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Política, como o panelaço contra Dilma, dá o tom no desfile das escolas na Avenida Sapucaí

Clarissa Thomé, Fábio Grellet, Idiana Tomazelli, Roberta Pennafort e Carla Miranda

Os desfiles de Vila Isabel e São Clemente trouxeram de volta à Sapucaí na segunda-feira, 8, os temas políticos, já abordados na 1ª noite pela Mocidade, que usou Dom Quixote contra a corrupção e os desvios na Petrobras. A Vila contou a vida de Miguel Arraes e a São Clemente levou até panelaço. Já a inovação coube aos drones do Salgueiro, que saiu aos gritos de “é campeão”, e a uma Portela com carros renovados por Paulo Barros

Sem títulos desde 1984, a Portela foi a grande surpresa, com Paulo Barros trazendo suas alegorias animadas – incluindo Moisés indo no voo da águia até o Monte Sinai e soltando água na pista. As cores e as coreografias, que o tornaram famoso na Tijuca, também estavam lá. Até o enredo indicava: No voo da águia, uma viagem sem fim.

Logo no começo do segundo dia, a comissão de frente de Jaime Arôxa, da Vila Isabel, trouxe um cortejo fúnebre nordestino, com corpos carregados em redes, e a morte pairando sobre a avenida – um belo efeito da patinadora Telma Delelis, que não parecia patinar, mas deslizar. Para homenagear o centenário de Arraes, as mazelas sociais que ele enfrentou foram lembradas na avenida pela Vila: a seca, as moradias sobre palafitas, as dificuldades dos cortadores de cana, o analfabetismo.

A São Clemente, terceira a desfilar ontem, também trouxe crítica política, ao replicar, ao fim de seu desfile, os panelaços que tomaram o País no ano passado contra o PT e a presidente Dilma Rousseff. Seu enredo foi: Mais de mil palhaços no salão. Em duas alas de palhaços, as tampas de panelas deram o tom, assim como na última alegoria.

O tom político já havia sido sentido na avenida no domingo, durante o desfile da Mocidade. A escola falou de Dom Quixote de La Mancha e ousou ao comparar os moinhos enfrentados pelo personagem de Miguel de Cervantes aos percalços da vida do brasileiro; entre eles, a corrupção. A comissão de frente fazia alusão ao escândalo na Petrobras.

Já o Salgueiro lançou mão de drones – uma forma de ver o desfile “do alto” e combater “buracos”, acertando a harmonia. O enredo Ópera dos Malandros e o samba empolgaram a plateia e a escola encerrou o desfile aos gritos de “é campeão”. O mesmo reconhecimento teve a Beija-Flor, destaque da primeira noite. A escola homenageou Cândido José de Araújo Viana, o Marquês de Sapucaí, outro político influente durante o Império, que nomeia o sambódromo.

Crise – Como a Beija-Flor, todas as escolas haviam anunciado que este era um ano de contenção de despesas, uma vez que não foram encontradas fontes de patrocínio dos enredos na iniciativa privada nem em prefeituras e governos mencionados direta ou indiretamente. A Mocidade, no entanto, estava rica, e se sobressaiu.

Na Grande Rio, outra que adotou drones, tampouco havia sinal de crise. Mesmo sem o patrocínio esperado da prefeitura de Santos, cidade homenageada, a escola de Duque de Caxias fez um desfile luxuoso, com bonitos efeitos especiais. Os coreógrafos Priscilla Mota e Rodrigo Negri foram à Argentina buscar a tecnologia para uma imensa bola de futebol, que era inflada e encobria a Fonte de Itororó.

A Tijuca, luxuosa, fez seu desfile sobre agricultura para arquibancadas já bem vazias. A Estácio de Sá e a União da Ilha fizeram apresentações medianas.

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