ao ponto. Pois bem, um homem havia sido detido por embriaguez ao volante. Tão bêbado estava, que começou a esbravejar que todos naquela delegacia eram filhos disso e daquilo. A princípio, ninguém deu trela para as bravatas do preso.
Enquanto um agente formalizava o boletim de ocorrência, o delegado já ia ouvindo o condutor do flagrante. O Santana, que estava fumando um cigarro bem ali na frente da delegacia, finalmente ouviu um dos impropérios do detendo. Pra quê? Quase que imediatamente, ele jogou a guimba no chão e foi ver o que estava acontecendo. Arrastando seu corpanzil, entrou na delegacia e ficou de frente para o preso, que ainda gritava filhos disso, filhos daquilo.
— Cala essa boca! – Santana ordenou.
— Se você for homem, vem calar!
Todos ali observavam aquele bate-boca. O Santana, agora com essa plateia, não poderia deixar por menos e, então, tirou a arma da cintura e a entregou para o delegado, que olhou pasmo para o subordinado. Em seguida, o gorducho arrancou a camisa para, finalmente, entrar em luta corporal com o bêbado.
Lá estavam aqueles dois sujeitos prestes a se socarem. Todos ao redor, abismados com a situação, não tiravam os olhos da contenda. Todavia, o combate não aconteceu, pois todos começaram a rir, inclusive o preso, da enorme pança do Santana, pendurada sobre a virilha. Tanto é que o Pedro, um dos agentes, tentando segurar o riso, disse:
— Santana, meu velho, essa sua pança tá parecendo uma pochete.
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*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.