Com desafios cada vez maiores e cobranças sociais de implementação urgente, o mundo está em constante transformação. É uma renovação de incentivo prático e teórico em quase todos os setores da vida humana. A ordem é buscar excelência capaz de acompanhar o desenvolvimento intelectual e tecnológico do cidadão do planeta. É o tic-tac do TikTok interagindo em permanente evolução. É o homem agindo e pensando diariamente a respeito do que pode ser melhorado na sensível relação entre os povos. Dormimos e acordamos com a clara sensação de que algo novo está para acontecer.
Às vezes nem tão novo. Por exemplo, quando acreditávamos que tudo estava tão cristalino como a vitória antecipada de Donald Trump na disputa pela Casa Branca, eis que o caquético Joe Biden renuncia e põe lenha em uma fogueira quase apagada. Pior do que a sigilosa estultice do presidente brasileiro em defesa do ministro de Minas e Energia foi a repentina negritude das telas azuis dos computadores. Ainda mais surpreendente foi ouvir do ditador Nicolás Maduro que, caso ele não vença as eleições do próximo dia 28, haverá um banho de sangue e a Venezuela corre o risco de virar um Brasil. Qual Brasil? O de seu parceiro de escuridão e de balbúrdia ou o de seu ex-parceiro democrata?
É claro que a resposta dependerá do amigo ou do familiar a quem será dirigida pergunta. Eu não teria dúvida. Também não tenho dúvida de que, nesse mundo louco, tudo é possível, menos imaginar que uma potência se transforme em uma porcaria do tipo da que tínhamos até bem pouco tempo. A tal evolução a que me refiro não impediu que, de repente, um apagão cibernético recolocasse a Terra na Idade da Pedra. Foi rápido, mas assustador. Serviu para que sábios serviçais e fanáticos se tocassem de que nem tudo que reluz é ouro no mundo globalizado. As 12 horas de caos tecnológico por pouco não nos leva de volta aos Cem anos de solidão.
Do apagão à Biden e às insanidades de Maduro, acontece de tudo em todo canto, menos na política mundial, notadamente naquela que se processa no Brasil. Além da irracional repetição de nomes, a falta de argumentos convincentes para satisfazer o eleitorado sobre a grandeza dos candidatos acaba contribuindo para a manutenção da mesmice. As anunciadas reformas que nunca saem do papel se assemelham às trevas digitais. Faz décadas nada se cria para iluminar a cabeça de nossos políticos, cada vez mais artificiais e incapazes de apagar a imagem de ratazanas e de salteadores do dinheiro público.
O novo na política é tão velho como a Arca de Noé, cuja baldeação no Brasil permitiu o desembarque de uma ou duas dúzias de animais com alguma sabedoria, ao mesmo tempo em que despejou dezenas de milhares de parasitas e sanguessugas que, quando morrem, deixam crias ainda piores. São os representantes do apagão político-partidário que escureceu de vez o céu de Brasília, espalhando nuvens negras pelo Distrito Federal, pelas 26 capitais e pelos 5.568 municípios do país. Mudar o atual quadro é torcer pela reencarnação do cosmonauta russo Yuri Gagarin, primeiro ser humano a descobrir que a terra era azul. Quem sabe consigamos inventar uma super nave capaz de levar todos os parlamentares e candidatos a futuros representantes do povo.
Quem sabe assim eles percebem que azul deveria ser a cor do que não existe mais na política nacional: ideias, projetos e discussões a respeito do que realmente é importante para a evolução do Brasil. Enquanto o sonho não se realiza, os eleitores perdidos no espaço bem que poderiam embarcar em uma Enterprise futurista e, antes de um novo apagão cibernético, pesquisar quem são e o que já fizeram os postulantes a cargos políticos. É a única chance de se expurgar mitos para Marte, implodir os sigilos impostos por Mercúrio, evitar a explosão de Plutão, enviar os lunáticos “patriotas” para Urano e devolver para os árabes os anéis de Saturno. Quem sabe assim, com a ajuda do rei Netuno, os políticos de mentes e de almas negras juntam o tic-tac com o TikTok e descobrem definitivamente que o eleitor brasileiro é azul. Nesse dia, provavelmente deixaremos de ser ameaçados por apagões nas telas e na democracia.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978