João Moura
“Penso, logo existo.” Essa é a máxima do Filósofo René Descartes. Diferentemente dele, alguns políticos brasileiros sem noção querem o contrário: uma Escola sem partido. Cinismo?! Ignorância?! Fiquemos atentos a mais essa moda!
Não bastasse a ameaça de “entregar as escolas para as OSs”, recentemente tivemos discussões Brasil afora sobre a imposição “necessária” de uma escola sem partido. Muitos são os defensores e maior ainda são os críticos desse delírio de alguns parlamentares. Escola tem que ter partido, sim! Só assim seremos indivíduos melhores.
A educação cidadã passa pela escola. Ela tem que tomar partido. Partido da Educação. “Escola sem partido” é ferramenta perigosa, alienante. Não interessa de qual lado parta a defesa dessa tese de uma escola sem partido. Seja de direita, centro ou esquerda política. Isso é golpe! Professores devem “doutrinar” intelectualmente estudantes com o foco principalmente na ética (teoria e prática), na escrita correta, na ciência progressista e na reflexão crítica.
Ao invés de discutirem (e resolverem) a falta de investimentos estrutural na educação e de valorização dos educadores no Brasil, o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais se rendem a panaceia ideológica-ditatorial de uma “Escola sem partido” (ESP). Debates acalorados nas redes sociais e principalmente no movimento sindical estão se proliferando.
Políticos incautos, compromissados com uma politicagem sem precedentes, chamam de processo de ideologização dentro da sala de aula por professores oposicionistas à suas ideologias e práticas políticas belicosas. Uma das proposições em tramitação nessas Casas de Leis prevê até previsão de cadeia para docentes que “tomam partido” dentro da sala de aula.
A escola sem partido é uma verdadeira caçada que supera inclusive a época da ditadura instalada no Brasil. É impossível para qualquer país promover em suas escolas (seja pública ou privada), a neutralidade política, ideológica e religiosa (mesmo em um Estado laico como se diz o nosso). Mesmo que sua política pública seja de “pluralismo no ensino”.
É necessário deixar claro que o professor não pode nem deve fazer o que quer em sala de aula. Porém, daí querer a instalação de uma escola sem partido é, no mínimo, reduzir a escola – e seus educadores, a um mero espaço de acumulação de gente alienada, tolhida e doutrinada na aceitação do imposto pela tirania do Estado Leviatã, belicoso social e politicamente.
A escola precisa – especialmente e principalmente em época de eleições -, ser espaço para a discussão de todas as ideologias e de todos os partidos, combatendo, inclusive, professores que vivem fechados em seu mundo ideológico-político-ditatorial. Até porque estudantes não são desprovidos de ideias, pensamentos próprios. E esses “professores ideologizados”, se é que existem (?!) que tentarem transformar salas de aula em palanques vão se chocar com aqueles que não aceitam ser manipulados.
A postura dos defensores da Escola Sem Partido, incluindo aí congressistas, além dos parlamentares estaduais e municipais, bem como os do Distrito Federal, é histérica e com graves riscos para a liberdade, para a educação e para a prática da cidadania. A independência de pensamento crítico é uma meta fundamental da escola. E essa meta depende, sim, de professores que trabalham com independência, com valorização e recebem investimentos estruturais nos ambientes escolares.
O espaço da escola é para ensino e aprendizagem, reflexão e crítica. E deve a escola tomar partido sim, de defesa de uma educação compromissada com o futuro e com o desenvolvimento intelectual dos cidadãos.