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Político precisa entender de vez poder do voto

Ainda criança, aprendi nos livros de História que, em 22 de abril de 1500, o português Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil. Embora tenha passado adiante dessa forma, sempre questionei o fato de se descobrir um rincão que já era habitado por índios. A serviço da coroa espanhola, no dia 3 de agosto de 1492 o genovês Cristóvão Colombo içou as velas para iniciar sua viagem no caminho para as Índias. Somente algum tempo depois da viagem de exploração de Colombo, o navegante italiano Américo Vespúcio atravessou o oceano Atlântico. Entretanto, ele acabou “herdando” o título de descobridor da América por ter sido o primeiro a afirmar e divulgar que as terras alcançadas pela expedição do genovês pertenciam a um novo continente. Coisas dos geógrafos, topógrafos e poderosos da época.

Contradições históricas à parte, a disputa entre espanhóis e portugueses (as duas potências do período) acabou gerando um meridiano (uma linha de demarcação), denominado Tratado de Tordesilhas, assinado em 7 de junho de 1494. O mundo foi divido em dois. Por obra do destino, o Brasil acabou nas mãos da monarquia portuguesa. O que sobrou de ruim ainda hoje é determinante na política, economia e nas negociações entre quem manda e quem obedece. Sou neto de um honrado cidadão da terra de nossos primeiros colonizadores. Aprendi com ele a verdade sobre a tese de que o Brasil é um país arruinado pela colonização europeia. Claro que, em determinado período, a Corte portuguesa solapou a colônia. Entretanto, as queixas relativas ao legado de Portugal é muito mais decorrência de nosso complexo de vira-latas do que propriamente da corrupção lusitana

Eles foram embora há séculos e, portanto, não têm culpa do afloramento e da consolidação desavergonhada da corrupção no Brasil. É verdade que a permissividade dos patrícios virou vício, mas não é justo culpá-los eternamente por nossa inclusão na lista de nações mais desafortunadas do planeta. É mais fácil para alguns creditar aos portugueses o aprendizado da usurpação, da corrupção e do desgoverno. É mais um dos clichês de quem tem complexo de vira-lata (e nós temos). Dividido por colorações partidárias e nuances ideológicas, o brasileiro historicamente tem dificuldade em aceitar questionamentos aos artistas, jogadores de futebol e políticos de sua preferência. Morrem afirmando que eles são os melhores e são capazes de matar os que não acreditam na honestidade ou na inocência de seus ídolos.

Médicos de várias correntes têm dado a esse estágio o apelido de paralisia mental. Não tenho vocação para historiador, mas gosto de viajar no tempo quando necessito de razões para tentar explicar como um país tão rico consegue ter uma classe política tão pobre de conceitos, propostas, propósitos e, sobretudo, de pudores. Pior é concluir sobre a falta de valores de um povo sofredor e que, preocupado exclusivamente com seu umbigo, aceita com normalidade e sem luta deboches, negacionismos, mortes em série, fome, desemprego, divisionismo e corrupção a céu aberto. Os portugueses são mais aguerridos e muito mais patriotas. De patinho feio da Europa, hoje o pequeno país da Península Ibérica é considerado uma das economias mais sólidas do continente. Para isso, tiveram de ser bravos.

Em abril de 1974, o povo lusitano se uniu e, com ajuda dos militares de bom senso, pôs fim aos 41 anos de ditadura salazarista. Com raríssimas exceções, os eleitos no Brasil lembram o meridiano de Tordesilhas. Vivem “enclausurados” em gabinetes bem decorados, preferem a ostentação e o poder eterno. O último segmento em que eles pensam é justamente o desvalorizado eleitor. Ao contrário dos artistas, fazem questão de estar onde o povo não está. Só procura quem os elege naqueles dias. Passou do tempo de nos descobrirmos como povo, como cidadãos. Tenho me feito a mesma pergunta diariamente: o que fazer para conduzir o maior número de seres à iluminação, à verdade e à vida em comunidade?

Está na hora de despertar a humanidade para a liberdade. Ser livre é conseguir flutuar entre a diversidade e a multiplicidade, sem perder a identidade. É preciso celebrar as diferenças e viver com respeito. Presidentes, governadores, deputados e senadores prometem, não cumprem, ganham, perdem eleições e desaparecem como surgem. Nós ficamos e seremos obrigados a conviver. Eles não pensam em amizade. Só querem votos. Portanto, não esqueçamos que discurso de ódio não é liberdade de expressão. Os portugueses nos tiraram muita coisa dourada, mas não conseguiram tirar a memória nem a força do povo. Reitero que não é culpa de nossos “descobridores”, mas boa parte dos políticos brasileiros se acha membro vitalício da Corte Imperial lusitana e ignora o poder do voto. Xô turma sem alma. Como no samba enredo da Portela de 1983, “…do índio à nobreza, só a beleza da ressureição”.

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