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Pecador fofoqueiro

Político-pastor não é santo e só faz milagre do dízimo

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior* - Foto Antônio Cruz/ABr

Na Bíblia não há referências sobre a aparência de Jesus, o que gera mistérios insolúveis a respeito das feições Dele. É o mesmo mistério que cerca o dia a dia dos chamados crentes. Como afirmam os sábios, nem todo evangélico é um cristão. Há os sérios, os corretos, os que decidem ser cristão por dom. Como não existe positivo sem o parceiro antagônico, há os que se utilizam da cegueira espiritual para perceber os pecados de todos, menos o seu. São os que julgam os pecados alheios somente porque a forma deles pecarem é diferente da sua.

Resumindo a ópera antes mesmo do fim, a hipocrisia é a arma dos falsos cristãos. Tenho minha religião e respeito todas as demais. Como diz o ditado, cada macaco no seu galho. Portanto, nada tenho contra os neopentecostais. Inqualificáveis são somente aqueles que espalham mentiras, caluniam o próximo, julgam a todos, mas se acham santos. A esses eu diria que o falso crente é igual ao Diabo. Não tenho vocação para perseguições. O que não posso – e não devo – é esconder o óbvio. E não devo porque na terra, particularmente no Brasil, há muitos falsos profetas do tipo moralistas de plantão vestidos de peles de cordeiro. No fundo, porém, não passam de lobos devoradores.

Quem não leu ou ouviu nesse fim de semana que o traficante “evangélico” Peixão determinou o fechamento das igrejas católicas de sua comunidade no Rio de Janeiro? E que no mesmo ato maquiavélico, ele proibiu o funcionamento de terreiros de matrizes africanas? Talvez os cegos e surdos. É ou não é coisa do demônio? Nas últimas semanas, meses e anos, a recorrência de fatos negativos envolvendo pastores evangélicos é assustadora. Entre prisões por estupro de vulneráveis e pedofilia, os casos mais recentes envolvem cristãos e cristãs que confundem marido ou esposa dos outros como presentes de Jesus. Essa confusão normalmente gera disparates tresloucados e, com a naturalidade de um hipopótamo, são usados em defesa própria.

Lembro de uma vizinha flagrada entrando em um motel com o vizinho. Questionada pelo marido, ela se limitou a dizer que estava orando com o sujeito e que Jesus estava na cama entre os dois. Coitado do Mestre. Além de ser obrigado a “engolir” tais asneiras e a tolerar os falsos cristão, diariamente é convocado a mostrar os dois lados da vida às pessoas que pregam a moral e os bons costumes no seu dia a dia, mas raramente praticam a moral que elas defendem e julgam. Leigo em relação às entranhas das igrejas evangélicas, o que poderia dizer é que não existe cristão sem caráter. O que existe são pessoas sem caráter dizendo ser cristãos. Diria também que falar do pecado do próximo não transforma ninguém um santo. Apenas em um pecador fofoqueiro.

Reitero que, como em qualquer religião ou segmento social, há os bons e os ruins. Nem todos exigem dos demais o que ele nunca pode ser. Todavia, tenho visto e ouvido muitos que dão bons conselhos porque não conseguem dar bons exemplos. Os parlamentos brasileiros estão cheios deles. Esses pertencem ao grupelho denominado falsos moralistas, pois adoram apedrejar as vidraças alheias, mas vivem varrendo seus deslizes para debaixo dos tapetes verde e azul do Congresso Nacional, assembleias legislativas e câmaras municipais.

Talvez nunca consigamos separar o joio do trigo. Entretanto, basta um mínimo de inteligência para impedir a aproximação de aproveitadores, notadamente os que têm pretensões políticas e que vivem de aparência porque ainda não aprenderam a ter conteúdo. Até aí, meno male. Deixem de pagar o dízimo e cortem o mal pela raiz. Difícil é quando os neopentecostais viram políticos acima de qualquer suspeita e apoiam fervorosamente um suspeito acima de qualquer política. Pior ainda é assistir a lavagem cerebral dos pastores sobre seus acompanhantes, transformando-os em revoltados seguidores do chefe supremo da maldade. Aí, nem Jesus consegue conter os diabos da Terra do Sol.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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